Concertar para destruir.

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"STALKING
(v.) Quando duas pessoas fazem uma longa caminhada romântica juntas, mas apenas uma delas sabe disso."

WILLIAN MAVERICK.

"Eu sei que você não gosta delas, então resolvi te presentear! Ando te observando e te achando muito triste, isso é saudade de mim? Não se preocupe, eu vou aparecer ainda hoje’

Leio minha carta, minha própria letra em voz alta.

-Essa era a única carta?- pergunto a mulher de cabelos castanhos a minha frente.

Ela toma um pouco do café que a ofereci e o segura com as duas mãos, colocando-o sobre seu colo.

-Foi a única.- confirma.

Estamos na sala de Mattia, consegui chegar antes que Louise, que chegou uns cinco minutos depois de mim, nervosa e aliviada ao mesmo tempo. Ela me agradeceu e pediu desculpas por me chamar em um horário desse.

Sem nenhum problema, cordeirinho.

Tenho vontade de rir quanto guardo minha própria carta em uma pasta branca e pego a sacola preta, começando a pegar minhas máscaras e olhar para cada uma delas, analisando-as como se procurasse algo.

-Ele sempre aparece com algum tipo de mascara, hoje foi uma nova, não uma dessas, mas é mais parecido com a do Ghostface.

Olho para mascara do filme pânico e depois olho para Louise.

-Disse que ele jogou uma  faca no seu carro.

-Sim.

-Bom- eu arrasto a cadeira em que estou sentado, me levantando e pegando a câmara fotográfica, que já estava ao meu lado na mesa.- vamos dar uma olhada nisso e fazer alguns registros.

Ela assente e se levanta, ficando na minha frente ao abrir a porta e sair. Eu sigo atras dela, fechando o escritório e tornando a andar pelos corredores.

Observo a mulher em minha frente, tão sensível e gostosa que eu poderia pega-la agora mesmo e devorar aquele pedaço de céu que ela chama de buceta. Seu cabelo está solto, brilhante e cheiroso, seu quadril se move de um lado para o ouro conforme anda e sua bunda acompanha o movimento. Seu cheiro é doce, algo sobre frutas vermelhas, baunilha e âmbar, me faz querer segui-la para sempre, sentir sempre algo que venha dela.

A presa atraindo o predador.

Saímos da delegacia e o estacionamento é logo a frente. Confesso que é divertido me passar por Maverick e solucionar meu próprio caso. Sei que um dia vai descobrir quem eu sou de verdade, mas até lá, eu continuarei porque é divertido, esse é nosso jogo, eu avisei que não a deixaria.

-Caralho!- falo parecendo surpreso quando olho para o que ‘Willian” fez. A câmera está pendurada por uma alça no meu pescoço.

-É, caralho!- ela diz e suspira- eu só queria chegar em casa logo, mas o desgraçado fez isso e estou aqui!

Eu a olho, Louise está com olheiras profundas, o rosto um pouco mascado e uma leve vermelhidão na região dos olhos. Sei que ela está sofrendo com a morte de Anastácia.

Mordo o lábio inferior.

-Eu lhe pagarei o concerto- digo de uma vez.

A mulher arregala os olhos e, mesmo de noite, consigo ver o rubor do seu rosto.

-Oi? Não precisa, você não tem nada haver com isso. Eu posso pagar...

Coloco uma mão em seu ombro.

-Eu faço questão, por favor, aceite.

A mulher fica me olhando, calada, provavelmente pensando se aceita ou não, mas, com uma afirmação convectiva de cabeça minha, olhando no fundo dos seus lindos olhos, ela acaba cedendo.

-Tudo bem- sussurra- obrigada.

-Não me agradeça.- nem eu mesmo sei porque fiz isso. Talvez, com ela, tudo se resuma em concertar para depois destruir novamente.

Em silencio, pego a câmera em mãos e começo a tirar as fotos, uma por uma em varias direções do carro. A mulher fica observando, abraçando o próprio corpo pelo frio que faz e percebo que deixou seu café na mesa do escritório.

-Você falou que o nome dele é Willian- chego perto dela, enquanto dou uma olhada nas fotos- como sabe?
Ela desvia o olhar para o chão, depois olha para mim.

