Seu cinismo me assusta.

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Como você tem a coragem de me encarar e dizer que não me importei, que não tentei? Ah, me poupe! Se você soubesse, se você realmente se importasse, veria todas as marcas que deixou em mim, veria todos os pedaços que eu sou.
Veria as borboletas que me devoraram o estômago, as tantas lágrimas que me enfeitaram os olhos, a burrice crônica que adquiri e devastou meu cérebro quando eu acreditei na sua mudança. Veria na minha pele as marcas dos seus dedos, como se fossem feitas por ácido. Ouviria minha voz rouca, abafada pelo fogo devastador das coisas que eu não tive tempo de te dizer. Veria o buraco que ficou quando você arrancou meu coração e veria meu sangue escorrendo em cada palavra que escrevi sobre você.
A verdade é que, naquela época, só me sobraram os ossos e uma alma ferida. E agora, que tudo está voltando ao normal, você tem a cara de pau de agir como se nada tivesse acontecido e ainda assim demonstrar arrependimento, do qual eu nem acredito mais. Esse seu cinismo me assusta, até onde você pretende omitir todos os seus erros? E você nem precisa esconder de mim, eu já sei de tudo e você sabe disso. Você faz isso porque gosta?
Já que você nem teve a decência de terminar o que começou, eu termino. Sei que é impossível mudar o passado, mas a partir de agora, não quero mais a minha imagem atrelada a sua de nenhuma forma. Te tratarei com respeito mas não espere nada além disso. Faço isso como forma de preservar as boas memórias que, apesar de tudo, você me deu e para preservar minha sanidade. Além disso, não sou como você, que consegue fingir descaradamente que nada aconteceu, até porque aquilo deixou marcas tão profundas em mim que nem mesmo a sua admirável habilidade de fingir seria capaz de esconder.
Às vezes, olho pra você e questiono a sua capacidade de sentir algo. Existe algum sentimento verdadeiro por trás desses lindos olhos impostores?
Sabe o que é mais irônico? Mesmo depois de tudo, ainda há uma parte de mim que se pergunta se você algum dia foi capaz de me amar de verdade. Será que houve um momento genuíno entre nós? Talvez eu nunca saiba. E talvez isso não importe mais. O que realmente importa é que, finalmente, estou aprendendo a viver sem o peso das suas mentiras.
E enquanto você segue com sua vida, fingindo que nada disso teve importância, eu sigo com a minha, sabendo que, pelo menos pra mim, havia sentimento e, por um tempo, fui feliz com você.
Eu sou grata pelos nossos momentos e pela inspiração que sua irresponsabilidade me deu para escrever, mesmo que, por mais que eu tente, sempre acabe no mesmo clichê: eu continuo te fazendo perguntas mesmo sabendo as respostas.

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