Abril de 2018
As coisas mudaram depois daquele dia que esbarrei em Peter e que ele me encontrou sentada na pracinha.
Nos tornamos grandes amigos. Uma conexão que eu havia sentido apenas com a minha melhor amiga da vida, mas um pouco diferente.
Qual a diferença? Não saberia explicar, porque ainda não descobri.
Fazíamos tudo juntos. Íamos para a faculdade no meu carro, saíamos no fim de tarde pra comer açaí, íamos em festas juntos e inclusive passávamos tempo no balanço da pracinha. Ele me fazia bem como nunca antes me senti com um amigo homem. Me sentia em paz e até mesmo protegida.
Peter era um bom ouvinte e eu amava isso nele. Ficava horas me escutando desabafar, e no fim de tudo, me abraçava e me confortava. Nada melhor do que sentir tranquilidade no abraço de outra pessoa.
Nossos dias eram mais leves quando estávamos juntos, o que até mesmo era um pouco estranho, porque eu nunca antes havia sentido algo do tipo por alguém, nem mesmo pelos meus dois últimos namorados. Mas claro, nesse caso é diferente, porque Peter é meu amigo.
Como tudo que fazemos é juntos, combinamos esse fim de semana de viajarmos para a praia. Eu, ele, Eugenia e o boy que ela tá saindo, até porque, segurar vela para a minha melhor amiga era o que fazíamos de melhor.
A questão é que ainda não falei com meus pais, apesar de já ser maior de idade, eu precisava avisar e deixar claro onde eu estava indo, já que ainda morava com eles.
Depois de tomar um banho, desci já arrumada para o jantar. Assim que cheguei na sala, meu pai estava sentado na mesa, enquanto minha mãe estava no sofá, bebendo uma taça de vinho branco.
— Oi petisa! — Ele disse assim que me viu. Me aproximei e lhe dei um beijo na bochecha, logo abrindo um sorriso sapeca. — Fale o que você quer. — Eu ri pelo nariz. Ele sempre sabia.
— Eu vou viajar esse fim de semana com o Peter, a Eugenia e o Nico. Tá bom? — Falei avisando. Meu pai deu de ombros.
— Engraçado que essa menina não pede mais permissão para sair, apenas informa as coisas. — Minha mãe disse com um tom de deboche, mas eu respirei fundo, eu sabia que se eu respondesse seria pior.
— É uma viagem de casais? — Eu ri pelo nariz de novo.
— Claro que não, pai. Eu e Peter somos apenas amigos, vamos viajar pra segurar vela pra China mesmo. — Nós dois rimos e meu pai balançou a cabeça.
— Seu pai tinha uma amiga que ele dizia isso também, que eram apenas amigos. — Minha mãe falou debochada e meu pai a olhou surpreso com o comentário. Sua expressão ficou estranha e ele rapidamente ficou sério.
— Eu não tenho nada com Peter. — Rolei os olhos e ela riu.
— Ele pelo menos tem dinheiro? — Rolei os olhos mais uma vez e ignorei aquela pergunta.
— Enfim, pai, só queria informar que estou saindo para viajar amanhã pela manhã e volto no domingo à noite. — Meu pai assentiu. — Vou fazer um sanduíche para jantar e vou para o meu quarto.
— Tudo bem, petisa. Só não esqueça de avisar se está tudo bem. — Eu assenti para ele, lhe dei um beijo estalado na bochecha e virei as costas, saindo do ambiente. Mas, quando pensei em sair, escutei algo e me escondi no corredor para saber do que se tratava. — Mabel, você ficou maluca em falar aquilo para Mariana? — Meu pai disse irritado.
— Maluca porque? Eu disse alguma mentira? — Ela perguntou em tom de deboche. — Quando você fica irritadinho dessa forma, deixa ainda mais claro que você teve algo com sua grande amiga no passado.
— Mabel, eu já disse que não quero falar sobre isso em casa. Nunca, está me entendendo? — Escutei minha mãe rir pelo nariz, mas acho que ela concordou, pois o silêncio voltou a reinar no ambiente.
É no mínimo estranho que meu pai não queira citar uma amiga, ainda mais uma grande amiga. Aliás, nunca antes vi nenhum dos dois citar essa pessoa. Uma pena que não disseram o nome, pois minha curiosidade seria tanta que eu certamente iria buscá-la.
Subi as escadas e digitei uma mensagem para Peter e Eugenia, dizendo que já havia deixado meus pais avisados e que iria certo para a praia com eles. Apesar de morarmos numa cidade com praia, como Florianópolis, gostávamos de migrar para as praias do lado que eram tão lindas quanto.
Peter me respondeu em seguida, dizendo que não via a hora de fazermos essa viagem. Franzi a testa achando estranho, mas dei de ombros, logo tratando de colocar uma música para eu começar a arrumar minha pequena mala para o fim de semana.
Alguns minutos depois, meu celular parou a música por conta de uma ligação de vídeo que eu estava recebendo. Sorri ao ver que se tratava da minha avó, e atendi em seguida.
— Alguém está criando uma boa relação com seu próprio celular? — Brinquei com ela e a mesma me fez uma careta.
— Engraçadinha! Eu aprendo fácil as coisas que você me ensina. — Eu ri pelo nariz. — Bom, algumas coisas, por isso é mais fácil atravessar a rua. — Nós duas rimos. — Só liguei para saber como andam as coisas por aí, princesa.
— Tudo na mesma, vó, mas um pouco mais calmo. — Sorri sem mostrar os dentes. — Você sabe que eu evito ao máximo ficar no mesmo ambiente que a minha mãe. Inclusive, ela tentou me cutucar quando desci para avisar que eu iria viajar esse fim de semana. — Rolei os olhos e suspirei.
— Não vou perguntar com o que, porque pode ser mínimo, sua mãe implica com qualquer coisa que você queira fazer. — Assenti chateada com aquela afirmação.
— Ela implicou porque disse que eu e Peter somos apenas amigos. Disse que meu pai tinha uma amiga que ele falava a mesma coisa. — Minha avó mudou de expressão do mesmo segundo. — Inclusive, quando eu estava saindo, escutei ele reprimi-la por tocar nesse assunto.
— Seu pai teve uma melhor amiga de infância. Uma amizade que durou até a adolescência. — Franzi a testa ficando mais curiosa com aquela história.
— E porque eles não são mais amigos? — Vi minha avó coçar a nuca meio sem jeito, o que me fez achar ainda mais estranho.
— Porque ela precisou ir estudar fora do Brasil e eles acabaram se afastando. — Ela deu de ombros. — Bom, princesa, melhor você descansar para poder fazer uma boa viagem amanhã. Mande um beijo para seus amigos. Amo você! — E antes que eu pudesse responder ou perguntar qualquer coisa, ela desligou.
Minha avó desligou na minha cara.
Porque diabos todo mundo ficava nervoso quando tocávamos nesse assunto da amiga?
Bufei e voltei a atenção para as minhas coisas, terminando de arrumá-las e tratando de ir deitar, pois amanhã seria um grande dia para me divertir e afastar qualquer pensamento negativo possível.
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Por nossos filhos
FanfictionMelhores amigos desde que nasceram, Dulce e Christopher estavam sempre grudados e, juntos, acabam descobrindo um sentimento a mais. Porém, o destino é algo que não se pode prever, e assim muitas coisas acontecem, bagunçando tudo e fazendo com que am...