𝐎 Ú𝐋𝐓𝐈𝐌𝐎 𝐁𝐄𝐈𝐉𝐎

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A casa estava mergulhada em silêncio, e o relógio na parede marcava 1:58 da manhã. Você estava sentada no chão do quarto, usando uma camiseta velha dele, o tecido suave contra sua pele, carregando o cheiro que era tão familiar. O apartamento parecia vazio, como se a ausência dele tivesse roubado o calor e a vida do lugar. A luz fraca da rua se infiltrava pelas cortinas, projetando sombras suaves nas paredes, e tudo o que restava era a solidão e as lembranças.

Você fechou os olhos e se permitiu voltar no tempo. Ainda podia ver o rosto dele naquela última noite, iluminado pela luz fraca do abajur, os olhos brilhando enquanto ele sussurrava aquelas palavras que eram só de vocês. Ele te disse que te amava, como fazia tantas vezes, mas naquela noite, algo parecia diferente, embora você não soubesse o que era. Só que agora, com o coração partido, você se perguntava: Por que ele foi embora depois de dizer aquilo?

A memória de julho 9º ainda era vívida. O cheiro da chuva recém-caída na pista do aeroporto, a adrenalina que te fez correr quando desceu do avião, ansiosa para vê-lo. O abraço apertado que ele te deu, o som do coração dele pulsando forte contra o peito. Você ainda podia sentir o calor dos braços dele ao seu redor, como se o tempo tivesse parado naquele instante, como se nada pudesse tirar aquele momento de vocês.

Mas tirou. E agora, tudo o que restava era essa sensação vazia de perda.

Você olhou em volta do quarto, sentindo-se pequena e perdida, como se estivesse à deriva em um mar de lembranças. A camiseta dele caía solta em você, mas oferecia um tipo estranho de conforto. Era a última peça dele que restava fisicamente, como uma âncora que te mantinha conectada ao que vocês foram. O som da chuva batendo na janela era suave, quase melódico, e você se perguntou como era possível sentir tanta falta de alguém que, de certa forma, ainda estava por toda parte — em cada canto, em cada memória, em cada batida do seu coração.

"Eu nunca pensei que teríamos um último beijo," você pensou, o coração apertando. Não, nunca tinha passado pela sua cabeça que tudo terminaria assim, com ele indo embora e deixando um vazio tão grande. Vocês nunca imaginaram o fim. O amor parecia eterno, imutável, algo que sobreviveria a todas as tempestades. Mas, de alguma forma, aquele último beijo aconteceu, e foi o fim de tudo o que vocês haviam sonhado juntos.

Você podia se lembrar claramente dos pequenos detalhes que amava nele — o jeito como ele andava, as mãos sempre nos bolsos, a maneira como ele era o centro das atenções em qualquer lugar, o brilho nos olhos quando ria alto, quando puxava você para perto em momentos inesperados, interrompendo suas palavras com um beijo. Ah, como você sentia falta daqueles beijos repentinos, das interrupções que te faziam sorrir.

Agora, tudo o que restava era saudade.

Você se deitou no chão, encarando o teto, e se deixou afundar nas lembranças. Era quase torturante o quanto você ainda se lembrava de cada detalhe, como se o tempo não tivesse avançado desde a última vez que ele esteve ali. Como se o mundo ao seu redor tivesse parado, enquanto o dele seguia em frente.

Às vezes, você olhava as fotos antigas, passando os dedos sobre as imagens como se isso pudesse trazer de volta a sensação de tê-lo por perto. Aquelas fotos eram agora tudo o que restava da vida que vocês tiveram. E era estranho, de uma maneira triste, ver a vida dele continuar — saber por meio dos amigos em comum como ele estava, o que andava fazendo. Você sempre perguntava, tentando se manter conectada de algum jeito, mesmo que soubesse que isso não era saudável.

Você suspirou, pensando onde ele estaria agora. Será que o sol brilhava onde ele estava? Será que ele, em algum momento, pensava em você como você pensava nele? Será que, quando o vento soprava ou quando ele via algo que vocês costumavam compartilhar, ele se arrependia de ter ido embora? Será que, em algum lugar dentro dele, ele desejava ter ficado?

"Você pode planejar uma mudança no tempo e no relógio, mas eu nunca planejei você mudar de ideia."

O pensamento te atingiu como uma onda, e você se sentiu impotente diante da verdade. Não importava o quanto você tentasse, não podia mudar o que aconteceu. Ele tinha ido embora, e você estava aqui, tentando descobrir como seguir em frente.

Você se sentou novamente, abraçando as próprias pernas. Tudo o que você sabia era que não sabia como ser algo que ele sentisse falta. Tudo o que restava era o eco do nome dele nos seus lábios, como uma melodia que se recusava a desaparecer. Um nome que, por mais que você quisesse esquecer, ainda estava ali, preso em você como um feitiço. "Richard."

A lembrança do último beijo ainda queimava nos seus lábios, a despedida silenciosa, sem que nenhum de vocês soubesse que seria o fim. Você pensou que haveria mais momentos, mais beijos, mais risos... mas aquilo foi o fim. E agora, o nome dele estaria para sempre nos seus lábios, como uma lembrança constante do que foi perdido.

E assim, você continuava sentada ali, com as roupas dele, imersa nas memórias, tentando fazer as pazes com o que havia sido o último beijo, o último adeus que você nunca imaginou ter.


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𝐈𝐌𝐀𝐆𝐈𝐍𝐄𝐒 - 𝐑𝐈𝐂𝐇𝐀𝐑𝐃 𝐑Í𝐎𝐒Onde histórias criam vida. Descubra agora