-Um dia ele chegou em mim e disse que eu poderia lhe fazer uma única pergunta...

-Foi isso que você perguntou ?

-Foi- murmura.

-Por que saber o nome ?

Louise fica um tempo calada, desviando o olhar distante mais uma vez.

-Eu não sei.

-Ok, certo- tomo um ar- não tem condições de dirigir com esse carro, vou mandá-lo para o concerto amanhã e pedir para que alguém da nossa equipe te leve até sua casa.

-Obrigada.

Juntos, nós começamos a andar de volta para a delegacia. Eu a olho por cima do ombro, parece querer transmitir segurança enquanto demonstra medo em sua postura, acredito que a parte do facão no carro ela não esperava e aquilo lhe deixou surpresa.

Passamos pelas portas e o ar quente do ar-condicionado da delegacia nos dá boas vindas, andamos novamente até o escritório e, quando chegamos, ela volta ao seu lugar, tomando seu café em mãos novamente.

-Tem mais alguma coisa que queira falar ? Algo que ele fez ?- eu espero, ansioso.

-Não- ela diz confiante e, se não fosse eu quem fez aquilo com ela, acreditaria. Mas querendo ou não, não sei porque não fala de quando eu a peguei e levei para aquela casa.

Tiro a alça da câmera do pescoço e olho para o computador a minha frente.

-Na verdade- fala, me chamando atenção. Olho para Louise.- Tem notícias sobre Ana?

-Sobre ela não, mas tenho sobre as mulheres que tínhamos dito antes e, pelo que tudo indica, consta que estão mortas, morreram no dia da suposta viagem.

A mulher toma mais um gole do café e respira fundo.

-Espero que a Deus esteja com a família delas agora, principalmente com a de Ana, a mãe está sofrendo demais.

-Creio que sim.

×

Jogo o copo de café fora no lixo ao lado da mesa. Louise foi embora a uns dez minutos com uma mulher que solicitei para levá-la até sua casa. Pelo que sei, ela começará a ter um segurança particular amanhã e ainda não recebeu essa notícia, mas eu e Mattia decidimos isso.

Não tenho nenhum sinal de Diego, parece que aquietou a bunda dele na porra da cadeira em senta. Isso me deixa um pouco preocupado, aquele que não é visto não é falado, talvez Diego esteja só observando os passos da polícia.

Bufo irritado enquanto olho as fotos que tirei do carro no computador, projetadas por um pen-drive e começo a apagar todas elas e inclusive o relatório que me disse. A sacola com máscaras está ao meu lado e elas vão embora comigo para casa.

Achava que devolver o presente era falta de educação. Ela precisa de bons modos.

Louise tem que aprender a parar de chamar a policia toda vez que apareço. Não sou o vilão dessa história, mas posso ser o dela as vezes. Não o como Diego, Diego é um filho da puta que queria casar com ela para matar. Eu me casaria com Louise apenas para continuar nosso joguinho, eu a assustando e ela correndo, sendo que, no final, geme enquanto goza no meu pau ou na minha língua.

Me levanto da cadeira e me espreguiço. Pego a sacola da mesa, levando comigo quando saio da sala.

Eu poderia me voluntariar como seu segurança, seria maravilhoso estar ao lado dela, mas preciso e tenho que resolver minha vida, os problemas que estão todos voltados nas merdas que Diego e seu bando faz. Não só ele, mas como Mattia disse, se trata de uma grande parte. Não só aqui no Texas, mas ao mundo, como por exemplo na Itália, México, Argentina... a viagem de Mattia é justamente para isso, espero que ele volte com alianças. Por enquanto, ele me deixou no comando, agora que estou na ativa novamente.

Mais uma vez, eu saio da delegacia, ando em direção meu carro, desça vez uma caminhonete preta diferente do meu outro carro para que ela não percebesse nada. Sinceramente, estou animado para o dia em que ela descobrir em que eu sou Willian e Willian e Maverick.

