Pov. S/n
A manhã estava fria, e a luz fraca do sol entrava pela janela, criando sombras longas nas paredes. Senti o peso do dia, da luta constante que enfrentava não apenas com minha condição, mas com as expectativas que Harry colocava sobre mim. Ele estava ali, tão próximo, mas ao mesmo tempo tão distante. O espaço entre nós parecia carregado de uma tensão que tornava cada respiração mais difícil.
— Não quer melhorar? — Harry disse, mais como uma afirmação do que uma pergunta. O tom de sua voz era firme, mas havia uma fragilidade que não podia ignorar.
A raiva e a frustração subiram à minha cabeça, e a verdade explodiu de meus lábios. — Sim. Desesperadamente! Mas não vai acontecer — eu disse entre dentes, cada palavra cortando o ar como um estilete. — Está bem? Notícia extra: não tem cura.
Peguei meu cachecol, que estava jogado em uma poltrona, e o envolvi em torno do meu pescoço, sentindo a textura contra minha pele. Era um gesto automático, um modo de me proteger, tanto do frio quanto das palavras cortantes que haviam se tornado nossa rotina. A sensação de conforto que deveria vir do cachecol estava longe de me acalmar.
Harry me observava, seus olhos buscando entender, mas a confusão apenas fazia tudo parecer mais sombrio. Eu sabia que ele se importava, mas, em momentos como este, sua preocupação soava mais como um peso sobre meus ombros. — Você precisa saber que vou melhorar para me amar — eu disse, minha voz se quebrando, mas a intensidade da minha raiva e dor ainda era palpável.
Ele abriu a boca, como se quisesse se defender, mas as palavras não saíam. O que ele poderia dizer? A verdade era que, enquanto ele desejava que eu lutasse contra as limitações da minha condição, eu estava presa em uma realidade que não podia mudar. E, por mais que amasse Harry, não podia deixar que essa expectativa o transformasse em um fardo.
— S/n, não é isso que eu estou tentando dizer... — Harry começou, mas eu o interrompi.
— Não, Harry! Você não entende. — A frustração transbordava, e a energia da discussão me deixava inquieta. — Eu não sou apenas um projeto. Você não pode consertar isso. Não é uma questão de querer ou não. É uma questão de aceitação. Aceitar quem eu sou agora, não quem eu poderia ser.
Harry fechou os olhos por um momento, como se estivesse tentando processar tudo o que eu estava dizendo. Eu queria que ele entendesse, que visse que eu não precisava de um salvador, mas sim de alguém que estivesse ao meu lado, independentemente da minha situação.
— Eu só quero que você saiba que estou aqui para você. — Ele finalmente disse, a voz mais suave agora, mas mesmo assim, a dúvida estava ali, pairando entre nós.
— Mas e se isso não for suficiente? — perguntei, minha voz baixa, quase um sussurro. — E se eu nunca for a pessoa que você deseja que eu seja?
A expressão dele se endureceu, e eu vi a dor refletida em seu olhar. Ele queria me apoiar, queria ser a pessoa que me ajudaria a superar isso, mas havia um limite para o que ele podia fazer. E, no fundo, eu sabia que a verdadeira luta era minha.
— S/n, você é mais do que isso. Você é mais do que sua condição. — Harry disse, a determinação em sua voz era reconfortante, mas eu não conseguia acreditar.
— E se eu não conseguir? — eu retruquei, a frustração subindo novamente. — E se eu não conseguir ser quem você quer que eu seja? O que acontece então?
Ele hesitou, e eu percebi que havia uma resposta que ele não queria dar. E, nesse momento, percebi que a batalha não era apenas sobre a minha condição, mas também sobre nós. O amor que compartilhávamos estava à prova, e eu não tinha certeza se éramos fortes o suficiente para suportar isso.
A verdade era que, enquanto Harry queria lutar por mim, eu estava lutando por nós. Eu não podia deixar que ele se afundasse nas minhas fragilidades. E, por mais que o quisesse ao meu lado, não podia permitir que nossa relação se tornasse um campo de batalha.
— Eu só... — Harry começou, mas eu já sabia que não havia palavras que pudessem resolver isso.
— Eu preciso de tempo, Harry. Tempo para aceitar quem eu sou, tempo para lidar com tudo isso — eu disse, meu coração pesado. — E você também precisa desse tempo. Para decidir se isso é o que você realmente quer.
Ele assentiu lentamente, e pude ver a dor em seu olhar. O amor que ele tinha por mim estava ali, mas também havia a tristeza de uma batalha que talvez não pudéssemos vencer juntos.
A realidade do que éramos, do que eu era, se instalou entre nós, e eu sabia que a jornada não terminaria ali. Era apenas o começo de um novo capítulo, e eu não sabia como seria. Mas, enquanto eu respirava, enquanto as chamas da lareira crepitavam, eu sabia que precisava encontrar uma maneira de seguir em frente, mesmo que isso significasse fazer isso sozinha.
Inspirado no filme: Amor e outras drogas