Pov. S/n
A lua cheia estava alta no céu, refletida nas águas calmas do lago negro, que se estendia à nossa frente como um espelho de segredos antigos. Eu estava de pé na margem, sentindo o vento frio tocar meu rosto enquanto olhava para o horizonte. Estar aqui, nesse lugar, sempre me trazia paz, mas esta noite, o peso do que eu sabia que viria tornava tudo mais sombrio.
Eu ouvi passos atrás de mim antes mesmo de me virar. Regulus estava lá, sua capa negra se misturando à escuridão ao redor, seus olhos cinzentos brilhando sob a luz pálida da lua. Havia algo nele, sempre houve, que o fazia parecer parte da noite, como se fosse moldado pela sombra e pelo silêncio. Ele não disse nada quando se aproximou, apenas ficou ao meu lado, olhando para o lago como se estivesse procurando respostas que não encontraria.
— Estar aqui sempre me faz sentir livre — murmurei, sem desviar o olhar das águas. — Como se, por um momento, nada mais existisse.
Regulus suspirou suavemente. Ele sabia do que eu estava falando. Estar juntos sempre foi um risco, algo proibido, algo que ambos sabíamos que nossas famílias jamais permitiriam. O nome Black carregava expectativas, obrigações. E eu, por mais que tentasse, não conseguia me afastar do fato de que o que tínhamos não poderia sobreviver à realidade do mundo em que vivíamos.
— Não podemos escapar para sempre, S/n — sua voz saiu baixa, como se ele também não quisesse quebrar o silêncio que nos envolvia. — Eu gostaria que fosse diferente. Que nós pudéssemos ser diferentes.
Eu virei para ele, meu coração apertado no peito. Olhar para Regulus era como olhar para um reflexo de mim mesma — alguém preso entre o dever e o desejo, entre o que deveria ser e o que queria ser. Mas a diferença era que Regulus sempre carregava o peso do nome Black de forma mais intensa. Ele sabia o que estava em jogo.
— Eu sei — sussurrei. — Mas isso não muda o que sinto. Eu não consigo simplesmente... ir embora.
Ele finalmente olhou para mim, seus olhos carregados de uma tristeza silenciosa. Regulus era sempre tão contido, tão disciplinado, mas ali, comigo, havia uma vulnerabilidade que ele raramente mostrava a outros. Sabíamos que o que tínhamos era impossível. O amor entre nós era como nadar contra a correnteza, sabendo que, em algum momento, seríamos arrastados para o fundo.
— Eu não queria te arrastar para isso — ele disse, sua voz quebrando por um segundo. — Eu sabia desde o começo que isso não podia durar. Que nós não podíamos durar.
Minhas mãos instintivamente procuraram as dele, agarrando-se à única coisa que ainda parecia real. O toque de Regulus era quente, mas havia um frio mais profundo, aquele que vinha da incerteza, do medo do que aconteceria quando tivéssemos que nos despedir.
— E se não precisássemos nos despedir? — perguntei, tentando ignorar a realidade. — E se nós apenas... fugíssemos? Esquecêssemos de tudo isso, de nossas famílias, do mundo?
Regulus me olhou por um longo momento, e por um segundo, eu vi esperança em seus olhos. Mas foi rápido demais, substituído pela resignação que sempre carregava. Ele soltou uma risada amarga, seus lábios curvados em um sorriso triste.
— Você sabe que não podemos fazer isso. Fugir... seria nos condenar. Eu... eu não quero te condenar a isso.
O vento soprou com mais força, fazendo meu cabelo voar ao redor do meu rosto, mas eu não me importei. Eu queria lutar contra aquilo, contra a realidade que nos separava. Mas o peso do nome Black era grande demais. E o que Regulus carregava dentro de si era um fardo que eu não podia aliviar, não importa o quanto tentasse.
— Eu morreria por você — disse, finalmente encontrando a força para falar o que estava no meu coração. — Eu enfrentaria qualquer coisa por nós. Mas... você está certo. Nós não podemos fugir de quem somos.