Millie.
Tirei minhas roupas encharcadas e as joguei em um canto qualquer do banheiro; amanhã eu cuidava disso, agora não tinha cabeça para nada.
Liguei o chuveiro, sentindo a água fervente aquecer minha pele e meus ossos, que estavam implorando por aquilo. Aquela chuva gelada provavelmente me resultaria em um resfriado.
O choro continuava a cair, e o fato de saber que Billie estava do lado de fora do banheiro com a Odessa partia ainda mais meu coração.
Não conseguia acreditar. Não conseguia acreditar que tudo havia desmoronado e que meus pais haviam descoberto a verdade sobre mim, sobre quem eu estava descobrindo ser.
Sentia que o chão estava desabando sobre meus pés, e, quando pensava em algo para resolver tudo aquilo, nada vinha na minha cabeça.
Batidas rápidas e levemente firmes ecoaram pela porta, e, segundos depois, Billie me chamou.
- Millie? Abre aqui, linda. Tá tudo bem? — Sua voz transparecia um tom de preocupação, mas eu mesmo assim me mantive em silêncio enquanto a água quente caía sobre as minhas costas.
Não queria falar com ela. Não depois de vê-la fumando tranquilamente com a Odessa.
As batidas continuaram, e eu podia ouvir a voz de Billie ficando cada vez mais tensa do outro lado da porta.
- Millie, por favor, fala comigo. Abre essa porta. Eu estou preocupada.
A preocupação na voz dela, que antes teria aquecido meu coração, agora só me fazia sentir ainda mais dor. Lágrimas escorriam pelo meu rosto enquanto eu me pressionava contra a parede do box, sentindo o calor da água bater contra a minha pele, tentando, em vão, me aquecer de algo que era muito mais profundo. Eu queria que o som da água abafasse tudo, a voz de Billie, os pensamentos, a dor da rejeição que crescia cada vez mais dentro de mim.
- Eu não quero falar com você. — Minha voz saiu rouca, quase um sussurro, mas sabia que ela ouviria.
Do outro lado da porta, ouvi Billie soltar um suspiro pesado, e por um momento, achei que ela fosse desistir e ir embora. Talvez voltar para junto da Odessa, continuar de onde pararam, como se nada estivesse acontecendo. A simples ideia me fez o estômago revirar de raiva. Mas então, sua voz soou de novo, mais próxima da porta, como se ela estivesse se apoiando ali.
- Minha princesa, por favor... Eu já mandei a Odessa embora. Me desculpa não te avisar que ela veio aqui... eu compro minha maconha com ela, e ela veio trazer e acabou ficando. Me desculpa, Mill... me deixa entrar. Por favor, não me deixa do lado de fora assim.
Continuei em silêncio, enquanto o barulho da água abafava a maior parte dos sons do lado de fora. O calor ainda me envolvia, mas eu sentia um frio terrível por dentro.
Eu estava machucada demais para continuar me sentindo sozinha ali.
Saí do box sem me importar em molhar o chão do banheiro e rapidamente destranquei a porta, voltando para o chuveiro.
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Fascination | Billie Eilish
Fiksi PenggemarMillie Quint, é uma jovem de 21 anos que cresceu em Cambridge, Massachusetts, imersa na fé e tradições de sua família religiosa. Determinada a seguir seus sonhos, ela ingressa na prestigiada universidade de teologia em Boston, onde espera encontrar...