10. encontro de infância

38 2 0
                                    

Paro em frente ao ginásio, um prédio robusto de tijolos expostos, onde as janelas grandes revelam a movimentação frenética no interior. O som dos golpes de luvas contra sacos e as vozes animadas de lutadores ecoam, criando uma atmosfera pulsante. No entanto, ao contrário do que pensei, um sentimento estranho me invade, como se uma barreira invisível estivesse me impedindo de entrar. Fico alguns segundos encarando a entrada e, ao perceber que não consigo, pego meu celular.

Mando uma mensagem ao meu ex-treinador, avisando que estou aqui fora.

Segundos depois de a mensagem ser visualizada, vejo-o sair. Ele se destaca na multidão, com um sorriso largo e braços abertos.

- Quanto tempo, Faye! - exclamou, me abraçando com entusiasmo.

- Pois é, Wil - digo, estranhando o abraço e me afastando rapidamente, a insegurança pairando entre nós.

- Quer conversar aqui ou na minha sala?

- Na... sua sala - respondo, hesitante.

- Então vamos - ele avança, e eu fico parada, lutando contra o impulso de voltar atrás.

"Qual é o seu problema, Faye? É só entrar," penso, e percebo que ele parou.

- Algum problema? - pergunta, voltando-se para mim.

- Eu... Não. Vamos - me forço a entrar e respiro fundo, sentindo um aperto no peito.

O sigo até a sala dele, que fica nos fundos do ginásio. Assim que entramos, sou envolvida por uma atmosfera familiar, mas carregada de memórias. As paredes são adornadas com pôsteres de lutas históricas e fotos emolduradas de campeões, lembranças de glórias passadas. O ar é permeado por um leve cheiro de suor e couro, uma mistura que me faz sentir ao mesmo tempo nostalgia e apreensão.

No centro, uma mesa bagunçada abriga anotações, luvas usadas e um antigo troféu empoeirado, testemunha de vitórias esquecidas. Um quadro branco, rabiscado com estratégias e metas, ocupa uma das paredes. O espaço é pequeno e acolhedor, mas a desordem reflete a intensidade das vidas que ali passaram.

- Bom, fique à vontade - ele se senta na cadeira giratória, que range levemente sob seu peso.

- Ok... Quero saber se você tem as imagens do dia 1 de novembro. - Ele parece ponderar a minha pergunta por alguns segundos e, então, ri.

- É claro que eu tenho. Mas tem um preço.

- Preço? - franzo a testa.

- Quero mil dólares ou ser seu treinador novamente.

Pisco algumas vezes, tentando acreditar no que acabei de ouvir.

- Eu não vou voltar a lutar, Wil - levanto os braços, cruzando-os em sinal de negação.

- Então me pague. Você não sabe como é investir na carreira de alguém e ela desistir na primeira oportunidade. - Dou um sorriso sarcástico. Suas palavras não me afetam como ele queria.

- Eu não te conheço mais - murmuro, analisando-o com desconfiança.

- Mas tá. - Volto a me sentar. - Você quer dinheiro? Ok, mas um milhão não.

- Tá, vou abaixar para mil dólares - ele cruza os braços, me encarando.

Bufo e assinto.

- Beleza. Mas primeiro quero ver a fita.

- Claro. - Ele levanta e começa a procurar algo na gaveta. Depois, caminha até uma porta e a destranca.

Me aproximo da sala, que agora está iluminada. O espaço é pequeno, com uma tela de projeção e algumas cadeiras de plástico, que exalam um leve odor de limpeza. As paredes são de um azul desbotado, e um ventilador gira lentamente, aliviando o calor do ambiente abafado. A expectativa no ar é palpável.

- Espero que você repense sobre voltar a lutar - ele diz, mexendo em umas caixas. Fico em silêncio, absorvendo suas palavras.

Na tela, a luta começa a rodar. Vejo a mim mesma no ringue, a adrenalina pulsando enquanto eu ganho. A cada soco, uma onda de saudade momentânea da sensação de vencer. No segundo round, estou dominando a luta, até que o vídeo pausa. Olho para Wil, meu coração acelerando.

- Já viu que essa é a fita que você precisa.

- Sim... mas quero ver quem me deu a facada.

Ele avança e mostra o momento. Um cara invade o ringue, e tudo se transforma em caos. O vídeo é parado novamente.

- Você pode analisar na sua casa? Tenho compromissos - diz, sorrindo, enquanto me fitam com um olhar que me irrita.

"Filho da puta," penso, e retiro a fita da mesa, levantando-me.

- Vou assistir primeiro e, só assim, pago você - digo, forçando um sorriso.

- Espero que seja logo! - Assinto.

- Obrigada. Por enquanto, é isso. - Saio da sala e dou de cara com algumas pessoas treinando, suas expressões concentradas e focadas.

Suspiro com os olhos fechados, lutando contra as lembranças da luta que quase me destruiu, e praticamente saio correndo para a saída.

Ao entrar no meu carro lembro da Cléo. Uma amiga de infância que não vejo a anos. Penso em ligar pra ela,mas é melhor fazer surpresa.

Talvez seja uma desculpa para não chegar em casa e enfrenta a dura realidade do que aconteceu naquele dia?É com certeza.

Paro em frente à uma casa do portão verde. Desligo o carro e tiro o cinto saindo.
Me aproximo da casa e toco a bato no portão. Ouço um cachorro latir avisando que tem alguém chamando e em seguida ouço passos. Me afasto um pouco do portão para ela abrir.

- SURPRESA! - Grito vendo ela da um pulo pra trás e ri enquanto ela me encara como se tivesse vendo uma mina de ouro.

- Faye... - Ela murmura ainda me encarando.

-Eu mesma,não vai me abraçar não?- Ela me abraça forte fazendo com que a gente quase caia.

Eu retribuo com uma mão,já que a outra está ocupada.

- Que saudade.- Ela murmura e se afasta me analisando.

-Trouxe pra você.- Mostro o buquê de rosas amarelas com lírios.
-Que lindo.- Ela pega sorrindo. - Obrigada Faye. Eu amei.- Nos abraçamos de novo e em seguida entramos.

- Eu trouxe também petit gateu que você gosta.- Entrego a sacola.
-Obrigadaaa. ta me dando presente pra eu não reclamar da sua ausência?
- Ela fecha um pouco os olhos e eu ri.
-Também,perdão. me sento no sofá.

Começamos a conversar sobre o quase casamento dela. Eu fui convidada mas foi cancelado antes mesmo do dia chegar.

- Eu realmente achei que vocês ficariam juntas.- Falo pensando no dia que elas se conheceram. Stery era professora na faculdade dela.

- Também,estava enganada ela me traiu.- Olha o chão o encarando e eu a encaro.

- sério?- Ela assenti.

- Eu descobri 4 dias depois do pedido. E foi de uma maneira que...não sei explica. Eu estava tão animada de finalmente nos casar.

- Eu sei. Que kenga viu.- Digo negando e ela ri.
- Você tá ficando velha. Quem que chama as pessoas de kenga hoje em dia?
- ...Você me respeita rapariga.- Jogo o travesseiro nela que desvia e mostra a língua.
- E o seu namoro?- Ela joga o travesseiro de volta.

- Foi pro béléleu.- Rimos e explico resumidamente o motivo do término.

MINHA AFILHADA IRRESISTÍVEL /LÉSBICA FAYE PERAYAOnde histórias criam vida. Descubra agora