Gosto de me imaginar como um museu. Uma exposição, uma coleção de todas as pessoas que já conheci. Sou repleta de corredores formados pelas músicas que ouvi nos almoços de família, pelos livros dados pelo meu irmão, pelas conversas absurdas com minhas amigas, pelo dom de escrever herdado da mãe e o espírito aventureiro herdado do pai, pela mania de estalar os dedos que peguei de quem nem converso mais…
Gosto de me imaginar como um grande quebra-cabeça. Não só pela multiplicidade de partes, pela dificuldade inicial de compreensão ou pela complexidade comum entre quebra-cabeças e humanos. Gosto de pensar que as outras pessoas são outros quebra-cabeças, tão grandes e complexos quanto eu e gosto particularmente dessa metáfora, por pensar que posso deixar um pedaço meu em cada quebra-cabeça dos que estão ao meu redor.
Apesar da minha existência ser indiferente para bilhões de pessoas, sinto que pude ajudar a compor algumas das dezenas que já me conheceram. Gosto de pensar que mesmo que eu não faça mais parte da vida dessas pessoas, alguma peça minha tenha contribuído para tornar esse quebra-cabeça mais colorido.
Algumas pessoas, como você, bagunçaram minhas peças e levaram mais pedaços meus do que eu previa. Talvez você nem os tenha guardado. Apesar disso, ainda tenho pedaços seus, mas, agora, estou encontrando novas peças de novos quebra-cabeças para repor as peças em demasia que você deixou faltando em mim.
Ainda assim, espero que alguém tenha guardado um pedacinho meu, seja por meio de uma estranhice que eu fazia, uma expressão que eu usava, um cantor que eu apresentei ou simplesmente por uma memória que sempre vem à mente quando ouvem meu nome.
Espero que, no futuro, você e todas as pessoas que me carregam em si, possam se lembrar de mim e dos pequenos pedaços que a minha passagem deixou. Talvez desejar que as pessoas continuem se lembrando de mim seja uma manifestação de traços narcisistas. Mas, se no fim das contas, o que resta de nós são as memórias e as coisas que fizemos aos outros, não seria natural desejar isso?
Acho que é isso que somos. Um emaranhado, um entrelaçado, um conjunto de pessoas e experiências.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Devaneios de amor.
RomantizmEscritos de um coração que ainda sonha com amor verdadeiro... Espero que gostem. Plágio é crime.