Distância.

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  Já faz alguns anos que o silêncio se instaurou entre nós. Dois anos? Três? Fizemos dele nossa linguagem: a comunicação sutil que somente nós compreendemos, carregada de carícias trocadas em cada olhar, de um diálogo infindável que acontece entre esse silêncio, carregado de tudo o que poderíamos ser, mas não somos.
Duas pessoas que se olham, se querem, que se conhecem, que se entendem… Que se contentam com um toque singelo e talvez até proposital das mãos quando há oportunidade. Que se contentam com os ombros se tocando, primeiro por acaso, depois por escolha. E ficamos assim, em silêncio, querendo que esse instante durasse para sempre, sentindo a proximidade que não podíamos permitir que fosse além. Era um conforto agridoce, saber que ele estava ali, mas ao mesmo tempo sentir a distância que as circunstâncias impunham. Porque, agora, há uma linha que não podemos cruzar. Estamos  separados pelos longos anos que se passaram e pela possibilidade de um novo fim, tão doloroso quanto o primeiro.
    Às vezes ainda tentamos fazer dar certo, mais uma vez, esperançosos e reanimados pela lembrança morna de dias felizes mas, como de costume, a certeza intransponível ressurge cada vez mais concreta, nos lembrando que o fim será sempre o mesmo. Mas eu sempre te conheço. Apesar das várias mudanças que sofremos durante os vários afastamentos, independente do tempo que passou, eu ainda te conheço. Você ainda me conhece. E sempre que nos falamos, quando nossos olhares se unificam e se abraçam de um jeito quase violento, eu consigo ver que é recíproco.
O mundo para.
E nesse meio segundo, nós dizemos um ao outro: “eu estava esperando por você”, nós construímos nosso romance, cada vez mais passional… Mas a cada vez, nosso fim é mais dilacerante.
   E é melhor que continuemos “separados”, nós dois sabemos disso. É melhor tê-lo por perto, mesmo que seja de uma forma superficial, do que não tê-lo de forma alguma. Até porque, a superficialidade se restringe ao físico; somos profundamente ligados, conhecemos cada parte do íntimo um do outro e é isso que continua nos atraindo, como ímãs, como se ainda houvesse um fio que ligasse nossos corpos e que vez ou outra é bruscamente puxado.
  E apesar disso, conseguimos achar brechas nas tantas limitações e regras que nós mesmos impusemos a essa relação peculiar. Nos permitimos pequenos diálogos quando é oportuno, mas sempre que o “você se lembra quando…” começa a sequer se aproximar da garganta, os sorrisos sem graça e os olhares taciturnos encerram de um jeito quase fúnebre nossa interação.   
 

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⏰ Última atualização: Oct 31 ⏰

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