Lar Doce Lar.

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CAPÍTULO 14

"O diabo é e sempre será um homem gentil".

LOUISE DANTELO.

A porta do quarto é aberta, sei disso porque ouço o barulho. Viro o rosto para a porta, esperando ouvir algo a mais.

-Louise, precisamos sair.

-O que? Sair?

-Foi isso que eu disse, anda, arrume o que tem que levar e vamos.

Eu junto as sobrancelhas, tentando entender o que acontece.

Estou deitada na cama e, agora, começo a me sentar nela, colocando as pernas para fora.

-O que aconteceu?

-Vou te levar de volta. - Ouço o barulho de algo sendo revirado, gavetas se abrindo.

-Levar de volta? Para casa?

-É caralho, onde mais séria?!- diz sério, quase estourando e fazendo com que meu coração bata rápido, tanto pelo susto do grito que tomei, quanto pela felicidade de estar indo.

-O que te fez mudar de ideia?

-Não é da sua conta- ele diz rude e, de repente, sinto sua mão no meu rosto, indo direto para a venda e a puxando para cima com brutalidade, me assusto e o olho, a máscara do Jason está no seu rosto e suas vestes me assustam ainda mais. Willian usa uma calça jeans folgada junto a coturnos pretos. Veste uma camisa preta e um casaco xadrez preto e vermelho por cima, parecendo o próprio personagem.

Eu prendo a respiração porque, por mais que cause medo, eu aprecio seu corpo musculoso nessas roupas e, ao olhar sua mão, grande e com veias que saltam da pele, não consigo esquecer dos seus dedos dentro de mim, do modo que Diego nunca conseguiu fazer.

-P-porque tirou minha venda?

-Não era isso que você queria? - pergunta, colocando minhas roupas na mochila, embolando as peças de qualquer jeito.

-Não é isso, porque decidiu isso, do nada?

Ele pare de se movimentar, respirando fundo.

-Vou acabar te matando se ficar comigo, estou muito estressado por algo que aconteceu e, acredite, cordeirinho, eu sou capaz de matar qualquer um quando chego no meu limite.

Engulo em seco.

-O que você viu? Tem relação com Diego?

-Tem, tem e eu quero matá-lo.- volta a se movimentar, sua respiração é pesada por debaixo da máscara. - Calce os sapatos, vamos de moto.

Eu não falo nada e vou direto aos meus coturnos postos em um canto do quarto e me sento na cama para calçá-los.

Olho para William de costas para mim, consigo ver seus músculos se movimentando por baixo dos tecidos finos.

Estou vestida em uma calça jeans escura e uma camisa preta, meus coturnos são pretos e o casaco que jogo por cima dos ombros é marrom. Willian, após fechar a mochila, vem até mim e passa as alças dela sobre meus braços.

Eu não consigo ver seu semblante, mas consigo ver o vislumbre dos seus olhos que parecem raivosos.

-Willian, o que você viu?

Ele me olha nos olhos, seus olhos parecem mais verdes que o normal.

-Sabia que o desgraçado do seu ex tem fetiche em comer carne humana, o melhor, carne de crianças para se alimentar?

Meu coração para ao mesmo tempo em que meus olhos se enchem de lagrimas. Meu peito dói.

-C-como?- engasgo com minha própria saliva. Eu não acredito. Eu não quero acreditar.

-Eu também quero saber como ele tem coragem porque, pelo inferno, nem eu faria isso. - Meu braço é agarrado com força por Willian e eu sou obrigada a segui-lo. Saímos pelo quarto, passamos pelo corredor, cozinha e sala até chegarmos na porta principal, onde ele a destranca e vamos para fora, recebendo o vento frio da tarde nublada que se faz.

Conforme sou puxada para a floresta, consigo ver a estrada solitária e a moto do homem a alguns metros.

-E o que isso tem a ver comigo? Por que está me levando de volta? -as lagrimas caiem e, só então, percebo que talvez esteja com medo de voltar, de que Diego vá me procurar.

-Vou ficar ocupado, resolvendo esses assunto e indo atrás dele, você vai ficar segura lá, eu prometo- diz a ultima palavra me olhando.

Chegamos no veiculo, Willian pega um dos dois capacetes que estavam nos assentos e coloca em minha cabeça, prendendo o ajusto logo abaixo do meu queixo e faz o mesmo rapidamente com o seu.

Ele monta na moto e me da a mão para que me ajude e eu o faço. Jason pega minhas mãos e as prende com força no seu abdômen.

-Eu vou rápido, cordeirinho.- avisa e eu me assusto com o som da moto e sua engrenagem.

A viseira do capacete esta fechada, mas eu consigo sentir o vento batendo forte no meu corpo quando Willian acelera. O som do aceleramento é o único no lugar, soando alto e ecoando pela zona,fazendo com que alguns pássaros saiam de onde estavam e voem para longe.

Enquanto isso, na minha cabeça, só passa uma coisa:

Diego.

Canibalismo.

Com uma criança...

Eu me agarro ao homem a minha frente, tentando não chorar pelos atos do homem que um dia acreditei que seria meu marido, e tudo me deixa mais assustada quando penso: ‘e se tudo estivesse bem e eu fosse realmente me casar com ele?’ onde eu estaria agora? Morta em algum lugar ou servindo de bife no seu prato?

Me assusto com uma curva que Willian faz, tão longa que vejo o chão perto de mim e temo cair, mas ele volta com ela a posição de antes tão facilmente que penso em quanto tempo ele está acostumado a dirigir assim. A adrenalina corre no meu corpo.

A ideia de que ele vai ficar longe me assusta mais do que a ideia dele perto. Por algum motivo, Willian me quer, por algum motivo ele me protege e, por algum motivo, Diego estava comigo, pois, sabendo do que ele é capaz de fazer, eu tenho a certeza que não estava junto a mim por amor e sim por algum interesse. Não posso falar que é dinheiro, ele tem uma quantidade alta e eu nem mesmo tenho muito, apenas invisto no meu pequeno negocio que,honetamente, nem sei se existe mais.

Passamos um bom tempo na moto, eu poderia jurar que iriamos cair a qualquer momento, mais respiro aliviada quando, agora, a moto para aos poucos quando chegamos na minha casa. Eu desço da moto, olhando o espaço a minha frente e observando que tudo está como foi deixado. Willian estaciona a moto perto do passeio e desce, tirando o capacete, eu me lembro do meu sobre minha cabeça e faço o mesmo.

Ele começa a andar, tirando uma chave do bolso camuflado no seu casaco e vai direto para porta da minha casa.

Obsessão às cegas Onde histórias criam vida. Descubra agora