Eu não sou uma pessoa de acordar cedo. Para mim, as manhãs sempre tiveram um gosto de ressaca, mesmo quando eu não bebo. O ar parece mais pesado, os sons mais intensos, como se o mundo fosse feito para te obrigar a andar na linha. Não era diferente naquela terça-feira.Estava sentada na varanda do meu apartamento, o mesmo onde cresci com meu pai, ouvindo um vinil do Charlie Brown Jr. O som do rock brasileiro preenchia o ar enquanto o cigarro queimava entre os meus dedos. "Como Tudo Deve Ser" era uma das minhas músicas favoritas. Sempre me senti conectada àquela letra, como se ela falasse diretamente comigo, como se ela entendesse algo que a maioria das pessoas não entendia.
Naquela manhã, porém, algo estava diferente. Ou melhor, alguém estava diferente: eu. Desde que Jobe entrou na minha vida, uma parte de mim mudou. Só não sabia ainda se isso era bom ou ruim. Às vezes, me sentia fora de lugar ao lado dele, como se estivéssemos destinados a mundos diferentes, e o universo estivesse prestes a nos lembrar disso.
Conheci Jobe há alguns meses, e nunca imaginei que um garoto como ele se interessaria por alguém como eu. Ele era tudo o que eu sempre achei que desprezava: atleta, disciplinado, focado, com um futuro garantido. Eu, por outro lado, vivia no presente. Minha vida girava em torno da música, do caos, de tudo o que era imprevisível. Não fazia planos, porque acreditava que o plano era não ter nenhum.
A primeira vez que nos vimos foi numa festa da Clara, uma amiga em comum. Eu estava sentada num canto, bebendo cerveja e discutindo letras de música com alguns conhecidos, quando ele apareceu do nada, meio tímido, meio curioso. Conversamos sobre banalidades no início, mas eu logo percebi que ele tinha algo de diferente. Havia uma calma em seus olhos, um tipo de força silenciosa. Ele parecia tão fora de lugar ali quanto eu, e foi isso que me fez prestar mais atenção nele.
Conforme as semanas passaram, comecei a gostar da companhia de Jobe. Ele era o oposto de tudo o que eu conhecia, mas, de alguma forma, estar com ele me fazia sentir menos perdida. E, ainda assim, havia algo em mim que gritava, que me lembrava que as pessoas como ele têm destinos traçados. Destinos que não incluem garotas como eu.
O telefone vibrou ao meu lado, interrompendo meus pensamentos. Era uma mensagem de Jobe.
"Posso passar aí depois do treino?"
Li a mensagem e demorei alguns segundos antes de responder. Por algum motivo, senti um nó no estômago. Sabia que havia algo pairando sobre nós, algo que nenhum de nós queria confrontar, mas que estava cada vez mais difícil de ignorar. Respirei fundo e digitei.
"Claro."
Passei o resto da manhã tentando me distrair, mas minha mente continuava voltando para ele, para nós, para o que estávamos nos tornando. A verdade é que eu nunca gostei de depender de ninguém, e desde que Jobe entrou na minha vida, me sentia cada vez mais vulnerável. Eu sempre fui o tipo de pessoa que mantinha o mundo à distância. Era mais seguro assim. Menos chances de se machucar.
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Parabólica| Imagine Athletes
Fanfictionparabólica; - última curva do circuito de Monza, Itália, um setor ícone. - parabolica agora é um setor moderno. - onde eu escrevo imagines com seus atletas favoritos.