"-Me toque novamente..."

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"Ele me jogou no inferno, e eu posso chamar isso de amor".

Acordo assustada, meus resmungos fazem eco e meu corpo balança, preso em algo que está estendido no teto.
Abro os olhos, olhando para os lados e, quando me dou por conta, o desespero me consome.

Estou em um lugar escuro, vazio. Apenas a luz de velas esta iluminando o espaço, elas estão espalhadas pelo chão, como uma espécie de ritual. Tem uma plataforma de concreto no chão, na qual meus pés estão ligeiramente apoiados.

Meus braços encontram-se esticados acima da cabeça e presos por uma corrente, que situa-se presa ao teto. Não sei onde estou, mas sei o que aconteceu, tentei fugir e, Willian me pegou. No meio do caminho me apagou no carro porque tentei pular dele em movimento.

Com a lembrança voltando, eu sinto vontade de chorar e assim eu faço. Meus soluços saem como de uma criança perdida, meu peito dói por saber que fui uma burra ao tentar fugir. Mas, como é capaz Willian aparecer justamente quando estou indo?

-Porra-sussurro tão baixo que nem mesmo o homem, que acabará de sair de algum lugar da sombra, aparece.

Eu fico de cabeça baixa, meus fios de cabelo caiem sobre meu rosto, tampando minha visão porque eu nem mesmo quero ver o homem nos olhos, mesmo se fosse possível, porque agora ele ainda usa a maldita mascara de costura.

-Louise- sua voz sai baixa, grave quando chama meu nome. Meu corpo se arrepia por inteiro, dos pés a cabeça.

Sinto seus dedos agarrarem meu queixo e, com força e brutalidade, o levantar, fazendo com que eu o olhe.

-O que foi?- debocho, porque já estou cansada dessa palhaçada- vai me matar agora? Vai em frente.

-Você? Não. Você é tão linda e preciosa que não vale a pena, acredite.

-Qual é o seu problema?- ranjo entre os dentes, olhando por dentro dos seus olhos verdes escuros.

-Meu problema é você. - sinto seu olhar passear por mim, da cabeça aos pés e depois voltar. - vamos resolver isso. Por que tentou fugir?

Reviro os olhos, dando um sorriso rápido.

-Por que você acha?

-Pela ultima vez, - vira as costas para mim- Louise, te peço que me responda direito.

Fico em silencio, vendo que ele se abaixa na escuridão e pega algo que não consigo ver.

-Porque a cada vez que desafiar minha paciência, eu fico mais motivado para fazer isso!.

Arregalo os olhos diante o que é jogado perto da plataforma de concreto. Um braço, um braço inteiro e cheio de sangue.

-A deus!- soluço, sentindo as lagrimas inundarem meus olhos- o que você.... fez? Porque fez isso!?- grito, levantando a cabeça e olhando o homem, vestido em um conjunto de moletom preto com tênis da mesma cor, parado no meio do local com as mãos no bolso da blusa.

Ele tira de lá um celular, vindo em minha direção enquanto meche em algo nele e, quando esta a poucos centímetros do meu rosto, sua mascara bem na minha frente, invade minha visão me mostrando a tela do aparelho, que mostra a imagem de um homem junto a muitas informações.

-Te apresento o Leandro- sua voz sai, apontando para o braço do homem.

Faço um não com a cabeça olhando horrorizada para o braço manchando de sangue.

-Quem é Leandro ?- balbucio dando uma olhada na tela, que informa o nome, idade e alguns dados de Leandro.

-Um dos homens de Diego. Vou te falar- guarda o celular de volta no bolso- foi difícil fazer ele abrir a boca, Mas abriu e, sabe o que ele disse? Parece que Diego estava casado com você para lhe enviar ao tráfico humano e, preciso lhe fazer algumas perguntas, antes da sua punição.

