Pov. S/n
Capítulo: Nós Não Podemos Ser Amigos
A noite estava estranhamente calma, apesar de tudo o que havia acontecido. O Salão Comunal da Grifinória estava quase vazio, com apenas algumas velas tremeluzentes iluminando o ambiente, e eu me peguei sentada em uma das poltronas próximas à lareira, observando as chamas dançarem. Era estranho estar ali, naquele espaço que tantas vezes foi um refúgio para nós, mas agora se sentia sufocante, cheio de memórias que eu não sabia como encarar.
Fred Weasley estava do outro lado da sala, parado, como se estivesse esperando algo. Ele sempre teve esse jeito brincalhão, como se a vida fosse uma grande piada e nós fôssemos os espectadores da sua comédia pessoal. Mas, esta noite, seu sorriso estava ausente, substituído por uma expressão que eu nunca tinha visto antes — séria, quase triste.
— Nós precisamos conversar — sua voz quebrou o silêncio, firme, mas com uma nota de hesitação que fez meu estômago se apertar.
Eu sabia que isso ia acontecer. Sabia que, eventualmente, teríamos que lidar com o que estava crescendo entre nós. Mas isso não tornava a conversa mais fácil. Na verdade, a deixava mil vezes pior.
— Eu sei — respondi, minha voz soando mais fraca do que eu esperava.
Eu me levantei da poltrona, cruzando os braços ao redor de mim mesma, como se isso pudesse de alguma forma me proteger do que estava prestes a acontecer. Fred caminhou em minha direção, lentamente, até que parou bem à minha frente, seus olhos castanhos fixos nos meus.
Por um momento, ficamos apenas nos encarando. Nenhum de nós sabia por onde começar. E talvez fosse porque ambos sabíamos a verdade: não havia um jeito fácil de resolver o que estava entre nós.
— Isso... — ele começou, respirando fundo, como se tentasse encontrar as palavras certas. — Isso está nos destruindo. Eu não consigo mais continuar assim, S/n.
Meu coração deu um salto desconfortável no peito. Ele não estava falando só do que tínhamos — ou do que quase tivemos. Ele estava falando de tudo: da amizade, dos sentimentos não ditos, das linhas borradas que cruzamos sem saber como voltar.
— Eu também não — admiti, sentindo o peso das minhas próprias palavras. — Mas o que você quer que eu faça, Fred? Fingir que nada aconteceu? Fingir que somos apenas amigos?
Ele balançou a cabeça, como se a simples ideia fosse insuportável.
— Não podemos ser só amigos, S/n. Eu não posso olhar para você e fingir que tudo bem. Não depois de tudo o que sentimos, depois de tudo o que quase tivemos.
As palavras dele cortaram mais fundo do que eu esperava. Nós não podemos ser amigos. Era a verdade que eu estava tentando evitar, mas ela estava ali, entre nós, inegável. A amizade que tínhamos antes parecia distante, quase irreconhecível agora. Algo havia mudado, e não havia como voltar.
— Eu sei que não podemos — disse, minha voz quebrando. — Mas o que isso significa para nós, Fred? O que nós somos, então?
Ele olhou para mim com uma mistura de frustração e tristeza, como se ele próprio não tivesse a resposta.
— Eu não sei. Mas o que eu sei é que, cada vez que tento ser seu amigo, parece que estou traindo o que sinto de verdade. Como se estivesse mentindo para mim mesmo. E isso me destrói, S/n.
Eu fechei os olhos por um segundo, tentando segurar as lágrimas que ameaçavam cair. Fred sempre foi alguém em quem eu confiava, alguém com quem eu podia contar para qualquer coisa. Mas agora, tudo parecia estar desmoronando, e eu não sabia como consertar.
— Eu sinto o mesmo — confessei, abrindo os olhos para encontrar os dele. — Não posso ser sua amiga quando tudo o que eu quero é mais do que isso. Mas, ao mesmo tempo, eu tenho medo. Medo de que, se dermos esse passo, não haverá volta.
Fred deu um passo mais perto, a distância entre nós diminuindo. Eu sentia o calor do corpo dele, a proximidade quase insuportável. Eu queria estender a mão, tocar nele, mas algo me segurava. O medo. O medo de perder o pouco que ainda tínhamos.
— S/n... — ele começou, com a voz mais suave, mas carregada de emoção. — Eu sei que você está com medo. Eu também estou. Mas ficar fingindo que podemos ser só amigos... isso está nos machucando mais do que qualquer risco que correríamos se tentássemos ser algo mais.
Eu sabia que ele estava certo. Sabia que essa situação — esse meio termo, essa zona de incerteza — estava nos consumindo. A amizade que tínhamos estava desaparecendo, e o que restava era esse emaranhado de sentimentos que não sabíamos como lidar. Não podíamos ser apenas amigos. Não depois de tudo.
— O que você quer fazer, então? — perguntei, quase como um sussurro, meu coração batendo forte no peito.
Fred me olhou por um longo tempo, e eu vi a determinação surgindo em seus olhos.
— Quero parar de fingir — ele disse, sua voz firme. — Quero parar de tentar ser algo que não somos. Se não podemos ser amigos, então... então, que sejamos algo mais. Eu prefiro correr o risco de perder tudo tentando ser verdadeiro com o que sinto, do que continuar assim.
Meu coração deu um salto, e as palavras dele me atingiram como um choque. Havia tanta honestidade ali, tanta vulnerabilidade. Fred estava disposto a arriscar tudo, e a verdade era que eu também estava. Porque a alternativa — continuar nesse ciclo de incerteza e dor — não era mais uma opção.
Eu respirei fundo, sentindo as lágrimas se acumularem nos meus olhos. Mas, dessa vez, não eram de tristeza ou medo. Eram de alívio. De aceitação.
— Eu também prefiro arriscar — disse, minha voz trêmula, mas cheia de certeza. — Não podemos ser apenas amigos, Fred. E eu não quero mais fingir que podemos.
Ele sorriu, um sorriso pequeno, mas sincero, e deu mais um passo à frente, eliminando o último espaço entre nós. Sua mão encontrou a minha, e o toque dele me acalmou de uma forma que eu não esperava. Por um momento, tudo parecia certo, como se, finalmente, tivéssemos encontrado o que estávamos procurando.
— Nós não podemos ser só amigos — ele repetiu, com um tom suave, quase como uma promessa.
E antes que eu pudesse responder, antes que pudesse processar completamente o que estávamos prestes a fazer, Fred me puxou para um beijo. Um beijo que carregava tudo o que estávamos segurando, todas as emoções que tínhamos reprimido por tanto tempo.
Naquele momento, a guerra, as dúvidas, o medo — tudo desapareceu. Havia apenas nós dois, finalmente prontos para enfrentar o que quer que viesse a seguir. Porque, embora não pudéssemos ser amigos, talvez isso fosse exatamente o que precisávamos para descobrir quem realmente éramos juntos.
Aqui nós temos um final feliz!!!