𝐎 𝐀𝐌𝐎𝐑 𝐏𝐄𝐑𝐃𝐈𝐃𝐎

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A chuva batia forte na janela, como se o céu estivesse chorando junto com você. A luz fraca do abajur iluminava o quarto de forma suave, refletindo nas gotas de água que escorriam pelo vidro. Era fim de tarde, e o apartamento estava mergulhado em silêncio, exceto pelo som constante da chuva e o eco distante das memórias que você tentava ignorar.

Você estava sentada no chão, com as costas apoiadas na beira da cama, os joelhos dobrados e os braços abraçando as próprias pernas. À sua frente, uma caixa de madeira, repleta de fotos e cartas que você não conseguia se desfazer. Aquela era a última peça de uma história que já não existia mais. Richard não estava mais ali, e fazia tempo que ele havia saído da sua vida. Mas, de alguma forma, ele ainda estava em tudo ao seu redor.

Você pegou uma foto no fundo da caixa, os dedos passando lentamente pela borda desgastada. Nela, vocês dois estavam juntos, em um parque qualquer, sorrindo. Richard tinha aquele sorriso fácil que você amava tanto, o braço envolvido ao redor de você de forma protetora. O tempo havia parado naquele momento, como se nada pudesse abalar o que vocês tinham. Vocês eram jovens, apaixonados, e o futuro parecia promissor.

Mas as coisas não tinham saído como planejado.

A memória veio como uma onda, te puxando de volta ao momento em que tudo começou a desmoronar. Richard era uma força da natureza. Intenso, apaixonado, sempre tão determinado com seus sonhos e ambições. No início, aquilo te encantava. Você o admirava por isso, pelo fogo nos olhos dele sempre que falava sobre o futebol, sobre os planos de ser o melhor, de ir mais longe do que qualquer um poderia imaginar.

Você também tinha sonhos, é claro, mas com o tempo, eles pareciam se perder em meio aos dele. A carreira de Richard tomou conta de tudo — os treinos, os jogos, as viagens. E você? Você ficou para trás. Sempre apoiando, sempre compreendendo. Até que começou a perceber que, enquanto ele estava indo cada vez mais longe, você estava ficando cada vez mais sozinha.

O telefone na mesinha de cabeceira vibrou, mas você não fez questão de olhar. Ninguém realmente importante te ligava mais. Desde que tudo acabou com Richard, o mundo parecia ter diminuído. Seus amigos tentavam te puxar de volta, te convidando para sair, para se distrair, mas nada parecia preencher o vazio que ele deixou.

Você voltou a atenção para a carta dobrada ao lado da foto. Era uma das últimas que ele havia te escrito, durante uma das viagens dele. As palavras agora pareciam vazias, como promessas que ele nunca cumpriria.

"𝐄𝐮 𝐬𝐞𝐢 𝐪𝐮𝐞 𝐞𝐬𝐭𝐨𝐮 𝐥𝐨𝐧𝐠𝐞, 𝐦𝐚𝐬 𝐥𝐨𝐠𝐨 𝐭𝐮𝐝𝐨 𝐯𝐚𝐢 𝐬𝐞 𝐚𝐜𝐚𝐥𝐦𝐚𝐫. 𝐄 𝐞𝐧𝐭ã𝐨, 𝐟𝐢𝐧𝐚𝐥𝐦𝐞𝐧𝐭𝐞, 𝐯𝐚𝐦𝐨𝐬 𝐭𝐞𝐫 𝐨 𝐭𝐞𝐦𝐩𝐨 𝐪𝐮𝐞 𝐦𝐞𝐫𝐞𝐜𝐞𝐦𝐨𝐬."

Mas aquele tempo nunca veio.

Lembrar daquelas palavras fazia o peito apertar, como se o ar estivesse sendo arrancado de você. A verdade era que Richard tinha sido o grande amor da sua vida, mas também o grande erro. Um conto de fadas com um final amargo. Você acreditou que o amor poderia superar tudo — a distância, a solidão, as falhas. Mas, no final, o que vocês tiveram foi uma ilusão de algo maior do que realmente era.

Você fechou os olhos por um momento, tentando controlar a dor que insistia em voltar sempre que pensava nele. Não era mais uma dor aguda, como no início. Agora era um peso constante, um buraco que nunca se fechava, mas com o qual você havia aprendido a conviver.

O som da chuva parecia mais forte, e o quarto parecia ainda mais vazio sem ele. Você se levantou lentamente, os pés descalços encontrando o chão frio. Caminhou até a janela e olhou para fora, as luzes da cidade refletindo nas poças que se formavam no asfalto. Era estranho pensar em como o mundo continuava girando, como as pessoas seguiam com suas vidas, enquanto a sua parecia ter parado no momento em que Richard foi embora.

Ele havia prometido que voltaria. Que as coisas ficariam bem. Mas isso nunca aconteceu. E talvez, no fundo, você soubesse que nunca aconteceria. Mesmo quando estavam juntos, havia sempre uma distância entre vocês — uma barreira invisível que nenhum dos dois parecia capaz de ultrapassar. Ele te amava, você sabia disso, mas o amor dele nunca foi o suficiente para preencher os vazios que ele deixava cada vez que saía de casa para perseguir seus sonhos.

Vocês eram como dois fantasmas dançando em torno de algo que já estava morto, mas nenhum de vocês queria admitir isso. Você esperava, pacientemente, por algo que não viria. E ele, por sua vez, acreditava que estava fazendo o certo, sem perceber que estava te perdendo a cada dia.

Quando ele finalmente foi embora, não houve uma grande briga, nem gritos. Apenas o silêncio pesado de duas pessoas que sabiam que haviam chegado ao fim, mas não tinham coragem de dizer isso em voz alta. Ele arrumou as malas e saiu pela porta sem olhar para trás, e você ficou ali, imóvel, incapaz de impedir.

Agora, ali sozinha no quarto, você sentia o peso de tudo o que perdeu, mas também sabia que, de alguma forma, isso era necessário. Era como se, ao deixar Richard ir, você estivesse deixando ir também a parte de si que havia sido consumida por ele.

Talvez, algum dia, você conseguisse esquecer. Talvez as lembranças parassem de doer tanto, e você pudesse olhar para trás com menos tristeza. Mas, por enquanto, tudo o que restava era a chuva batendo na janela, o vazio ao seu redor, e as memórias de um amor que nunca foi o suficiente.


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𝐈𝐌𝐀𝐆𝐈𝐍𝐄𝐒 - 𝐑𝐈𝐂𝐇𝐀𝐑𝐃 𝐑Í𝐎𝐒Onde histórias criam vida. Descubra agora