Pov. S/n
A clareira estava silenciosa, envolta em uma névoa fria que parecia flutuar à altura dos meus joelhos. Eu a conhecia bem, cada árvore e cada pedra; este lugar era o nosso refúgio, onde o tempo costumava parar e o mundo lá fora parecia distante. Mas hoje, ele parecia vazio, como se a vida tivesse se retirado completamente.
Exceto por ele.
Cedric estava à minha frente, de pé sob a sombra de uma árvore retorcida. Ele parecia como sempre: alto, com seus cabelos castanhos suavemente bagunçados pelo vento e os olhos claros que refletiam uma tristeza contida. Havia algo em seu olhar, porém, algo diferente. Ele parecia mais distante, mais calmo, como se estivesse em um lugar que eu não conseguia alcançar.
— Você veio — murmurei, sentindo minha voz falhar enquanto me aproximava devagar.
Ele não respondeu imediatamente. Apenas me observava, seus olhos fixos nos meus, como se estivesse tentando lembrar-se de algo perdido no tempo.
— Eu sempre venho — ele respondeu finalmente, sua voz soando como o eco de uma lembrança. Havia algo nele, algo que não pertencia mais a este mundo.
Minha respiração ficou presa por um momento, um arrepio percorrendo minha espinha. Eu sabia o que estava acontecendo, mas ainda assim me recusava a aceitar. Cedric tinha ido embora. Ele não estava mais aqui — não de verdade. Mas todas as noites eu voltava, procurando por ele, esperando vê-lo como se nada tivesse mudado.
— Eu não quero que isso seja um sonho — sussurrei, minhas palavras cortando o silêncio. — Não quero que você seja apenas uma lembrança.
Ele deu um passo à frente, e embora estivesse perto, havia algo intangível em sua presença. Eu sabia, no fundo do meu ser, que ele não estava realmente aqui. A verdade doía mais do que qualquer feitiço, mais do que qualquer batalha que eu poderia enfrentar.
— S/n — ele começou, a voz quase suave demais, como se estivesse deslizando pelo ar. — Você precisa me deixar ir.
Eu balancei a cabeça, desesperada para afastar o que ele estava dizendo. — Eu não posso. Cedric, eu não sei como fazer isso.
Ele ficou em silêncio por um momento, seus olhos me observando com uma tristeza tão profunda que parecia que ele carregava o peso de todas as guerras, de todas as despedidas que nunca foram ditas.
— Eu nunca quis que fosse assim — ele murmurou, os dedos fantasmagóricos tocando de leve o meu rosto, embora eu mal pudesse sentir o toque. — Nunca quis te deixar sozinha. Mas isso é o que somos agora, não é? Apenas uma memória. Um fantasma de algo que foi bom, mas que não pode mais ser.
As lágrimas arderam nos meus olhos, e eu tentei, em vão, segurá-las. Eu sabia que ele estava certo, que tudo o que tínhamos agora era o eco do que fomos, um amor que havia morrido com ele naquela noite fatídica no Torneio Tribruxo.
— Eu te amo — sussurrei, a voz quebrada. — Eu sempre vou te amar.
Ele sorriu, mas era um sorriso triste, um sorriso que eu sabia que era a despedida final. Ele deu mais um passo à frente, seus lábios roçando minha testa em um gesto suave, mas frio, como o vento gélido da noite.
— E eu sempre vou estar com você — ele disse, embora sua voz já começasse a desaparecer. — Mas você precisa seguir em frente. Eu não posso ficar.
Por um momento, o mundo parou. Eu fechei os olhos, sentindo o toque dele desaparecer, o calor que ele sempre trazia agora substituído pelo frio cortante da realidade. Quando abri os olhos novamente, a clareira estava vazia. Cedric havia ido embora — desta vez para sempre.
Eu fiquei ali por um tempo, apenas ouvindo o som do vento passando pelas árvores, sentindo a solidão enraizar-se dentro de mim. Era o fim de algo que eu havia lutado para manter vivo, algo que nunca mais poderia ser recuperado.
Cedric se foi, mas as memórias dele, as promessas não ditas, o amor que compartilhamos, permaneceriam. Mesmo que ele fosse apenas um fantasma agora, ele estaria para sempre ligado a mim, de uma forma que ninguém mais poderia entender.
Mas, eventualmente, eu teria que seguir em frente. Como ele disse, eu não poderia continuar vivendo em meio a fantasmas. Eu precisava deixá-lo ir, mesmo que isso significasse partir meu próprio coração.