XIX - Não falta motivo

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O som da porta se fechando atrás dos garotos ressoou pelo ambiente pesado do porão. O cheiro azedo e forte de mofo e bebida fermentada os envolvia, tornando a respiração quase insuportável. Com apenas a luz de seus celulares iluminando o espaço, sombras densas se espalhavam pelas paredes, enquanto eles exploravam cada canto daquele lugar esquecido. Connor ia na frente, com passos firmes, enquanto os outros três o seguiam um tanto relutantes.

– Cara, o cheiro aqui é insano – Emett reclamou, tampando o nariz. – Como é que alguém aguentava ficar aqui por mais de cinco minutos?

– Talvez ninguém tenha realmente aguentado – Luca murmurou, com um tom tenso, olhando ao redor com desconfiança. As prateleiras estavam cobertas de poeira, e o chão de concreto tinha manchas antigas que eles preferiam não saber a origem.

Joshua, apesar do desconforto, parecia o mais calmo do grupo. Ele balançou a cabeça em direção ao Emett.

– Relaxa, cara. Você já entrou em lugares piores quando tava correndo com o teu patins por aí.

Emett deu uma risadinha curta, embora claramente não estivesse à vontade.

– Bom, pelo menos nesses lugares eu podia sair rápido. Aqui parece que estamos presos numa... caixa fedida.

Luca lançou um olhar preocupado para Connor, que continuava andando em silêncio pelo porão, passando os dedos nas paredes desgastadas.

– O que de importante a gente veio fazer aqui? – Luca finalmente quebrou o silêncio, sua voz soando baixa, mas firme. – Tem algo que você quer nos mostrar, não tem?

Connor parou no meio do cômodo, o som dos outros passos também cessando quando os garotos se agruparam perto dele. Ele virou lentamente a cabeça para Luca, os olhos sombrios e duros, como se revivesse memórias que o estavam consumindo.

– Sim... – Connor começou, respirando fundo. – Eu trouxe vocês aqui por um motivo. Esse lugar... – Ele olhou ao redor, o asco evidente em sua expressão. – ...não é só um porão velho e esquecido. Ele guarda algo muito pior.

Joshua franziu a testa.

– Pior? Tipo o quê?

Connor esfregou o rosto com as mãos, o peso das palavras que viria a seguir parecia esmagá-lo. Quando finalmente voltou a falar, sua voz estava baixa, mas carregada de uma raiva contida.

– Foi aqui que minha irmã morreu.

Os garotos congelaram no lugar. O choque percorreu o grupo como uma onda silenciosa. Luca sentiu o corpo tenso, como se o peso daquela frase se alojasse em seu peito, tornando difícil até mesmo respirar.

Emett, sempre tão brincalhão, agora parecia sem palavras. Ele apenas olhou para Connor, esperando que ele continuasse, sem saber o que dizer.

– Sua irmã...? – Joshua foi o primeiro a se manifestar, sua voz cautelosa.

Connor assentiu, os olhos fixos em algum ponto distante na escuridão do porão.

– Ela foi trazida aqui... por Ryan e pelos caras do time de basquete – Connor cuspiu os nomes como se fossem veneno. – Eles a forçaram a usar entorpecentes... e depois... – Ele fez uma pausa, o maxilar trincado. – Depois a usaram como brinquedo.

O silêncio que caiu sobre o grupo era palpável, quase sufocante. Luca, que sempre mantinha uma postura mais reservada, sentiu seu estômago se revirar com aquelas palavras. “Brinquedo...?” Era como se a mente dele não pudesse processar completamente o que isso significava, mas o significado, cruel e sujo, estava ali, claro como o dia.

Emett foi quem quebrou o silêncio, a voz trêmula, cheia de incredulidade.

– O que... o que você quer dizer com ‘brinquedo’, Connor?

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