XIV

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Maraisa

As palavras de Maiara foram como um bálsamo para a minha alma ferida, mas também um lembrete do quanto eu a havia machucado. O alívio por tê-la ali, tão perto, tão viva, tão cheia de amor por mim, era misturado com a culpa insuportável. Como eu poderia ter pensado em deixar tudo isso para trás? De deixar ela para trás?

Por mais que meu corpo ainda estivesse exausto, eu lutei contra a fraqueza que me consumia e juntei todas as forças que restavam para segurar a mão dela mais firme. Senti seus dedos quentes e trêmulos entre os meus, e esse simples toque me conectou de volta à realidade. Eu estava aqui. E, por mais que ainda não soubesse como seria o caminho à frente, havia uma certeza: eu não caminharia sozinha.

— Eu vou tentar... — murmurei, minha voz rouca, quase imperceptível. — Eu vou tentar melhorar.

Os olhos de Maiara se fecharam por um momento, como se aquelas palavras fossem o que ela precisava ouvir para que um peso invisível fosse tirado de suas costas. Ela deu um leve aceno com a cabeça, e um suspiro de alívio escapou de seus lábios. Não era uma garantia de que tudo ficaria bem imediatamente, mas era o suficiente por enquanto.

— Um passo de cada vez — ela sussurrou, sua voz agora mais suave, como se estivesse falando comigo, mas também consigo mesma. — Nós vamos passar por isso juntas.

Eu queria acreditar nisso com a mesma força que ela acreditava, mas dentro de mim ainda havia o medo. O medo de que, mesmo com todo o amor de Maiara, eu não fosse forte o suficiente. O medo de que, em algum momento, eu pudesse ceder novamente à escuridão que me envolveu daquela vez. Mas, por mais aterrorizante que esse pensamento fosse, eu sabia que não estava mais sozinha. Maiara não iria me deixar cair.

Ela finalmente soltou minha mão, apenas o suficiente para passar os dedos delicadamente pelo meu cabelo, afastando as mechas bagunçadas da minha testa. O gesto era tão familiar, tão carregado de carinho, que me fez fechar os olhos por um momento, apenas para absorver aquele momento de calmaria.

— Eles vão querer falar com você mais tarde... os médicos. E talvez... — ela hesitou, mordendo o lábio, antes de continuar — talvez você precise falar com alguém sobre... sobre tudo isso.

Eu sabia do que ela estava falando. Teria que enfrentar terapeutas, médicos, e uma série de pessoas que tentariam entender o que havia me levado até aquele ponto. Parte de mim queria recusar, fugir dessa ideia. Abrir minha mente e meu coração para estranhos era assustador. Mas outra parte de mim sabia que Maiara estava certa. Eu precisaria de ajuda. Ajuda de verdade.

— Tudo bem — respondi, surpreendendo até a mim mesma com a resposta. — Eu falo com eles.

Um sorriso tímido se formou nos lábios de Maiara, e ela assentiu, como se aquele pequeno progresso fosse uma vitória enorme. E, para nós, era. Aceitar ajuda era o primeiro passo para sair daquele buraco que eu havia cavado para mim mesma. Ela sabia disso, e eu também.

O silêncio voltou a nos envolver, mas desta vez não era pesado. Era um silêncio tranquilo, quase acolhedor, como se ambas soubéssemos que, por mais difícil que fosse o caminho à frente, o pior já havia passado. Nós estávamos juntas. E, juntas, nós enfrentaríamos o que viesse.

A porta do quarto se abriu suavemente, e uma enfermeira entrou, seguida por um médico. Eles sorriram, mas eu podia ver a preocupação em seus olhos. Havia muitas perguntas para responder, muitos exames a fazer, e a recuperação seria lenta e árdua. Mas, naquele momento, tudo o que importava era que eu ainda estava aqui. Eu ainda tinha uma chance.

— Como você está se sentindo, Maraisa? — perguntou o médico, sua voz calma e profissional, mas carregada de um cuidado genuíno.

Respirei fundo, sentindo o ar entrar com dificuldade nos meus pulmões, e soltei lentamente, tentando organizar meus pensamentos. Como eu estava me sentindo? Era difícil dizer. Havia tanta coisa emaranhada dentro de mim — dor, arrependimento, alívio, medo. Mas havia algo mais. Algo novo. Um fio de esperança, pequeno, mas presente.

— Cansada — respondi, honestamente. — Mas... viva.

O médico assentiu, como se aquela resposta fosse suficiente por enquanto. Ele fez algumas anotações no prontuário ao lado da cama e depois olhou para Maiara, dando-lhe um sorriso reconfortante antes de sair do quarto, deixando-nos novamente sozinhas.

Quando a porta se fechou, senti as lágrimas começarem a se acumular nos meus olhos. Não eram lágrimas de desespero, mas de alívio. Eu estava aqui. Ainda estava viva. E, por mais que houvesse muito a ser enfrentado, eu sabia que, com Maiara ao meu lado, eu poderia encontrar uma maneira de seguir em frente.

— Obrigada... — sussurrei, sem saber se as palavras eram suficientes para expressar o que eu sentia.

Maiara, com os olhos brilhando de emoção, apenas sorriu. Ela sabia. Ela sempre sabia.

E, naquele momento, eu fiz uma promessa silenciosa a mim mesma e a ela: eu lutaria. Não só por mim, mas por nós duas. Eu não desistiria de novo. Não enquanto houvesse vida dentro de mim para lutar.

Por mais escuro que fosse o caminho, eu caminharia em direção à luz. E, desta vez, eu sabia que não estava mais sozinha.

E que eu não teria mas que lidar com o peso que relações quebras me causaram.

𝓡𝓮𝓵𝓪𝓬̧𝓸̃𝓮𝓼   𝓠𝓾𝓮𝓫𝓻𝓪𝓭𝓪𝓼Onde histórias criam vida. Descubra agora