XII - Fonte da distração

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O sábado chegara, e o ambiente em casa estava silencioso, quase estagnado. Luca, de pé em frente à tela em branco, segurava os pincéis com uma leve frustração crescendo dentro de si. Aquele bloqueio criativo o deixava inquieto. Fazia algum tempo desde que ele desenhara ou pintara algo novo, e isso começava a incomodá-lo profundamente. Suas ideias, antes naturais, agora pareciam aprisionadas em algum canto da sua mente.

"Por que nada vem?", ele se perguntava enquanto olhava fixamente para a tela.

Decidido a destravar essa sensação incômoda, Luca ligou o computador e abriu o Chrome, algo que raramente fazia para buscar inspiração. Ele navegou no Pinterest, procurando por referências de obras que pudessem acender uma faísca criativa. Uma atitude quase desesperada, já que sua arte sempre fora completamente original, nascida de suas próprias visões.

"Nunca pensei que teria que recorrer a isso", refletiu, enquanto rolava a página sem muito entusiasmo. Passaram-se minutos, e nada parecia suficiente.

Levantando-se da cadeira com um suspiro frustrado, Luca desligou seu tablet e saiu do quarto, usando seu headphone como um acessório inerte no pescoço. Ele vestia um short bege e uma blusa preta simples, os pés descalços ressoando no chão de madeira enquanto caminhava até a sala.

Keyth estava sentada no sofá, distraída com o celular em mãos e um pacote de salgadinhos no colo. O som leve do barulho do plástico sendo amassado preenchia o silêncio da sala.

- Cadê a mãe? - perguntou Luca, ao passar por ela.

- Saiu pra fazer compras - respondeu Keyth, sem tirar os olhos da tela do celular.

Luca assentiu, abrindo a geladeira e pegando uma garrafa d'água. Enquanto ele tomava alguns goles, Keyth levantou o olhar, curiosa.

- O que você estava fazendo? - perguntou ela.

- Tentando desenhar... mas nada sai - Luca respondeu, com uma ponta de desânimo.

Keyth sorriu com uma expressão levemente sugestiva e deu mais uma mordida no salgadinho antes de comentar.

- Por que não tira inspiração no maior artista da região? O Viewer.

Luca não pôde evitar dar uma risadinha interna. A menção ao Viewer, o artista anônimo cujas obras eram aclamadas na cidade, já não o surpreendia, mas dessa vez a sugestão de Keyth pareceu tão absurda que ele quase se engasgou com a água que bebia. Ele parou de tomar mais um gole e olhou para a irmã, ainda processando a ideia.

- Viewer? Sério? - perguntou, um pouco irônico.

- Sério! Sempre achei ele muito incrível. As obras dele são geniais, e ele consegue manter o anonimato por tanto tempo... como você não admira isso? - Keyth respondeu, com entusiasmo.

- Talvez ele prefira o anonimato porque é a forma mais autêntica de se expressar - Luca rebateu, colocando a garrafa de água na mesa de centro. - Pode ser que ele sinta que a arte fala melhor por ele do que palavras poderiam.

Keyth deu de ombros, aceitando o argumento sem muita contestação.

- Faz sentido. Ainda assim, dá pra ver que ele é um mestre. Você poderia se inspirar nele.

Luca se jogou no sofá ao lado da irmã, esparramando-se confortavelmente enquanto ainda tentava se desligar da frustração com a pintura. Keyth, sempre generosa, ofereceu-lhe o salgadinho, mas ele recusou com um simples aceno de cabeça.

- E por que você acha que está sem ideia? - Keyth voltou ao assunto da inspiração. - Você geralmente nunca tem problema com isso.

Luca suspirou, deixando os ombros caírem.

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