O ar estava pesado, carregado com a tensão de tudo que tínhamos passado. Nos escondíamos em uma velha fábrica abandonada, longe de tudo e todos. As máquinas enferrujadas e o som de gotas d'água ecoando pelo teto davam uma sensação de desolação profunda.
Eu observava meus amigos, tentando absorver o que havíamos descoberto. Luna estava pálida, mais quieta do que o habitual. O peso das revelações sobre seu irmão e o controle que sofria pareciam esmagá-la. Thomas, ao seu lado, estava mergulhado em silêncio, tentando processar que a garota que lutava ao seu lado era a mesma irmã que ele perdeu anos atrás. A reconciliação entre os dois parecia cheia de dor e perguntas não respondidas.
Foi então que Mel quebrou o silêncio.
— Eu tenho algo que preciso contar — sua voz estava baixa, mas decidida. Todos nós voltamos os olhares para ela. Eu nunca tinha visto Mel tão séria. Normalmente, ela era a energia do grupo, sempre trazendo uma piada ou uma palavra de encorajamento.
— O que foi? — perguntei suavemente, sentindo que o que ela estava prestes a dizer seria difícil de ouvir.
Mel respirou fundo, como se buscasse coragem nas sombras ao nosso redor.
— Eu não sou quem vocês pensam que sou — começou, com uma expressão endurecida. — Eu fui vendida para os cientistas. Pela minha própria mãe.
A sala mergulhou em um silêncio de choque.
— Vendida? — George foi o primeiro a reagir, sua voz cheia de incredulidade. — Pela sua mãe?
Mel assentiu, com um olhar amargo.
— Desde que eu era pequena, minha mãe nunca me quis de verdade. Quando comecei a manifestar meu poder, ela me odiou. E quando os cientistas vieram, oferecendo dinheiro, ela não hesitou. Ela me entregou como se eu fosse um objeto.
Minha garganta apertou. A ideia de uma mãe vendendo a própria filha me encheu de raiva e tristeza.
— Eles fizeram coisas horríveis comigo — continuou Mel, a voz embargada. — Me testaram, me usaram... E foi assim que eu descobri o que podia fazer. Eu sobrevivi, mas não sou a mesma pessoa de antes.
George caminhou até ela e a abraçou forte. Mel se agarrou a ele, finalmente deixando as lágrimas caírem.
Eu estava prestes a dizer algo, quando Luna se levantou de repente. Seus olhos estavam sombrios e determinados, quase como se estivesse se despedindo.
— Luna? — perguntei, sentindo um arrepio na espinha.
Ela olhou para mim, depois para Thomas, e suspirou profundamente.
— Eu... fui criada para trair vocês — disse ela, a voz vacilando. — Eu lutei contra isso, mas eles têm controle sobre mim. Agora, tenho que fazer uma escolha. A mais difícil de todas.
Thomas deu um passo à frente, alarmado.
— Do que você está falando? — ele perguntou, os olhos se enchendo de dor.
Luna olhou para ele, os olhos cheios de lágrimas.
— Eles ameaçaram você, Thomas. Eles vão te matar se eu não fizer o que mandam. E agora... eu preciso impedi-los da única forma que posso.
O pânico cresceu dentro de mim. Eu sabia o que Luna estava prestes a fazer.
— Não! — implorei. — Podemos encontrar outra maneira. Não precisa ser assim!
— Não há outra escolha — disse Luna, sua voz firme apesar das lágrimas. — Se eu não fizer isso, todos vocês estarão condenados. Eu tenho que ir. Por vocês.
Antes que pudéssemos reagir, Luna começou a caminhar em direção à saída. Um homem com um olhar frio, vestindo um jaleco, esperava por ela do lado de fora. Um dos cientistas. Um dos que nos criou, nos controlou desde o início.
Thomas deu um passo em direção a ela, desesperado.
— Luna, por favor, não faça isso! — ele gritou, mas ela ergueu a mão, pedindo que ele parasse.
— Eu te amo, irmão — disse Luna, a voz quebrando. — E eu nunca vou deixar que eles te machuquem.
Ela virou-se para o cientista, entregando-se para salvar nossas vidas.
— Eu vou com você — disse ela ao homem. — Mas em troca, você deixa eles em paz.
O cientista sorriu, satisfeito.
— Por enquanto.
E com essas palavras, Luna desapareceu com ele na escuridão.
Nós ficamos lá, em silêncio, consumidos pela perda. Sabíamos que Luna havia feito isso por nós, mas a dor era insuportável. A sensação de que algo muito maior estava em jogo pairava sobre nós como uma sombra.
Mel soluçava baixinho nos braços de George. Thomas estava de pé, olhando para o vazio, sua expressão congelada em dor. Eu não sabia o que fazer, apenas sentia um buraco no peito. Luna se foi, e com ela, parte de nossa esperança.
Antes que qualquer um pudesse falar, o som de um leve bip preencheu o ar. Um dispositivo no chão, deixado por Luna, começou a piscar com uma luz vermelha. Eu o peguei com cuidado, sem entender o que era. Uma mensagem?
Quando a tela do dispositivo piscou e revelou um símbolo — um círculo com um triângulo dentro — meu coração acelerou. Eu já tinha visto esse símbolo antes, em documentos no laboratório do meu pai. Era o emblema da organização secreta que estava por trás de tudo. A mensagem apareceu em seguida:
"Eles estão vindo. E vocês são apenas o começo."
Minhas mãos tremiam enquanto lia. Isso era um aviso. Eles sabiam onde estávamos, e estavam vindo por nós. Mas o que me aterrorizava mais não era a ameaça iminente.
Era a certeza de que, embora tivéssemos perdido Luna, essa batalha estava longe de terminar.
E a maior revelação ainda estava por vir.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Outra Face De Um Imortal
RandomToda a história tem duas versões, a moeda tem dois lados, na balança tem dois pesos e na vida, as vezes as pessoas tem duas caras, principalmente as pessoas que convivem conosco todos os dias, essas são mais misteriosas, por mais que você pense que...