Capítulo I - Noite de Sombras.

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A boate vibrava com uma energia frenética, as batidas eletrônicas ressoando como o coração da noite. Luzes coloridas explodiam nas paredes escuras, criando sombras inquietas, quase vivas, que pareciam observar cada movimento. Órion, cercado por risos e corpos que se moviam ao ritmo da música, sentia-se à parte, como se estivesse assistindo à cena de fora, desconectado daquele frenesi.

Wendy se aproximou, puxando-o para mais perto do bar, com um sorriso brincalhão.

- Você parece um peixe fora d'água, Órion - ela comentou, percebendo o desconforto nos olhos dele.

- Acho que esse tipo de lugar não é exatamente o meu estilo - respondeu, seus olhos vagando para a pista de dança, onde as pessoas se perdiam na música e no álcool, enquanto ele sentia que estava se perdendo em seus próprios pensamentos.

- Relaxa! O que você precisa é de um drink e um pouco de diversão. Deixa essa timidez de lado! - Ela piscou, chamando a atenção do bartender e pedindo duas bebidas.

Órion soltou um suspiro, tentando se entregar ao momento, mas algo na atmosfera daquela boate parecia mais denso, quase sufocante. E então, ele sentiu. Um arrepio percorreu sua espinha, como se algo - ou alguém - o estivesse observando. Seu olhar foi atraído para o canto mais escuro do bar, onde uma figura solitária se destacava, envolta pelas sombras.

Era como se o ambiente ao redor daquela figura se dobrasse, como se a escuridão se curvasse a ele. Valmont Dante. O nome surgiu antes que Órion pudesse sequer perguntar a si mesmo quem era. Seu semblante misterioso, o olhar profundo e enigmático... havia algo nele que gritava perigo, mas também um magnetismo irresistível.

- Quem é aquele? - Órion perguntou, sem desviar o olhar.

Wendy seguiu o olhar dele e sorriu de lado.

- Valmont Dante. Ouvi dizer que ele é... diferente. Dizem até que é um vampiro. - Ela riu baixinho. - Misterioso, perigoso e muito, muito atraente.

O coração de Órion bateu mais rápido. Ele se sentiu puxado para aquele homem de uma maneira que não conseguia explicar. Mas ao mesmo tempo, havia algo em Dante que o fazia hesitar. Como se uma voz em sua mente dissesse para manter distância. Contudo, quando seus olhos se encontraram, o ar pareceu congelar. O olhar de Dante era frio e intenso, como uma lâmina que penetrava além da pele, sondando sua alma.

- Vai até ele? - provocou Wendy, arqueando uma sobrancelha, já percebendo o fascínio no olhar de Órion.

- Não... eu só... estou curioso. - ele respondeu, tentando disfarçar a inquietação que crescia dentro de si.

Dante sorriu de leve, um sorriso que não alcançava os olhos. Era um gesto quase imperceptível, mas carregado de algo sombrio. Antes que Órion pudesse desviar o olhar, Dante começou a se aproximar, movendo-se com uma elegância quase sobrenatural. Cada passo seu parecia trazer consigo uma sombra ainda mais densa, como se a própria noite o seguisse.

- Você deve ser novo por aqui. - disse Dante, sua voz baixa e rouca, como um murmúrio que reverberava na mente de Órion.

Órion engoliu em seco, sentindo a presença de Dante como um peso invisível.

- Sou, na verdade... - começou, mas Dante o interrompeu com um gesto desinteressado, seus olhos agora voltados para o bar.

- Não importa. Este lugar não é para sonhos românticos, ruivinho. - O tom de desdém em sua voz era inconfundível, uma provocação que fez o sangue de Órion ferver.

- Eu não tenho sonhos românticos, e eu tenho nome. - Órion retrucou, sua voz carregada de uma raiva que ele não esperava sentir. - Pra você é Demian Órion!

Dante parou por um momento, então voltou a encará-lo, um brilho predador em seus olhos.

- Tanto faz. - A intensidade no olhar de Dante fez Órion hesitar, como se fosse impossível se esconder daquele homem. Era como se, de alguma forma, Dante pudesse ver cada insegurança, cada medo, cada desejo não revelado.

Órion tentou manter a compostura, embora sentisse suas defesas se desmoronando.

- E você? - desafiou Órion, cruzando os braços. - Acha que sabe tudo sobre o amor?

O sorriso de Dante se alargou, mas seu olhar se tornou ainda mais cínico.

- Experiência, garoto. Isso é tudo que você precisa saber.

A tensão entre eles era palpável. Órion sentia a raiva e a atração lutando dentro de si. Havia algo naquele vampiro que o atraía de forma quase incontrolável, como uma força gravitacional que ele não conseguia evitar, por mais que quisesse.

- Eu adoraria ser amado um dia. - As palavras escaparam de Órion antes que ele pudesse impedi-las, e ele imediatamente se sentiu vulnerável diante daquele homem.

Dante inclinou-se para mais perto, sua presença dominando todo o espaço entre eles. Seus lábios estavam próximos demais, e Órion podia sentir a frieza do ar ao seu redor.

- Cuidado com o que deseja, garoto. - A voz de Dante era um sussurro quase letal. - Algumas coisas... não devem ser descobertas.

E com isso, Dante se afastou, deixando Órion sozinho com a adrenalina ainda correndo em suas veias e um coração que batia descompassado. Ele não sabia se estava mais irritado ou mais intrigado.


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Peço desculpas por qualquer erro gramatical que possa ter passado despercebido. Espero de coração que gostem!

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