Meu coração bate forte no peito, queima e eu sinto tudo queimar de tristeza agora. Eu quero desacreditar no que Willian diz e eu não sei muito bem em qual lado levar, o da verdade ou da mentira. Ele pode muito bem estar mentindo para fazer minha cabeça.

-Sabe se Diego tinha algum “negócio” além da empresa de serviço?

Meu olhar está fixo no chão e então, penso e me recordo de algo:

- Pelo que eu me lembro, não. Ele falava sobre fazer algumas doações e patrocínios, mas sempre ia sozinho.

-Porque não ia com ele?

Engulo em seco.

-Porque ele dizia que era um pouco longe e, como eu estava dando duro no meu negócio, ele dizia para mim ficar e descansar.

-Entendo.

O lugar fica silencio, como se eu e Willian estivéssemos pensando em nossos próprios assuntos, e realmente estamos.

-Porque- minha voz sai como um eco, chamando sua atenção- quer saber ?
Ouço um suspiro seu antes de responder.

-Preciso saber os meios em que Diego envia os clientes para o tráfico, desconfio que uma delas seja pelo seu próprio negócio.

-Você disse que também há vítimas homens, achava que normalmente eram as mulheres e crianças....

-E realmente são, mas parece que não usam os homens só para o tráfico humano, mas para que os peguem com destino a.. trabalho e diversão.

Lambo os lábios, os apertando logo depois com os dentes.

-Diversão você quer dizer...

-Tortura- diz de uma vez- não acho que fazem isso sempre.

-Deus Cristo!- falo olhando para cima e me perguntando se o que tudo que passei foi realmente uma farsa com Diego.

Ouço passos pesados. Willian agarra meu rosto com suas duas mãos, suas Palmas conseguem cobrir o suficiente a lateral do meu rosto, sinto a temperatura quente delas e é quase como se fosse um carinho na minha pele.

Seu corpo está tão perto do meu que sinto o encostar da sua roupa na minha.

-Lembra o que eu falei ?  Ele não é seu herói e muito menos eu, eu sou doente, um doido, mas não faço esse tipo de merda.

-Você não acha hipócrita quando fala isso comigo, que estou nesse estado?

-Você tentou fugir Louise, toda ação tem uma reação e essa foi a sua. Você poderia ter ficado e nada teria acontecido. E agora, não só vai receber a punição por ter fugido, mas por ter tirado a venda também.

Tira as mãos do meu rosto, eu o observo levar a mão para o bolso da calça e, percebo que, no começo do braço, por baixo de uma leve brecha, consigo ver algo preto que não aprece ser uma roupa por baixo, mas algo que está fixo na sua pele, talvez uma tatuagem. O tecido vermelho vai saindo do seu bolso e eu fecho os olhos, achando isso tudo uma merda quando a venda é colocada nos meus olhos e amarrada atrás da minha cabeça cuidadosamente.

Arregalo os olhos por baixo do pano quando sinto suas mãos encostarem na barra da minha calca, eu junto minhas pernas tentando o impedir de descer elas antes mesmo de o fazer.

-Antes de começar, quero que saiba que eu não vou te tocar sem sua concepção, mas hoje você vai experimentar algo novo.- avisa Jason enquanto desabotoa minha calça e abre o fecho dela para logo depois descer o tecido cuidadosamente sobre minhas pernas.
A ideia de experimentar algo novo faz a adrenalina consumir meu corpo. Eu estou com medo, o medo bom, o medo que me faz ficar ansiosa para saber o que vai acontecer, o que Jason vai fazer comigo.

Ouço passos e sinto seu corpo se distanciar, conforme sua voz também.

-Vai arder um pouco mas, sinceramente, é fácil confundir.

Junto as sobrancelhas, abrindo um pouco a boca enquanto o ouço se aproximar.

-confundir o que?-
Diante minha pergunta, demora, mas recebo a resposta quando sinto minha bunda ser espancada por um tipo de material. Grito pelo susto e pela dor, que faz um tipo de arrepio descer pelas minhas pernas e se acumular no meio delas.

