Pov. S/n
A torre de astronomia de Hogwarts sempre foi o lugar onde eu encontrava paz. Entre os corredores sempre cheios de vozes e risadas, era ali que o silêncio me abraçava. Mas naquela noite, o silêncio era diferente. Era pesado, cheio de palavras que eu não sabia como dizer, de sentimentos que eu tentava esconder há muito tempo.
Fred Weasley. Sempre o Fred. A pessoa que mais me fazia sorrir nos momentos difíceis, que me entendia como ninguém, e que agora, mais do que nunca, estava me deixando em pedaços. Ele era tudo que eu poderia querer em um amigo. E talvez, em outro tempo, em outra vida, ele teria sido muito mais.
Eu estava encostada contra a muralha da torre, olhando para o céu, tentando não pensar. Mas era impossível não pensar nele. Eu sabia que ele estava diferente, que algo o incomodava. Sabia que ele tinha sentimentos que eu não podia corresponder da forma que ele queria, e isso me destruía por dentro.
Os passos ecoaram no piso de pedra, suaves e inconfundíveis. Ele estava vindo, como sempre fazia, como se soubesse que eu precisava dele, mesmo sem dizer uma palavra. Fred sempre soube como encontrar o caminho até mim.
— Pensei que te encontraria aqui — disse ele, a voz baixa, um toque de melancolia que não combinava com o Fred que eu conhecia.
Eu não consegui responder de imediato. Continuei olhando para as estrelas, tentando ganhar tempo, tentando encontrar uma forma de adiar o inevitável.
— Esse lugar parece ser a nossa torre de Babel, não é? — murmurei, tentando soar leve, mas minha voz saiu fraca.
Ele deu um pequeno sorriso, mas sem o brilho de sempre.
— Acho que sim. Um lugar onde as palavras sempre se perdem — ele se aproximou, ficando ao meu lado. Ficamos em silêncio por alguns instantes, ambos olhando para o céu. — S/n, eu não posso mais evitar isso. Nós precisamos conversar.
Aquelas palavras pesaram como chumbo no meu peito. Eu sabia que esse momento chegaria, mas isso não o tornava mais fácil. Eu fechei os olhos por um segundo, tentando me preparar para o que estava por vir.
— Eu sei — sussurrei, sem olhar para ele.
Fred suspirou. Um som cansado, cheio de frustração e tristeza. E por um momento, eu odiei como nossa amizade chegou a esse ponto. Quando foi que tudo ficou tão complicado?
— A verdade é que... — ele começou, hesitante. — Eu te amo, S/n. Sempre amei. E eu pensei que, com o tempo, isso ia passar, ou que talvez você sentisse o mesmo. Mas... eu estou começando a perceber que o que eu sinto pode não ser suficiente. Ou que nós queremos coisas diferentes.
Essas palavras, ditas com tanta honestidade e dor, partiram meu coração. Eu queria dizer algo, qualquer coisa que pudesse aliviar o que ele estava sentindo. Mas eu sabia que, por mais que eu me importasse com Fred, o amor que ele sentia por mim não era o mesmo que eu podia dar a ele.
Finalmente, eu o olhei, vendo a expressão dele sob a luz suave das estrelas. Ele parecia cansado, mas não de uma forma física — era o peso de sentimentos não correspondidos, de expectativas que ele sabia que não seriam alcançadas.
— Fred, eu nunca quis te magoar — disse, minha voz tremendo. — Você é uma das pessoas mais importantes da minha vida. Eu... eu só não sei se posso te amar do jeito que você merece. Porque você merece o mundo, Fred. Merece alguém que esteja completamente certo sobre o que quer, alguém que possa caminhar ao seu lado sem hesitação.
Ele abaixou a cabeça, mordendo o lábio como se tentasse processar o que eu estava dizendo. E então ele riu, mas não havia humor naquilo.
— Eu sei, S/n. Mas isso não faz ser mais fácil. Eu queria que as coisas fossem diferentes. Mas a verdade é que eu tenho meus próprios sonhos, minhas próprias ambições. E parte de mim sempre soube que nossos caminhos talvez não se cruzem como eu imaginei.
Eu sabia do que ele estava falando. Fred sempre foi cheio de vida, cheio de ideias. Ele queria mais do que Hogwarts, mais do que o mundo que conhecíamos. Queria viver aventuras, criar coisas novas, fazer o impossível. E eu? Eu sempre fui mais cautelosa, mais quieta, buscando segurança e estabilidade. Nossas ambições, de fato, nunca se alinharam. Não da forma que ele merecia.
— Você tem tanto para conquistar, Fred — eu disse, sentindo o peso das minhas palavras. — Você é brilhante. Você pode ir longe, muito longe. E eu... eu não quero ser o motivo de você se sentir preso.
Fred ficou em silêncio por um momento, absorvendo o que eu disse. Finalmente, ele se virou para mim, com uma expressão de tristeza, mas também de aceitação.
— Eu nunca me senti preso com você, S/n. Nunca. Mas acho que você está certa. Talvez nós sejamos destinados a coisas diferentes. Eu só... queria que as coisas fossem mais simples.
Eu senti as lágrimas se acumulando nos meus olhos, mas as segurei. Ele merecia mais do que isso. Mais do que lágrimas. Ele merecia honestidade.
— Eu também queria — admiti, minha voz fraca. — Queria que as coisas fossem mais simples, que eu pudesse te amar do jeito que você me ama. Mas a verdade é que... talvez nossas histórias sejam escritas em páginas diferentes.
Fred assentiu, e o silêncio entre nós era cheio de entendimento. Não havia mais palavras a serem ditas. Apenas a aceitação de que, por mais que nos importássemos um com o outro, nossas vidas estavam destinadas a seguir rumos diferentes.
Ele segurou minha mão, apertando-a de leve, e sorriu tristemente.
— Eu sempre vou me importar com você, S/n. Mesmo que nossos caminhos se afastem, você sempre será parte da minha história.
Eu apertei a mão dele de volta, sentindo o peso daquele momento. Era o fim de algo, mas também o começo de outra fase em nossas vidas.
— Eu também vou me importar com você, Fred. Sempre.
E assim, sob as estrelas que observavam tudo em silêncio, nós dois entendemos que, por mais que o amor estivesse ali, ele não era suficiente para nos manter juntos da forma que queríamos. Mas, em meio à dor, havia algo bonito. A aceitação de que, às vezes, o amor verdadeiro significa deixar ir.