Flertando com a Morte.

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"Jogar muitos joguinhos pode te causar problemas, cordeirinho."

LOUISE DANTELO.

Nunca entendi o ato das pessoas fazerem homenagens ou mesmo colocarem flores nos túmulos das pessoas que já estão mortas, como se elas estivessem lendo sua mensagem, como se estivessem vendo as flores e sentindo o cheiro delas de baixo da terra, enquanto o próprio corpo vai se decompondo, restando apenas ossos. Mas, hoje, eu vejo o sentido disso.

O enterro de Ana foi hoje, os pais e alguns amigos vieram, rezaram e acompanharam tudo. Os pais de Ana não paravam e chorar, lamentando pela filha e vieram até mim, me agradecendo por, pelo menos, ter encontrado o corpo da filha deles. Eu nunca me senti tão fora da realidade, enquanto ouvia as palavras de acolhimento de sua mãe, que foi embora a uma hora atrás, dizendo que não estava aguentando a cena.

Eu coloquei um buque de rosas vermelhas para Ana, suas favoritas.

Em seu tumulo, na lapide, está escrito seu nome, idade de nascimento e morte, e uma frase logo abaixo para Ana:

Não é porque o céu está nublado, que você vai deixar de brilhar lá em cima.

Nossa querida e eterna Anastácia.

De: Mamãe e papai.

Além das flores, há uma garrafa do vinho que era o preferido dela, um brinquedo de quando era criança, algumas cartas e algumas flores soltas. Estou sentada na grama, olhando para tudo isso e conversando com Ana, como se estivesse comigo, como nos velhos tempos.

-Eu sinto muito- sussurro, não choro mais, meus olhos já não aguentam e, o que resta, é a dor no peito e a sensação da garganta doendo, como se arames estivessem apertando a região.

-Eu queria te proteger. Eu não sei quem foi, Ana, mas eu juro, de todo meu ser, que eu vou achar o desgraçado. - Soluço. Olho o relógio em meu pulso e vejo que preciso me levantar, seguir a vida que tenho.

Me levanto, espalmando as mãos no chão como auxílio e depois as limpo, batendo-as n corpo e tirando também a sujeira que fica na minha calça.

Ando pela grama, vendo de longe meu carro e, o único, estacionado. Uma pequena brecha de sol o ilumina, mas logo, ela irá sumir, as nuvens no céu estão carregadas. O dia amanheceu ensolarados, mas, aos poucos, foi se fechando.

Engulo em seco quando chego no veículo. Abro a porta e entro no carro, me sentando no banco. Eu preciso ir ao trabalho. Descobri que Willian realmente tinha posto pessoas para trabalhem, três mulheres ficaram atendendo na loja. A equipe de fornecedores continua as mesmas e as vendas aumentaram. Eu fiquei surpresa, pois podia jurar que ele tinha fodido com meu negócio.

Passo um tempo dirigindo até chegar em frente à loja. Eu estaciono e saio do carro. Passo pelas portas, a loja está cheia, mulheres olham as cabines de roupas e percebo algumas indo para os provadores.

Olho a frente, a mulher que fica no balcão, Dyna, me olha e sorri.

-Chefe!

-Por favor- ando em sua direção- só Louise- peço.

-Ok. Hum- murmura, se inclinando é pegando algo atrás do balcão- trouxerem isso para você mais cedo.

Obsessão às cegas Onde histórias criam vida. Descubra agora