XVII - ... do observador

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Luca entra em casa, os ombros pesados como se carregasse o mundo. A sala de estar está iluminada pela luz suave da tarde, e lá estão Luísa e Keyth no sofá, assistindo algo na TV.

- Oi, Luca – diz sua mãe, com a voz suave de sempre, virando-se um pouco para ele.

- E aí, mano – Keyth levanta a mão com desdém, sem tirar os olhos do programa.

- Oi – responde Luca, com um leve aceno de cabeça, antes de seguir para a cozinha. Ele abre a geladeira, pega uma garrafa d'água e dá longos goles, sentindo o líquido refrescante percorrer sua garganta, mas não aliviando a tensão que sente.

- Como foi a escola hoje? – pergunta Keyth, jogando a pergunta sem muita expectativa.

- Normal... – ele responde, encostando-se ao balcão, esfregando a testa. – Só... tô com dor de cabeça.

- Algum motivo específico? – ela insiste, mais atenta agora.

Luca dá de ombros, evitando contato visual.

- Só pensando demais, eu acho.

A mãe de Luca, preocupada, olha para ele por cima dos óculos de leitura que usava

- Tem remédio na gaveta do criado-mudo, no meu quarto. Vai lá pegar se precisar.

Ele termina a água, guarda a garrafa na geladeira e faz um gesto breve.

- Pego depois.

Sem mais uma palavra, Luca se vira e começa a subir as escadas para o seu quarto. O silêncio é estranho. Keyth e Luísa se entreolham no sofá, surpresas pela atitude fria dele.

Luca fecha a porta do quarto atrás de si, joga a mochila de qualquer jeito na cama e olha para o relógio digital na mesa: 15h30. "Ainda faltam horas", ele pensa, mas sua mente já volta à conversa que teve com os meninos. Connor tinha dito que eles iriam sair às 19h40 e se encontrar na rua da casa de Emett, por ser mais perto do local misterioso. Joshua e Emett concordaram rapidamente, mas Luca hesitou. Então Connor o cutucou, insistindo que ele deveria ir, afirmando que o que ele tinha para mostrar era "muito importante".

Luca suspira, deitando-se na cama e encarando o teto. Como sua vida, que costumava ser tão previsível, havia se transformado em algo tão... caótico? Ele se lembrava dos dias em que sua maior preocupação era tirar notas boas, desenhar, e postar suas artes no Instagram.

"Desenhar..." ele sussurra para si mesmo, sentindo uma pontada de culpa. Fazia dias que ele não postava nada, nem desenhava.

Com esse pensamento em mente, Luca pega o celular e abre o Instagram. Ele nota alguns novos seguidores, e logo se vê cercado por comentários sobre suas últimas postagens. Com curiosidade, começa a ler.

| @aliser00menhor: "Eu amo como sua arte captura a essência de alguém sufocado pela própria mente. Me identifico demais, parece que você sabe o que é viver com ansiedade."

| @pensamentostriviais: "Sua arte traz à tona sentimentos profundos, como se você conseguisse ilustrar o que é sentir o peso do mundo nos ombros."

| @laperrita_ofc: "Cara, suas pinturas me fazem refletir sobre como é estar perdido em pensamentos sombrios."

Luca sente uma mistura estranha de satisfação e desconforto. Ele sempre desenhou por diversão, mas a intensidade com que as pessoas interpretavam suas artes era... inquietante. Estava para sair do app quando algo chamou sua atenção: um comentário diferente dos outros.

| @sonbein_hyung.collins: "Vocês viram o que o fã clube do Viewer postou?! Será que é verdade mesmo?!! Tomara que não 😭😭"

Um frio percorreu sua espinha. "Viewer" era o nome pelo qual ele era conhecido na internet, mas o que estavam falando? Ele clicou no comentário, levando-o para uma série de respostas e conversas que não faziam sentido.

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