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•Faye•

Acabei de sair do banho quando Cléo me ligou.

-  Preciso te contar uma coisa. - Sentei na cama, secando meu cabelo com a toalha.

- Pode falar.

- É... a sua... - Antes que ela terminasse, um barulho muito alto ecoou pelo apartamento.

- Espera, Cléo. Depois te ligo.

- Mas Faye, eu preciso... - Deixei o celular de lado e saí do meu quarto, o coração acelerando.

-  Rio, tá tudo bem? - O silêncio que seguiu foi ensurdecedor.

Fui até a porta do quarto dela e não a vi ali. A ansiedade começou a tomar conta de mim.

- Rio? -Gritei, entrando no quarto e a encontrei caída de barriga para baixo. Um frio na barriga se instalou enquanto me aproximava. Tentei acordá-la, mas ela não se movia.

Peguei-a no colo, com o coração disparado, e a coloquei na cama. Chequei sua respiração e, aliviada, fui ao meu quarto buscar o celular.

Voltei e falei com Cléo.

- Cléo, preciso desligar. Aconteceu uma coisa, depois conversamos, ok?

-Tá. - Ela disse desanimada e desligou.

Quando entrei no quarto de Rio novamente, vi que ela já estava com os olhos abertos.

- Ei, tá bem? -  Perguntei, me aproximando da cama.

- Estou... só foi um desmaio. - Ela parecia tão frágil. Sentei ao seu lado, preocupada.

- Tem certeza? Podemos ir ao hospital.

- Eu tô bem, sério. Não quero faltar no primeiro dia. - A determinação na voz dela me fez suspirar.

- TÁ bom então. - Olhei para o celular, que começou a tocar novamente. Atendi.

- Alô?

- Faye, é a Kene. Estava conversando com a Rio e ela parou de responder.

- Ela desmaiou, mas acabou de acordar. - Entreguei o celular para Rio.

Rio

- Oi, Kene?

- Aí que susto, garota! - Ela gritou e fiz careta, sentindo a dor de cabeça pulsar.

- Kene, eu tô bem. - Rir, tentando tranquilizá-la, mas era difícil ignorar o peso do que havia acontecido.

- Se continuar se sentindo mal, você não vai.

-Vou sim. - Rebati, embora soubesse que estava sendo teimosa.

- Vai nada. E para de ser teimosa, Rio.

- TÁ bom, Kene, você venceu. - Decidi não insistir. Era melhor evitar a discussão.

- Acho bom. -  Ela resmungou algo que não entendi.

- Vou desligar e ligo do meu celular.

- TÁ bom. -  Desliguei.

- Que exagero. - Neguei com a cabeça, tentando afastar a sensação de fragilidade.

Olhei para Faye, que me encarava, parecendo perdida em pensamentos.

- Faye? -Cutuquei-a.

- Uh? - Ela levantou.

-Não vai trabalhar? - Ela olhou o relógio com preocupação.

- Vou... você vai ficar bem sozinha? - Cruza os braços, ainda insegura.

- Vou sim. - Sorri, tentando convencê-la. "Espero que eu fique bem", pensei. Era muito azar ficar doente no primeiro dia de aula.

- TÁ bom, qualquer coisa me liga. - Assenti enquanto a via sair do quarto.

Passei a tarde falando com Kene por chamada. Ela insistia em me levar ao hospital, mas só prometi que iria no sábado para ela parar de falar sobre isso.

-  Vou comer e arrumar as coisas pra faculdade.

-Tá, eu também. Me liga qualquer coisa.
-  Uh! Não se preocupe. Beijos. - Fiz som de estalo com a boca.

- Beijos. Eu amo você, teimosa. - Sorri, aliviada.

-Eu também amo você. - Disse, dando uma risada antes de desligar.

O relógio marcava 3:40 da tarde. Não estava com tanta fome, mas lembrava que desmaiei e não queria que isso acontecesse novamente.

Levantei da cama, arrumei o espaço e fui à cozinha. Abri a geladeira e vi um bolo. Cortei dois pedaços e fiz um chocolate quente; estava frio hoje.

Voltei ao quarto, liguei a TV e comecei a comer enquanto assistia ao jornal.

Depois, peguei minha mochila, checando se não estava esquecendo nada.

- Cadernos, lápis, remédios... - Fui falando sozinha, olhando o conteúdo da mochila.

- Escova de dente. Ninguém merece bafo depois da janta. - Pensei alto e fui ao banheiro. Peguei minha escova, a pasta de dente e uma maleta de maquiagem.

Enquanto o jornal ainda passava, uma notícia chamou minha atenção: falava sobre alguém desaparecida.

-Caso você veja esse homem ou essa garota, ligue imediatamente para os números passando na tela. - Ignorei a mensagem e coloquei o que havia pegado na bolsa, menos a maleta.

Após arrumar minha roupa, deitei na cama, vendo que ainda eram 4:09 da tarde.

Pesquisei vagas de emprego no Google. Precisava pagar o quarto e ter um dinheiro para emergências. Enviei currículos para algumas empresas e, ao levar o prato e o copo à cozinha, notei uma porta entreaberta.

Curiosa, entrei no quarto e vi várias telas com pinturas de pessoas que nunca tinha visto.

- Meu Deus, ela desenha tão bem. - Sussurrei, admirando o talento de Faye.

Olhando as obras, pensei se ela se importaria de eu usar uma tela. Fiquei tentada a ligar para perguntar, mas, antes que pudesse decidir, peguei uma tela em cima do armário. Desci da escadinha, animada para desenhar.

MINHA AFILHADA IRRESISTÍVEL /LÉSBICA FAYE PERAYAOnde histórias criam vida. Descubra agora