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Maiara

As horas se arrastavam, cada uma parecendo uma eternidade. A sala de espera do hospital era um local asséptico e desolador. O cheiro do desinfetante misturava-se com a ansiedade que pairava no ar. Os rostos de Marília e de minha mãe eram uma visão que eu queria evitar, mas não conseguia. Eles refletiam a mesma angústia que eu sentia, mas em um nível que eu não podia compreender.

Quando a porta se abriu, o coração disparou em meu peito. Um médico entrou, com um olhar grave que fez com que o ar ficasse preso na minha garganta. O mundo ao meu redor desapareceu. Só existia ele e a verdade que estava prestes a revelar.

— A paciente está estável, mas... — começou o médico, e as palavras que seguiam pareciam ecoar. — Ela sofreu um corte profundo nos pulsos e perdeu uma quantidade significativa de sangue. Precisamos monitorá-la de perto.

As palavras se desdobraram na minha mente, mas a essência da mensagem não se concretizava. Estável, mas... O "mas" era tudo o que importava. O que significava "estável"? Ela ainda estava viva, mas em que estado? Meu coração disparava, a adrenalina pulsando em cada veia, enquanto o medo e a culpa se entrelaçavam em um nó apertado em meu estômago.

— E quanto tempo...? — minha mãe começou, mas a voz dela falhou. A pergunta ficou pendurada no ar, tão pesada que mal podíamos suportar.

— Vamos precisar de tempo — disse o médico, e eu quase perdi o controle. O que significava tempo? Tempo para ela se recuperar? Ou tempo para nos despedirmos?

— Posso vê-la? — minha voz saiu num sussurro, quase inaudível. Eu precisava dela. Precisava vê-la. Precisava saber que ela estava realmente lá.

O médico hesitou, e eu senti um frio cortante percorrer meu corpo. Ele olhou para a porta do quarto e depois para nós, como se estivesse pesando as opções. Finalmente, ele assentiu, mas não sem antes nos alertar.

— Ela pode não estar em condições de ter uma conversa. O estado dela é delicado.

Aquilo não importava. Eu só precisava estar ao lado dela. Eu precisava que ela soubesse que não estava sozinha. Que eu ainda estava aqui. Que ainda havia uma razão para lutar.

Quando entrei no quarto, a visão de Maraisa deitada na cama, pálida e fragilizada, quase me fez desmoronar. Ela estava conectada a uma série de máquinas que faziam barulhos constantes e estridentes, como se estivessem tentando mantê-la ligada a esta realidade. O cheiro de álcool e desinfetante era sufocante, e as paredes brancas pareciam se fechar ao nosso redor.

E então eu a vi. Minha irmã, minha gêmea. O rosto dela estava sereno, mas havia um vazio em seus olhos que me partiu ao meio. Era como se a vida que sempre brilhou nela estivesse apenas... apagada. Era uma imagem que não correspondia a quem ela era. A Maraisa vibrante, cheia de sonhos e risadas. A Maraisa que eu sempre conheci.

— Maraisa... — chamei, a voz trêmula, quase um sussurro. Senti lágrimas quentes escorrendo pelo meu rosto enquanto me aproximava da cama. Peguei a mão dela entre as minhas e, por um momento, a sensação de calor me trouxe um pouco de conforto.

Mas a realidade me atingiu com um golpe doloroso. A pele dela estava fria. O que eu esperava? Que ela acordasse e sorrisse para mim, dizendo que estava tudo bem? Que essa era apenas uma fase que estávamos passando? Eu sabia que não era assim. Mas precisava acreditar que ainda havia esperança. Que, de alguma forma, nós conseguiríamos superar isso juntas.

— Eu estou aqui, Metade — murmurei, mesmo que ela não pudesse me ouvir. — Eu nunca vou deixar você. Nunca mais.

A dor era avassaladora, mas havia uma chama de determinação dentro de mim. Não importava o que acontecesse. Eu lutaria por nós duas. Eu faria o que fosse preciso para trazer Maraisa de volta.

𝓡𝓮𝓵𝓪𝓬̧𝓸̃𝓮𝓼   𝓠𝓾𝓮𝓫𝓻𝓪𝓭𝓪𝓼Onde histórias criam vida. Descubra agora