𝐎 𝐓𝐄𝐌𝐏𝐎 𝐏𝐄𝐑𝐃𝐈𝐃𝐎

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Richard estava deitado no sofá da sala, o silêncio do apartamento ecoando ao seu redor. Era tarde da noite, e as luzes da cidade de São Paulo entravam suavemente pelas janelas, iluminando o espaço que um dia havia sido preenchido pelos risos e pela presença de S/N. Agora, restavam apenas os móveis frios e o vazio cortante que parecia aumentar a cada minuto.

Ele se revirava, tentando afastar a sensação incômoda de arrependimento que o corroía desde que ela havia ido embora. Há meses, a distância entre eles vinha crescendo, e ele ignorava os sinais. S/N pedia para ele ficar mais tempo em casa, falava sobre como eles quase não se viam mais. Ele sempre tinha a mesma resposta: "Depois do treino, eu fico. Só mais esse jogo, prometo." Mas esse "depois" nunca chegou.

A última discussão deles foi a mais cruel. Ela havia preparado um jantar para comemorar o aniversário de dois anos juntos. Ele se atrasou mais uma vez. Quando chegou, viu o olhar decepcionado dela ao lado da mesa posta, a comida esfriando. O silêncio naquela noite foi o pior. Ela não reclamou, não gritou. Apenas olhou para ele, seus olhos cansados e cheios de tristeza.

"Eu só queria um pouco do seu tempo, Richard..." ela disse, a voz tão baixa que parecia que as palavras estavam escapando contra sua vontade. "Mas você nunca está aqui. Eu sinto que estou te perdendo, e você não percebe."

Ele, cansado do treino, do estresse da carreira, respondeu sem pensar, deixando o orgulho falar mais alto: "Você sabia no que estava se metendo quando começamos. Minha carreira vem em primeiro lugar. Você nunca vai entender isso."

Essas palavras cortaram S/N como uma lâmina. Ele viu nos olhos dela que algo havia mudado naquele momento, mas foi tarde demais. Ela se levantou da mesa, silenciosa, foi até o quarto e começou a arrumar suas coisas. Ele observou, acreditando que seria só mais uma briga, que ela voltaria quando as coisas esfriassem. Mas naquela noite, S/N não voltou.

Agora, meses depois, ele estava sentado naquele mesmo sofá, com a mesa de jantar vazia à sua frente. O apartamento que um dia parecia acolhedor agora era uma lembrança constante de sua solidão. Ele fechou os olhos e viu o rosto dela em sua mente - o sorriso que ele amava, o jeito que ela sempre o apoiava, mesmo quando ele estava distante.

Richard pegou o celular e entrou nas redes sociais. Deslizou o dedo pela tela, até encontrar uma foto que o fez parar de respirar por um segundo. Era S/N, linda como sempre, em um restaurante chique, rindo. Mas o que chamou sua atenção foi o homem ao lado dela. Ele segurava a mão dela sobre a mesa, o sorriso de S/N era brilhante, e ela parecia... feliz. Realmente feliz. Uma felicidade que ele não via nela há meses.

Seu peito apertou de um jeito que ele nunca tinha sentido antes. Ele soube naquele instante que ela tinha seguido em frente. E o pior de tudo? Era com alguém que estava fazendo por ela tudo o que ele não fez.

Ele sentiu a garganta secar, a culpa caindo sobre ele como uma avalanche. Ela tinha dado tudo de si para o relacionamento, e ele não tinha sido capaz de retribuir. Ele pensava nas flores que nunca deu, nas noites que ela pediu para que ele ficasse e ele sempre inventava uma desculpa. Nas danças que ela tanto adorava e que ele sempre recusava por cansaço.

Sentindo a dor aumentar, Richard levantou-se do sofá e foi até o quarto. Lá, no fundo de uma gaveta, ele encontrou um pequeno álbum de fotos que eles haviam feito no início do relacionamento. As páginas estavam cheias de momentos felizes - viagens que fizeram, jantares que compartilharam, noites em que eram inseparáveis. Ele se sentou na cama e começou a folhear o álbum, lágrimas silenciosas escorrendo pelo rosto. Ele sentiu o peso de cada decisão errada que havia tomado, cada "depois" que nunca cumpriu.

"Eu devia ter estado lá mais para ela", ele murmurou para si mesmo, como se confessasse a própria culpa. "Devia ter dado flores, ter segurado sua mão mais vezes, ter ouvido quando ela pedia atenção."

Ele sabia que era tarde demais. Não havia mais como voltar atrás. S/N estava com alguém que valorizava cada pequeno gesto, que a fazia se sentir importante, coisa que ele havia falhado em fazer. E agora, tudo o que ele tinha era arrependimento.

A saudade apertava ainda mais quando ele olhava para a foto do sorriso dela, um sorriso que, agora, pertencia a outra pessoa.

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Semanas depois, Richard estava sentado em uma cafeteria perto do campo de treinamento, tomando um café sozinho, quando viu S/N entrando com o novo namorado. Eles não o viram, e ele se esforçou para manter a compostura. S/N parecia radiante, e o homem ao lado dela a tratava com carinho, tocando gentilmente suas costas enquanto falavam e riam.

Richard desviou o olhar, sabendo que aquela visão seria demais para ele. Enquanto pagava sua conta e se levantava para sair, uma parte dele desejou que o homem ao lado dela nunca cometesse os mesmos erros que ele cometeu. E no fundo do coração, ele sabia que S/N finalmente tinha encontrado o que merecia: alguém que a amasse do jeito certo.

Ele saiu da cafeteria sem olhar para trás, levando consigo apenas as memórias do que eles tinham sido e o arrependimento do que ele deixou escapar.

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Imagine inspirado na música 'When I Was Your Man' de Bruno Mars.

Imagine inspirado na música 'When I Was Your Man' de Bruno Mars

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𝐈𝐌𝐀𝐆𝐈𝐍𝐄𝐒 - 𝐑𝐈𝐂𝐇𝐀𝐑𝐃 𝐑Í𝐎𝐒Onde histórias criam vida. Descubra agora