Demian estava deitado, o pesadelo ainda pulsando em sua mente. A voz de Azrael ecoava como uma marca indelével, e ele sabia que não conseguiria mais dormir. Cada batida de seu coração renovava o medo, um eco que o perseguia na escuridão.
Sentado em uma cadeira à distância, Dante o observava com uma expressão de cuidado misturada a algo insondável. Quando percebeu a inquietude de Demian, levantou-se e caminhou lentamente até a cama, a decisão estampada em seus olhos.
- Precisa se acalmar, ruivinho. - murmurou Dante, sua voz suave, mas firme. - Não deve carregar tanto medo.
Demian se ergueu, ainda ofegante. - Como você consegue? Eu tive um pesadelo horrível... e você age como se fosse nada!
Dante não respondeu. Em vez disso, se aproximou e segurou Demian com cuidado, deixando os lábios roçarem contra a marca em seu pescoço. A respiração dele era morna e ritmada, como se soubesse exatamente o que fazer para acalmar o garoto. O toque foi como eletricidade, e Demian sentiu a tensão em seu corpo desaparecer, quase sem controle.
- Você precisa entender. - murmurou Dante, o olhar fixo no de Demian. - Querendo ou não, eu devo te proteger.
A tensão no ar era palpável, densa. Demian sentiu a respiração de Dante tocar seu rosto, despertando algo profundo e incontrolável em seu íntimo. Seus olhares se cruzaram, e por um momento, o mundo ao redor desapareceu. Eram apenas os dois, como se nada mais importasse.
- Dante... - Demian sussurrou, a voz embargada de desejo e confusão. - Eu...
Mas antes que pudesse terminar, Dante recuou de repente, seu rosto marcado por um conflito silencioso. Seus olhos desviaram para o chão, como se estivesse travando uma batalha consigo mesmo.
- Eu... preciso de um momento. - Sua voz saiu num murmúrio baixo, quase sufocada.
Demian o observou enquanto ele se afastava, sentindo-se envolvido por uma frustração amarga. O que estava acontecendo? Por que Dante parecia tão diferente, tão distante agora? Seu coração pulsava freneticamente, e ele não sabia como processar o que acabara de vivenciar entre eles.
Dante caminhou até a escada e desceu para a sala, cerrando os punhos como se lutasse contra algo que preferia manter adormecido. Sempre soubera que havia algo mais entre ele e Demian, mas aquele momento de intimidade o pegara de surpresa. Era como se cada fibra de seu ser desejasse voltar, puxar Demian para mais perto e se render ao que sentia. Mas ele sabia - ou ao menos acreditava - que não era o momento.
Na sala, Dante parou diante da janela, olhando fixamente para a noite que o aguardava. O peso da caçada contra Azrael pairava sobre ele, mas era a imagem de Demian que o assombrava, que o fazia vacilar. Nunca se importara tanto com alguém, e o gosto amargo de sua vulnerabilidade o assustava.
- O que está acontecendo comigo? - murmurou para si mesmo, a voz carregada de dúvida e hesitação. - Não posso me permitir isso.
Fechou os olhos, tentando em vão afastar os pensamentos de Demian. O desejo de protegê-lo se misturava ao desejo mais profundo que ele insistia em conter. Dante sabia que a batalha contra Azrael não seria seu maior desafio, mas sim o conflito avassalador entre seus próprios sentimentos e o destino iminente que os envolvia.
[ Horas depois. ]
Já era manhã quando Sebastian chegou à casa de Demian a pedido de Dante. O silêncio era quase palpável, carregado de uma tensão que parecia prestes a explodir. Sebastian entrou com uma expressão séria, enquanto Demian, exausto, e Dante, com sua habitual indiferença, o esperavam.
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Cœur Enchaîné.
VampireEm uma cidade onde as sombras parecem ter vida própria, o destino de dois homens se entrelaça por uma marca que nenhum deles escolheu. Todos sabem que existem vampiros aos arredores - alguns bons, outros mais sombrios - mas entre eles, há um que se...