Eu tinha aprendido a ser forte. Ou, pelo menos, era isso que dizia a mim mesma todos os dias quando olhava para o espelho. A vida é assim: nem sempre você escolhe o que vai perder, mas precisa lidar com o que sobra. Quando meu relacionamento com Manuel acabou, eu sabia que precisaria juntar meus pedaços rápido — por mim e, principalmente, por Harry. No início, foi como correr com o tanque vazio, uma batalha constante para não desabar na frente dele. Com o tempo, aprendi a desacelerar, a respirar, a entender que alguns sonhos ficam pelo caminho para que outros possam florescer.
Mas aí Charles apareceu. E o que eu construí com tanto esforço começou a desmoronar.
Foi uma noite de primavera em Mônaco. Eu estava lá a trabalho, participando de um evento beneficente, sorrindo e posando para fotos como se não houvesse uma parte minha que ainda carregava cicatrizes. Naquela noite, eu o vi pela primeira vez. Ele era jovem, mais jovem do que eu imaginava quando o via na televisão, falando para jornalistas depois das corridas. No entanto, havia algo em Charles que me surpreendeu: ele parecia normal, genuíno. Não era apenas o piloto estrela da Ferrari que todos veneravam. Não era só o garoto prodígio das pistas que arriscava tudo por vitórias. Era um homem, e algo nele fazia eu me sentir menos sozinha, ainda que eu não soubesse o motivo.
Conversamos por alguns minutos. Rimos. Ele era engraçado e carismático, e, por mais que eu tentasse me afastar, era como se Charles tivesse uma maneira própria de invadir o espaço que eu sempre mantive fechado. Quando fui para casa naquela noite, pensei que nunca mais nos veríamos. Só mais uma interação passageira no mundo de rostos famosos e histórias efêmeras. Mas não foi assim.
Na semana seguinte, Charles me convidou para um café. E depois, outro. E, antes que eu pudesse perceber, ele estava entrando na minha vida como uma rajada de vento, bagunçando todas as certezas que eu havia conquistado com tanto custo. Não era para ser nada sério — pelo menos, era isso que eu me dizia. Mas, de alguma forma, ele estava lá. Cada vez mais próximo. E eu não sabia se era capaz de lidar com aquilo.
— Ele já está dormindo? — Charles perguntou baixinho, com um sorriso suave, inclinando-se contra o batente da porta do quarto de Harry.
Acenei, fechando a porta devagar para não fazer barulho.
— Desmaiou depois de dois capítulos de O Pequeno Príncipe — sussurrei, uma ponta de orgulho atravessando minha voz. — Esse livro sempre funciona.
— Você é uma mãe incrível, sabia? — Ele lançou-me um olhar que eu não soube como devolver. Algo na simplicidade dele sempre me desarmava.
Agradeci com um sorriso discreto e fui até a sala, sentando-me no sofá e puxando uma manta sobre as pernas. Charles veio logo atrás, sem pressa, como se já pertencesse àquele espaço — ao meu espaço. Mas isso era impossível, e parte de mim sabia disso. Ele se sentou ao meu lado, próximo o bastante para que eu sentisse o calor de seu corpo. O cheiro suave de sua loção pós-barba era uma lembrança constante de que eu estava me deixando levar por algo que não deveria.
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Parabólica| Imagine Athletes
Fanfictionparabólica; - última curva do circuito de Monza, Itália, um setor ícone. - parabolica agora é um setor moderno. - onde eu escrevo imagines com seus atletas favoritos.