Willian não me da tempo para respirar antes que outra chicotada me é dada, dessa vez na parte da frente, passando na minha coxa e raspando no meio delas. Eu as junto, gemendo de dor e as esfregando uma na outra. Minha respiração agora é audível, eu seguro a corrente acima da minha cabeça, tentando não gritar quando recebo outra no posterior da coxa, fazendo meu corpo chacoalhar.

O que Willian usa para fazer tal ato, eu não sei, mas me parece ser um daqueles chicotes com cordas grosas trançadas.
Jason chega perto de mim, agarrando meu rosto com uma mão, fazendo minhas bochechas se apertarem e um biquinho nos meus lábios se formarem.

Puxo o ar de modo assustado quando ele enfia seu dedo na minha calcinha e o passa bem no meio da minha buceta, adentrando nos lábios e o tirando de lá. Sei porque fez isso.

-A linha tênue entre dor e prazer- ele finalmente me responde a pergunta que fiz a minutos atrás, porque esta claro para nós dois que meu corpo traíra está sentindo prazer onde era para não estar e, não só ele, conscientemente, eu também estou. Quando ele bate, sinto o arrepio e a dor correr pelo meu corpo, e isso sempre se acumula no meio das minhas pernas, transformando toda aquela dor em prazer, de modo que, mesmo com a dor, eu fique ansiosa para a próxima chicotada, a fim de sentir aquilo novamente.

Fecho os olhos e aperto os lábios com os dentes ao Willian agarrar meu pescoço com uma mão.

-Me fala, Louise, o que seria perfeito para que me conhecesse, como queria que eu te conhecesse?- ele diz bem perto do meu rosto, consigo sentir seu hálito quente perto dele.

O aperto da sua mão no meu pescoço não me permite falar muito, engasgando, eu falo com dificuldade:

-Você já sabe, eu já lhe disse.

-Te levar para jantar? Pois bem, eu a levo.

-O que?- eu pergunto.

O homem solta meu pescoço, sinto seu corpo se distanciar, seu aperto queima minha garganta e a queimação do chicote me queima ainda mais, como se eu estivesse horas no sol e as assaduras estivessem no meu corpo.

Ouço algo abrir e, logo depois, se fechar.

Eu queria gritar, mas sinceramente, estou cansada emocionalmente para isso. Quero que alguém me salve porque, o homem doido acabou de sair deste lugar, acredito que me ‘prometendo’ um jantar e eu me arrependo de ter lhe dito aquilo.

×

-Willian? - O chamo quando ouço a porta abrir.

-Estou aqui.

-Por favor, meus braços estão doendo...
Não recebo respostas, mas dou um graças a Deus logo que sinto seu corpo próximo e o raspar dos seus dedos na minha pele enquanto ele desamarra a corrente de cima.

Fiquei aqui sozinha por pelo menos uma hora, não faço ideia. Ainda estou de calcinha, a queimação ainda está presente.

Prendo o ar quando meus braços são soltos e o homem me agarra pela cintura. Suas mãos são grandes, quentes e seu aperto não é nada leve.

-Terá de subir no meu corpo, tem escadas e não vou ficar te guiando- avisa ao mesmo tempo em que passa os braços pelas minhas pernas e atras das minhas costas. Eu nada falo, apenas o seguro pelo pescoço.

-Onde estamos?

-Em casa, amor.

-Pedi para que não me chamasse assim.- sussurro em tempo que ele anda e sobe algumas escadas.

-E eu pedi para que não fugisse.

Jason soa sério e bravo. Eu engulo em seco e ouço algo mais fechar antes que ele continue a andar.

- O que vamos fazer?

- Vou te dar o que você tanto quer- anuncia, parando e inclinando o corpo.

Eu sinto algo embaixo das minhas nadegas e acabo de me sentar quando Willian me coloca lá com cuidado.

Minha cadeira é empurrada, então eu sinto a mesa a minha frente.

-O Jantar?

