Capítulo III: À Beira do Abismo.

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Órion seguiu Dante para longe da pista de dança, o coração acelerado e a mente repleta de perguntas. O mundo ao seu redor parecia se distorcer enquanto os sons da boate se tornavam apenas um eco distante. As luzes vibrantes que antes refletiam em cada superfície agora se transformavam em sombras profundas, longas e misteriosas, sussurrando segredos que ele ainda não estava pronto para ouvir.

Finalmente, Dante parou em um canto isolado, longe dos olhares curiosos. As luzes escassas lançavam sombras afiadas sobre seu rosto, realçando a intensidade perigosa de seus olhos. Ele não disse nada por um momento, apenas observou Órion com uma expressão que oscilava entre curiosidade e desdém.

- Você não tem ideia do que está se metendo. - disse Dante, a voz baixa e carregada de advertência. Seus dedos, ainda entrelaçados nos de Órion, eram como garras frias, e o toque enviava um calafrio direto à espinha de Órion.

- Estou apenas tentando entender. - respondeu Órion, sua voz soando mais hesitante do que ele gostaria. Ele tentou se recompor, afastando a sensação de vulnerabilidade. - Por que você é assim? O que te faz ser tão... frio?

Dante soltou um sorriso sarcástico, mas seus olhos não refletiam humor.

- Não há espaço para romantismos aqui. A vida é cruel, ruivinho. Você ainda não aprendeu isso? - Suas palavras cortavam como lâminas, afiadas e implacáveis.

Órion sentiu o peso daquela afirmação. Ele conhecia a dor, mas recusava-se a acreditar que o amor era só mais uma forma de sofrimento. Seu coração batia mais forte, não apenas pelo medo, mas pela urgência de desafiar aquela visão de mundo.

- Eu não acredito que o amor é sinônimo de dor. - retrucou, a determinação surgindo em seu peito. - Há força na vulnerabilidade.

Dante riu, mas era um riso vazio, sem alegria.

- Vulnerabilidade? - ele disse, aproximando-se um pouco mais, sua presença esmagadora. - Nesse mundo, a fragilidade é um convite à destruição. E você está em um lugar onde as pessoas se alimentam exatamente disso.

Órion engoliu em seco, mas não recuou. Ele sentia o peso das palavras de Dante, mas sua curiosidade, sua necessidade de entender, superava o medo.

- E se eu não me importar com isso? - Ele deu mais um passo à frente, sua voz desafiadora. O ar entre eles parecia eletrificar-se, carregado de uma tensão que ambos sentiam, mas nenhum mencionava.

A provocação no olhar de Dante se intensificou, mas havia algo mais ali. Algo que Órion não conseguia decifrar completamente. Dante era um enigma envolto em camadas de dor, mistério e poder, e cada nova palavra parecia desenterrar mais desse abismo.

- Você realmente acha que pode sobreviver ao que está prestes a descobrir? - Dante perguntou, sua voz suave como um sussurro de ameaça. - Isso não é um jogo, Órion. Você não está preparado para as sombras que andam por aqui.

Órion prendeu a respiração. Ele queria dizer que estava pronto, que não tinha medo, mas sabia que aquilo seria uma mentira. O medo estava lá, pulsando em sua mente, tentando fazê-lo recuar. Mesmo assim, ele não cederia. Não podia.

- Então me ensine. - pediu, sua voz quase um sussurro, mas carregada de uma determinação inabalável. - Se as sombras são o que preciso enfrentar, eu quero aprender.

O silêncio entre eles se prolongou, pesado, enquanto Dante o observava. Seus olhos analisavam Órion como se estivessem desnudando sua alma, procurando por fraquezas, por brechas. Mas Órion permaneceu firme, segurando o olhar de Dante, mesmo que sentisse cada segundo como uma luta.

Dante soltou um suspiro, longo e profundo, como se estivesse carregando um fardo invisível.

- Você não sabe no que está pedindo para se envolver. - ele murmurou, recuando alguns passos. - Você acha que pode encarar as sombras, mas elas vão devorar você antes que perceba o que aconteceu.

A frustração crescia dentro de Órion, fervendo por trás de sua calma aparente. Ele não sabia o que esperava daquele encontro, mas sentia que estava à beira de algo grande, algo que poderia mudar tudo. E, ainda assim, Dante parecia determinado a mantê-lo afastado.

- O que você tem a perder? - desafiou Órion, sua voz firme e incisiva. - Você se diz tão experiente, mas parece que é você quem tem medo de se abrir.

Dante sorriu de lado, mas o sorriso não alcançou seus olhos. Era um gesto frio, calculado.

- Você não sabe nada sobre mim, garoto. E é melhor que continue assim.

Órion sentiu um misto de raiva e desejo crescendo em seu peito. Ele sabia que estava brincando com fogo, que cada palavra o levava mais para o precipício, mas algo dentro de si o empurrava adiante.

- Você é chato! - disse Órion. - Por que não conversa comigo com palavras que eu possa entender?

Dante ficou em silêncio, seus olhos escurecendo como se estivesse lidando com um conflito interno. A tensão no ar parecia tangível, pesada, como se o mundo ao redor deles estivesse aguardando por algo decisivo.

De repente, Dante se virou, seus olhos cravando-se no céu além das paredes da boate. A lua, antes escondida por entre as nuvens, agora surgia em um tom de vermelho profundo e ameaçador. Uma lua de sangue.

Órion seguiu o olhar de Dante e sentiu o estômago se revirar ao ver o brilho sinistro no céu. A atmosfera ao redor deles parecia mudar, o ar tornando-se mais denso e carregado de uma energia opressiva.

Dante, no entanto, não hesitou. Sua expressão endureceu, e qualquer traço de brincadeira ou desdém desapareceu de seu rosto. Ele olhou para Órion com uma frieza renovada, como se tivesse acabado de tomar uma decisão final.

- Volte para casa. - ordenou Dante, sua voz cortante como lâminas de gelo. - E não volte mais aqui.

Órion piscou, confuso com a mudança repentina.

- O quê? Do que você está falando? - Ele deu um passo à frente, mas Dante levantou a mão, interrompendo-o bruscamente.

- Não questione. Eu não vou repetir. - disse Dante, mais severo. - Você não pertence a este lugar. A partir de agora, considere-se banido desta boate, e não me obrigue a fazer algo que você vai se arrepender.

O coração de Órion disparou. As palavras de Dante eram como um golpe, e ele sentiu o medo começar a se enraizar. Ele queria discutir, mas algo na expressão de Dante, na intensidade de seu olhar, o fez hesitar.

- Mas por quê?

- Hoje é lua de sangue. - Dante respondeu, o tom sombrio. - E sob essa lua, eu não tenho controle. Nem sobre mim, nem sobre o que está prestes a acontecer. E você, Órion, não vai sobreviver a isso.

Órion abriu a boca para responder, mas Dante já estava virando as costas, sua figura desaparecendo nas sombras da boate. O som dos passos dele ecoou por alguns segundos antes de se fundir ao silêncio opressor.

- Não volte. - foi a última coisa que Dante disse, antes de desaparecer por completo.

Órion ficou parado, sozinho, sentindo o peso da advertência. A lua de sangue brilhava intensamente acima de sua cabeça, e, sob aquele brilho, tudo parecia ameaçador.





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Eaí, leitores! Estão curtindo? Fiquem de olho, o próximo capítulo vem aí!

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