AO SAIR DA SALA DO CONSELHO, cada passo pesa mais que o anterior, como se as palavras lá dentro fossem correntes invisíveis. O frio do lado de fora não traz o alívio esperado; ao contrário, parece se alojar dentro de mim, se misturando à confusão em minha mente. Drakar — mesmo ausente, sua presença queima em minha pele. Os olhares naquela sala pareciam saber o que me recuso a admitir.
Quando chego à sacada, o vento cortante e o mar ao leste, com suas ondas que batem nos penhascos, não me acalmam. O céu dourado e rosa ao amanhecer é belo, mas inalcançável. O castelo ao sul, com sua ponte de pedra e estandartes tremulando, parece distante, como se eu não pertencesse mais a ele. Os guardas me seguem à distância, mas também sinto outra presença. Mesmo com a vastidão do mar e do céu, estou presa na minha própria confusão.
— Rainha Eleanor. — A voz grave e controlada me chamou, interrompendo meus pensamentos.
Olho para trás e vejo Lord Aeliron Thorne. Já o tinha notado antes – como não notar? – mas nunca havíamos trocado mais do que algumas palavras. Ele tem a minha idade, mas há uma maturidade em seus olhos que o faz parecer muito mais velho, como alguém que já conheceu mais sombras do que luz. Seus olhos cinzentos me analisam de forma intensa, como se cada movimento meu revelasse segredos que nem eu sei ter. Seus cabelos escuros, soltos sobre os ombros, movem-se suavemente com a brisa, e ele parece tão imperturbável, tão seguro de si, que é difícil não sentir um contraste gritante com a tempestade dentro de mim.
Aeliron se aproxima, seus passos são suaves sobre o caminho de pedras, quase se perdendo no silêncio. O ar está denso, carregado de uma calma enganosa que contrasta com o turbilhão em minha mente. Eu observo suas mãos cruzadas atrás das costas, o jeito meticuloso com que ele move o corpo, cada gesto calculado. O olhar dele... frio e cinzento, não me deixa escapar.
— Parece que a reunião trouxe mais do que simples decisões políticas, — ele disse, com a voz baixa, grave, carregada de uma compreensão que me incomoda. Há algo por trás de suas palavras, algo que eu não queria explorar.
Meu olhar foge para o horizonte, tentando evitar a intensidade daquela presença sufocante. O vento do leste, vindo do mar, bate em meu rosto, trazendo consigo o cheiro de sal e maresia. Eu deveria encontrar conforto ali, mas tudo o que sinto é uma inquietação crescente.
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Hydrazar
FantasyEm Thalador, um reino que ainda lambe as feridas da devastadora Batalha dos Syndarion, ocorrida há mais de 300 anos, os vestígios de destruição são onipresentes. Os mestres da água e seus temíveis dragões de gelo, os Glacithor, foram supostamente ex...