-Não foi isso que pediu? Esperou que fosse em um restaurante?

-Seria... legal.

-Não, não seria.

-Por quê? ... você é algum tipo de criminoso que não pode ser visto?

Curiosa, eu pergunto enquanto tento identificar o que há em cima da mesa com as mãos consigo sentir um prato no meio de um garfo do lado esquerdo e uma faca do direito.

-Não- ele diz em um suspiro, acho que acabou de se sentar pois ouço a cadeira sendo arrastada- porque assim eu teria que tirar a máscara, você a venda...

-Isso é porque não posso saber quem você é?

-Também, além disso, perderia toda a graça.

-Acha graça em me manter assim?

-Acho fascinante.

Engulo em seco, me sentindo estranha diante a escuridão, sabendo que eu não posso ver nada, mas ele pode ver tudo de mim.

-Quero vestir minhas calças.

-Claro, você vai, aliás, quer que eu te alivie novamente?

Fico calada, ouvindo mais o coração disparar diante a pergunta dele.

-N-não precisa- falo, ouvindo sua risada baixa logo em seguida. Sei que só está fazendo isso para me testar.

-Então, vamos para o prato principal.

Ouço a cadeira se arrastar e um calafrio passa pelo meu corpo quando sinto Willian passar ao meu lado. O medo se instala em mim porque não sei o que realmente está acontecendo, onde exatamente estamos, o que vou comer e muito menos o que o homem pretende fazer até o final de tudo.

Seus passos são audíveis e, junto a eles, um cheiro de costela.

-Ouvi dizer que gosta muito de costela, então...

Ouço o prato ser colocado na mesa. Eu fico parada até ouvir Willian se sentando novamente.

Tateio a mesa, a procura dos talheres e, quando acho, me concentro na comida. Já fiz isso milhares vezes, comer a cegas aqui e, o pior de tudo, é saber que me acostumei quando consigo pegar uma garfada perfeita e levar a boca. Sinto o gosto de costela assada, arroz e uma salada de alface, rúcula e tomate.

O silencio está desconfortável para mim, acredito que para Jason esteja achando engraçado, ele é o único que pode me ver, mas não me mostro insegura através da minha linguagem corporal.

-Como sabe que gosto?

-Eu sei tudo sobre você.

Alinho os lábios com a resposta dele.

-Por que demorou tanto para voltar?
Minha pergunta não é respondida. Eu espero, pois, sei que ele tem mania de demorar a responder, mas, quando desisto e pego o garfo para mais uma garfada, ele responde:

-Estava resolvendo umas coisas. Por que tentou fugir?

-Estava tentando resolver umas coisas- devolvo. Nesse momento não o vejo, mas posso sentir o olhar dele em mim.
Solto um suspiro e puxo o ar pelo nariz, ainda sinto medo.

-Você... tirou a máscara?

-Preciso comer, então sim.

-Por acaso, os problemas eram com Diego?

-Eram.

-E onde está o homem em que fez... aquilo? - me refiro ao homem cujo braço me foi jogado antes.

-Está descansando no inferno, Deus o tenha! - consigo perceber seu tom irônico e engulo em seco.

-Teria coragem de fazer aquilo comigo?

-Com você não, mas por você sim.

Lambo os lábios devagar.

-Onde trabalha?

-Chega de perguntas, Louise. - Me corta.

Pego mais um pedaço de costela e mastigo, devagar e engulo a carne, sentindo o suco dela descer junto.
-Estou com medo...

-De que está com medo?

- Do que ainda pode me acontecer.

-E o que você espera que vá acontecer com você, meu amor? - seu tom é sádico, irônico e melancólico ao mesmo tempo.

Fico calada, mantendo a cabeça direcionada para frente, para onde acho que ele está. Mordo os lábios, esfregando as pernas uma na outra.

-Não sei, mas eu quero... quero que me toque de novo.


Obsessão às cegas Onde histórias criam vida. Descubra agora