Eu não aprendi a amar.

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  Sempre me perguntam por que e para quem escrevo, e eu sempre respondo que é complexo demais. A verdade é que não há uma única pessoa, nem uma única motivação e talvez eu nem mesmo saiba se elas são a verdadeira resposta. Para mim é natural, intrínseco. É uma daquelas nuances humanas que ainda não têm explicação.
  Escrevo sobre e para as pessoas que já passaram pela minha vida. Mesmo que elas nem leiam, é onde eu digo tudo o que não tive coragem, tempo ou maturidade para dizer.
Quando eu quero dizer algo, mas sei que as lágrimas escorrerão dos olhos antes que as palavras saiam da boca, eu escrevo. Quando eu sei que a raiva infrequente me fará perder o controle das coisas que direi, eu escrevo. Quando a felicidade é deliciosamente indescritível, eu escrevo.
    Por mais que quase tudo que escrevo tenha algum sentimento meu, alguma experiência que já vivenciei, nem sempre é assim. Às vezes me inspiro em músicas, filmes, sonhos. Às vezes é só o vislumbre do que desejo, do amor puro e genuíno, que eu (ainda) espero encontrar. Às vezes são todas as opções em um só texto.
  Há nisso que faço, uma generosa dose de magia, transcrever o meu mundo, a minha visão, para alguém que, porventura, se interesse; imaginar mundos, cenários hipotéticos e encarar o perigo de se perder neles.
  Há nisso que faço, uma generosa dose de loucura, um reflexo característico dessa autora que se estende demais sobre assuntos simples, complica demais o fácil, problematiza as situações, dramatiza demais, sente demais… Eu sinto tanto. Indescritivelmente tanto! Escrevo para compreender o que sinto, intensamente, em meu coração. Entender porque mesmo quando está errado, ele ainda sobrepõe a razão.
  Admito que visito o passado muito mais do que deveria. O passado de ontem ou mesmo de alguns anos atrás. Eu penso e repenso sobre como seria se fosse diferente e escrevo e reescrevo sobre isso. Talvez por isso meus escritos são sempre iguais: são reescritas dos mesmos textos e situações, em diferentes visões com o passar do tempo e com um pouco mais de maturidade. É o martírio que acompanha minha sina: Não tenho facilidade em me desprender das memórias, não consigo dar um fim definitivo às coisas, pelo menos não quando ainda havia tanto para ser vivido. E ainda assim, escrever é o meu delírio favorito.
  A verdade é que eu não faço ideia do que é esse tal amor que eu tanto tematizo, do porquê eu escrevo e porque sempre sobre o mesmo tema e nem sobre nenhuma das perguntas semelhantes que me cercam eventualmente. Eu só faço. Eu só sinto. Intensamente! Como já dizia Cássia Eller, "eu sou poeta e não aprendi a amar”. E talvez seja esse o ponto, talvez escrever sobre o amor, seja a arte dos amantes que não sabem amar.

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