XVII

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Marcos César

Eu fiquei parado à porta do quarto, sem coragem de entrar. A imagem da Maraisa deitada naquela cama, tão pálida, tão quieta, parecia surreal. Era estranho vê-la assim, tão vulnerável. Ela sempre foi a forte, a estrela brilhante da família, aquela que parecia indestrutível. Mas agora, de alguma forma, a realidade bateu como um soco no estômago. Minha irmã mais velha, a pessoa que eu sempre olhei com admiração, estava aqui, lutando pela vida.

Eu sabia que algo estava errado há algum tempo, mas nunca imaginei que fosse tão sério. Sabe quando você sente que tem algo fora do lugar, mas tenta não dar importância? Eu via a maneira como ela se isolava às vezes, o jeito que seu sorriso não parecia mais o mesmo, mas, na minha cabeça, era só uma fase. Todo mundo tem seus momentos ruins, certo? Mas eu estava errado. Estava muito errado.

Eu observava em silêncio enquanto minha mãe, Almira, e Maiara estavam ao lado da cama. As duas pareciam devastadas, e eu não sabia o que dizer ou fazer. Me senti impotente. Sempre fui o mais novo, o irmão que elas protegiam. Nunca precisei lidar com algo assim. E, agora, a pessoa que sempre me protegeu estava ali, quebrada.

Eu finalmente criei coragem e entrei no quarto, tentando não fazer barulho. Não queria interromper o momento delas, mas ao mesmo tempo, não conseguia ficar de fora. Caminhei devagar até o outro lado da cama e fiquei parado ali, olhando para Maraisa.

Ela parecia tão diferente. Aquela não era a Maraisa que eu conhecia. Minha irmã sempre foi a luz em qualquer lugar que entrasse. Eu me lembro de como ela me fazia rir quando eu era mais novo, de como ela estava sempre pronta para me proteger quando eu fazia alguma besteira ou quando os problemas da escola ficavam demais. E agora, era como se toda a força dela tivesse desaparecido.

— Ei — eu disse, minha voz saindo mais baixa do que eu pretendia. Ninguém respondeu, mas isso não importava. Eu só queria que ela soubesse que eu estava ali.

Eu me sentei ao lado da cama, observando seus olhos fechados. Queria acreditar que ela ia abrir os olhos a qualquer momento e nos dizer que tudo estava bem, que isso não passava de um susto. Mas, no fundo, eu sabia que não seria tão simples.

— Você vai ficar bem, Maraisa — sussurrei, mais para mim do que para ela. — Eu tô aqui.

Eu não sabia como lidar com aquilo. Nunca imaginei que algo assim pudesse acontecer na nossa família. Maraisa era a última pessoa que eu esperava ver assim. A pressão sobre ela sempre foi enorme, claro, mas eu nunca pensei que ela deixaria isso afetá-la desse jeito. Eu sempre achei que ela era... forte demais para isso.

E talvez seja esse o problema. A gente sempre pensa que as pessoas fortes não precisam de ajuda. Que elas conseguem lidar com tudo sozinhas. Mas agora, vendo minha irmã assim, percebi o quanto estava errado.

Ela estava sozinha, mesmo cercada de gente. E eu, como irmão mais novo, me senti culpado por não ter percebido isso antes. Eu devia ter perguntado mais, devia ter sido mais presente. Talvez, se eu tivesse feito isso, ela não estaria aqui agora, nessa cama, com todos nós à sua volta, tentando entender como chegamos a esse ponto.

— A gente vai te ajudar, tá? — Falei de novo, na esperança de que, de alguma forma, ela pudesse me ouvir. — Não importa o que aconteça, a gente tá com você.

Eu olhei para a Maiara e para minha mãe, que estavam tão silenciosas quanto eu. Todos nós estávamos carregando um peso, tentando processar o que estava acontecendo. Mas eu sabia que, juntos, iríamos encontrar uma maneira de ajudar Maraisa a se reerguer. Ela precisava de nós agora, e eu não deixaria que ela enfrentasse isso sozinha.

Eu nunca fui muito bom com palavras, mas eu sabia que, a partir daquele momento, eu estaria ao lado dela. Não importava o quão difícil fosse. Ela sempre foi minha irmã mais velha, minha protetora. Agora, era a minha vez de protegê-la.

𝓡𝓮𝓵𝓪𝓬̧𝓸̃𝓮𝓼   𝓠𝓾𝓮𝓫𝓻𝓪𝓭𝓪𝓼Onde histórias criam vida. Descubra agora