Há um restaurante perto da delegacia, o único estabelecimento aberto além dela e, apesar disso, está cheio de pessoas, lotado na parte interior e exterior. Uma musica calma e impactante toca, acredito que algo sobre a cantora Jazmine Sullivan, algo como “Sometimes i feel like a motherless child”, da qual já escutei em um dos bares elegantes de fora do pais e posso dizer que, se estivesse nevando, seria o cenário perfeito, mas, isso não é um conto de fadas. Não quando ainda consigo ver o carro de Louise a alguns metros de mim, não enquanto eu estou com minhas máscaras de volta, não quando temos trafico humano e de órgãos; não quando, há uns dias atrás, uma mulher estava partida ao meio sem alguns dos orgãos no corpo.

*

Mecho a carne moída com o molho de tomate caseiro na frigideira. Passei parte da minha sozinho, não tinha quem cuidar de mim e eu tive que me virar, posso dizer que cozinho bem e o cheiro que sai do manjericão no meio do molho comprova isso. Tampo a frigideira e pego um pano de prato, limpando as mãos enquanto vou até a sala.

Meu computador esta na mesa de centro e a televisão está ligada, mostrando as imagens das câmeras da casa de Louise para mim. Observo minha grande sombra no chão e subo o olhar para as telas. Ela esta na sala, sentada no sofá enquanto assiste a um programa culinário na televisão e come um prato de comida. Veste uma camisa e calça pretas, acredito que seu pijama, e seu cabelo esta preso em um coque despojado.

Ando para perto da mesinha de centro, onde mostra o GPS ligado e, o melhor de tudo, as câmeras hackeadas perto da casa de Diego, que conseguem me mostram o lado de frente da casa dele.

Na escuridão da noite, consigo ver as luzes acessas, mas não consigo ver a casa, sendo bloqueada pelas cortinas que a tampam.

Uma coisa que percebi é que a mulher nunca sai de casa e, considerando que ela pareceu gostar pra caralho da ‘carne’ daquele dia, sei que ela também faz parte de alguma coisa, ela esta envolvida e não vou sentir dó quando eu pegá-la, amarrá-la em uma cadeira e fazê-la de refém para que me fale algo ou Diego vá até ela. Porque é isso que quero fazer.

-Desgraçada- ranjo os dentes, pensando alto e apertando o pano de pratos nas mãos.

Não sou de desrespeitar as mulheres, sair por ai assobiando, falando merda muito menos encostando. Eu não sou esse tipo de lixo, mas, quando se trata de canibalismo e do que vi que fizeram  com aquela criança, eu estou doido para cozinhar um pedaço da carne dela e dar para Diego comer.

O som do forno me desperta e eu me levanto do sofá.

Chegando na cozinha, eu pego um prato e um pegador, coloco o macarrão, que já estava inserido no molho, no prato e tiro umas torradas que fiz do forno, colocando-as sobre o canto do prato para que o molho de tomate não as molhe e, consequentemente, tire a crocância.

Enfim, uma janta.

Eu pego um garfo e volto para sala, me vendo na esma situação que meu cordeirinho jantando, só que meu conteúdo é muito mais interessante que o dela.

Meu telefone toca, me fazendo descer o olhar da televisão para o aparelho ao lado do computador. O nome de Mattia esta estampado na tela e me inclino para atender.

-Mattia?

-Willian- é uma voz feminina- esquece essa merda de ficar investigando, precisamos sair da teoria.

Olho a televisão, Louise se levanta e começa a andar.

-Elise?-coloco o prato de macarrão na mesinha.

-Sim, sou eu.

-Aconteceu algo ?

- O governo italiano aprova o canibalismo, achamos registros, fotos, das ex noivas de Diego e, honestamente, é deplorável.

Fecho os olhos, já imaginando do que as fotos e tratam.

-Vão voltar ainda hoje?

-Pela madrugada.

-Então nos encontramos amanhã.

Louise se movimenta na cozinha, começando a lavar os pratos.

-Na delegacia?- pergunto.

-Departamento de reuniões, as oito.

-Claro, até mais.

Tiro o telefone do ouvido, escuto um “até” dela e desligo. Louise, após lavar os pratos,  desliga a televisão e vai para o quarto, já se ajeitando para dormir e, considerando a hora, eu também me levanto, mas para pegar uma garrafa de vinho e me preparar para amanhã.


Obsessão às cegas Onde histórias criam vida. Descubra agora