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Eu deveria ter queimado aquele velho...

Eu deveria ter queimado aquele velho

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[Presente]

A chuva caía como uma cortina pesada, encharcando tudo ao redor. As gotas batiam no chão com força criando poças de água no asfalto. Morgana estava imóvel no meio do temporal, seu corpo enrijecido, as mãos apertando fortemente as de Khay1'zel enquanto o som da água reverbera em seus ouvidos como um tambor surdo. Cada gota parecia uma memória, uma cicatriz que ela tentava enterrar todos os dias.

E quando percebeu que as gotas cessaram, seu olhar sobe para cima tendo a visão de Khay'zel colocando seu terno sobre sua cabeça impedindo as gotas de atingirem seus corpo.

Khay'zel- Achei que o tempo seria perfeito para dançar, não que te faria ficar assim...- Sorri sínico parecendo se divertir com a situação.

Morgana o olha de soláio, a água escorrendo pelo rosto misturando-se com o suor frio que percorria sua espinha. Ele, por outro lado, parecia completamente à vontade. Como se a tempestade fosse apenas mais uma oportunidade para brincar com seus nervos.

Morgana- Isso não é um jogo, Khay'zel.

A voz dela saiu mais baixa do que queria, firme, mas com uma nota de vulnerabilidade que ela odiava. O som da chuva a fazia sentir como se estivesse voltando no tempo, presa nas sombras de algo que ela queria esquecer.

Khay'zel deu um passo em sua direção, os movimentos dele elegantes, o corpo se movendo entre as poças como se fossem parte de sua coreografia. A chuva não o incomodava; ao contrário, parecia dar-lhe mais energia de vontade para atormenta-la.

Khay'zel- Para você, nada nunca é um jogo, não é?- Ele se aproxima segurando em sua cintura, os olhos cravados nos dela, desafiadores.- Sempre tão séria... tão presa no passado.

Ela sentiu a respiração vacilar. A cada gota que caía, as lembranças pareciam mais nítidas. O som da chuva a fazia lembrar da noite que preferia nunca ter vivido, do momento em que não havia ninguém para ajudá-la. Sua mente estava prestes a ceder àquela escuridão que a consumia sempre que o céu começava a chorar sobre suas feridas abertas.

Morgana- Cala a boca...Você não entenderia.

Khay'zel riu, e o som da risada dele cortou o ar pesado entre eles, desdenhoso, carregado de sarcasmo.

Khay'zel- Entender? Oh, eu entendo muito bem, querida. Você é o tipo que se esconde atrás de seus traumas. É confortável ser a vítima, não é?

Os olhos de Morgana se estreitaram, seu corpo tensionando ainda mais. Ela queria bater nele, fugir, queria sair debaixo daquela chuva que a sufocava, mas sua raiva crescia a cada palavra dele. Ele nunca entendia. Nunca levava nada a sério.

Morgana- Eu não sou vítima. Não mais.

Khay'zel a puxou para mais perto derrubando o terno de sua cabeça, suas mãos a posicionaram para a dança com um sorriso libertino, como se estivesse realmente apreciando o momento com certa diversão. A água encharcava sua camisa social branca que grudaram em seu corpo demarcando seu corpo escultural, mas ele não parecia se importar.

Khay'zel- Então prove, Lycoris. Prove que você é tão forte quanto pensa. Dance comigo. Esqueça o que a chuva te faz sentir. Ou... vai continuar deixando suas cicatrizes controlarem você?"

Morgana o encarou, seu coração martelando contra o peito, lutando para se manter firme. Havia algo na maneira como ele falava, aquele sarcasmo afiado que cortava seu orgulho, como se ele soubesse exatamente onde atingir para fazê-la duvidar de si mesma.

Morgana- Não é tão simples.

Khay'zel se aproximou colando seu corpo ao dela, deixando as gotas molharem seus corpos como um só, tão perto que ela podia sentir o calor de seu corpo mesmo com a chuva fria. Ele levantou uma sobrancelha, inclinando-se levemente, seus lábios curvados em um sorriso que alcançavam os batimentos de seu coração.

Khay'zel: Nada nunca é simples para você, não é?

Ele ergueu uma mão, tocando seu queixo suavemente, forçando-a a olhá-lo nos olhos.

Khay'zel- Ou você se deixa afogar... ou dança na tempestade. Dependendo de sua escolha...- Morgana o olhou por um longo momento, sentindo o peso de suas palavras, a chuva continuando a cair ao redor deles como um lembrete de tudo o que ela estava tentando esquecer. Havia algo no olhar dele, uma mistura de desafio e uma promessa sombria, que a fez hesitar.- Eu vou estar ao seu lado.

Finalmente, ela respirou fundo e, sem dizer uma palavra, deixou-se ser puxada por ele, começando a se mover, seus saltos batendo na água e a chuva caindo pesadamente sobre seus corpos. Não era fácil. A chuva ainda a sufocava, ainda trazia de volta lembranças que ela queria enterrar no mais profundo esquecimento. Mas, por um breve momento, ela deixou que o peso da tempestade fosse dividido entre os dois.

E, talvez, só por um segundo, ela sentiu que poderia dançar na tempestade sem se afogar. Ou poderia se afogar sabendo que teria alguém para tirá-la de lá. Que Khay'zel a faria dançar sobre as águas do seu passado.

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Depois de dançarem por horas sem ligar de quanto tempo demorariam a voltar ou sair da chuva, os portões da grande mansão são abertas, Morgana é segurada nos braços de Khay'zel dormindo calmamente pela primeira vez, sem pesadelos, nada. Apenas o vislumbre da calmaria de um jardim florido em dia de sol.

Khay'zel admirava a beleza de seu rosto, a cicatriz poderia ser algo nojento ou perturbador para outros. Mas para ele, era como uma pincelada de perfeição que marcava a história dela, a história ao qual ele faria de tudo para estar, nem que fosse apenas por alguns segundos.

Suas mãos se apertam no pequeno corpo em suas mãos ao ter os olhares de seus subordinados em sua direção. O medo nos olhos de cada um o fez apenas suspirar e olhar para cada um.

Khay'zel- Digam logo o que descobriram.

-... É sobre o senhor Moretti, Marcus Moretti...ele mandou uma carta...para uma das casas na Itália...

- Na carta diz que haverá um encontro de pai pra filho, está marcado para 4 dias. E se não aparecer...ele fará uma visita especialmente em cada propriedade do senhor...

Khay'zel ri amargamente e passa por eles indo até seu quarto. Ao deixar Morgana confortável no colchão, o mesmo tira os saltos de seus pés e a cobre beijando sua testa e saindo para fora do quarto.

E nos dias em que há chuva, também haverá sol. E onde há sol, haverá a escuridão que cobrirá a luz de cada um que já sonhou pela felicidade.


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Lírios de Sangue - Lâminas nas SombrasOnde histórias criam vida. Descubra agora