Capítulo 17: Sacrifícios e Segredos

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O ar estava pesado, carregado com a tensão de tudo que tínhamos passado. Nos escondíamos em uma velha fábrica abandonada, longe de tudo e todos. As máquinas enferrujadas e o som de gotas d'água ecoando pelo teto davam uma sensação de desolação profunda.

Eu observava meus amigos, tentando absorver o que havíamos descoberto. Luna estava pálida, mais quieta do que o habitual. O peso das revelações sobre seu irmão e o controle que sofria pareciam esmagá-la. Thomas, ao seu lado, estava mergulhado em silêncio, tentando processar que a garota que lutava ao seu lado era a mesma irmã que ele perdeu anos atrás. A reconciliação entre os dois parecia cheia de dor e perguntas não respondidas.

Foi então que Mel quebrou o silêncio.

— Eu tenho algo que preciso contar — sua voz estava baixa, mas decidida. Todos nós voltamos os olhares para ela. Eu nunca tinha visto Mel tão séria. Normalmente, ela era a energia do grupo, sempre trazendo uma piada ou uma palavra de encorajamento.

— O que foi? — perguntei suavemente, sentindo que o que ela estava prestes a dizer seria difícil de ouvir.

Mel respirou fundo, como se buscasse coragem nas sombras ao nosso redor.

— Eu não sou quem vocês pensam que sou — começou, com uma expressão endurecida. — Eu fui vendida para os cientistas. Pela minha própria mãe.

A sala mergulhou em um silêncio de choque.

— Vendida? — George foi o primeiro a reagir, sua voz cheia de incredulidade. — Pela sua mãe?

Mel assentiu, com um olhar amargo.

— Desde que eu era pequena, minha mãe nunca me quis de verdade. Quando comecei a manifestar meu poder, ela me odiou. E quando os cientistas vieram, oferecendo dinheiro, ela não hesitou. Ela me entregou como se eu fosse um objeto.

Minha garganta apertou. A ideia de uma mãe vendendo a própria filha me encheu de raiva e tristeza.

— Eles fizeram coisas horríveis comigo — continuou Mel, a voz embargada. — Me testaram, me usaram... E foi assim que eu descobri o que podia fazer. Eu sobrevivi, mas não sou a mesma pessoa de antes.

George caminhou até ela e a abraçou forte. Mel se agarrou a ele, finalmente deixando as lágrimas caírem.

Eu estava prestes a dizer algo, quando Luna se levantou de repente. Seus olhos estavam sombrios e determinados, quase como se estivesse se despedindo.

— Luna? — perguntei, sentindo um arrepio na espinha.

Ela olhou para mim, depois para Thomas, e suspirou profundamente.

— Eu... fui criada para trair vocês — disse ela, a voz vacilando. — Eu lutei contra isso, mas eles têm controle sobre mim. Agora, tenho que fazer uma escolha. A mais difícil de todas.

Thomas deu um passo à frente, alarmado.

— Do que você está falando? — ele perguntou, os olhos se enchendo de dor.

Luna olhou para ele, os olhos cheios de lágrimas.

— Eles ameaçaram você, Thomas. Eles vão te matar se eu não fizer o que mandam. E agora... eu preciso impedi-los da única forma que posso.

O pânico cresceu dentro de mim. Eu sabia o que Luna estava prestes a fazer.

— Não! — implorei. — Podemos encontrar outra maneira. Não precisa ser assim!

— Não há outra escolha — disse Luna, sua voz firme apesar das lágrimas. — Se eu não fizer isso, todos vocês estarão condenados. Eu tenho que ir. Por vocês.

Antes que pudéssemos reagir, Luna começou a caminhar em direção à saída. Um homem com um olhar frio, vestindo um jaleco, esperava por ela do lado de fora. Um dos cientistas. Um dos que nos criou, nos controlou desde o início.

Thomas deu um passo em direção a ela, desesperado.

— Luna, por favor, não faça isso! — ele gritou, mas ela ergueu a mão, pedindo que ele parasse.

— Eu te amo, irmão — disse Luna, a voz quebrando. — E eu nunca vou deixar que eles te machuquem.

Ela virou-se para o cientista, entregando-se para salvar nossas vidas.

— Eu vou com você — disse ela ao homem. — Mas em troca, você deixa eles em paz.

O cientista sorriu, satisfeito.

— Por enquanto.

E com essas palavras, Luna desapareceu com ele na escuridão.

Nós ficamos lá, em silêncio, consumidos pela perda. Sabíamos que Luna havia feito isso por nós, mas a dor era insuportável. A sensação de que algo muito maior estava em jogo pairava sobre nós como uma sombra.

Mel soluçava baixinho nos braços de George. Thomas estava de pé, olhando para o vazio, sua expressão congelada em dor. Eu não sabia o que fazer, apenas sentia um buraco no peito. Luna se foi, e com ela, parte de nossa esperança.

Antes que qualquer um pudesse falar, o som de um leve bip preencheu o ar. Um dispositivo no chão, deixado por Luna, começou a piscar com uma luz vermelha. Eu o peguei com cuidado, sem entender o que era. Uma mensagem?

Quando a tela do dispositivo piscou e revelou um símbolo — um círculo com um triângulo dentro — meu coração acelerou. Eu já tinha visto esse símbolo antes, em documentos no laboratório do meu pai. Era o emblema da organização secreta que estava por trás de tudo. A mensagem apareceu em seguida:

"Eles estão vindo. E vocês são apenas o começo."

Minhas mãos tremiam enquanto lia. Isso era um aviso. Eles sabiam onde estávamos, e estavam vindo por nós. Mas o que me aterrorizava mais não era a ameaça iminente.

Era a certeza de que, embora tivéssemos perdido Luna, essa batalha estava longe de terminar.

E a maior revelação ainda estava por vir.

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