Anya - "Meu Encontro com Svetlana"

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Fiquei surpresa com os gospoda (senhores) russos; no final, deu tudo certo o presente do meu otets(pai). Foi muito agradável o momento que tive com eles na hora do chá.

O gospodin(senhor) Aleksei fez-me perguntas interessantes e surpreendentes. Entendo a sua necessidade em conhecer quem o presenteou sem nada querer em troca. Deve estar acostumado a ter barganhas em tudo o que faz na vida. Provavelmente se assustou com uma funcionária nova trazendo algo tão pessoal e, muitas vezes, íntimo para o uso deles.

Em momento nenhum ele modificou seu semblante; olhou-me sério e procrastinador. A sua voz é marcante, e seu tom rouco, deixa-me um pouco zonza; é como se a sua voz comandasse todo o meu corpo, sem meu controle, porque não fui capaz de me mover, mantendo-me sentada reta, delicadamente segurando a xícara com medo de fazer qualquer atrapalhada e deixá-la cair.

A sua aura é dominadora; creio que, se nos esquecermos de desviar o olhar do dele, seremos esmagados tamanho é o poder. Ele não precisa de muito para ser obedecido.

Consegui observá-lo melhor, mas não o encarei em momento algum. Gostaria de poder fixar meu olhar e admirar a beleza de seus olhos negros e profundos. Há algo em seu olhar que me atrai; seus olhos são como esferas de conhecimento e dor.

Diferente do irmão mais velho, o gospodin Sandu não disse nada; apenas ficou a encarar-me com os olhos negros mais vivos e brilhantes que já vi em minha vida, traindo a severidade de seu rosto angelical e tocado por Perun, dando-lhe um ar de mistério.

Engraçado, enquanto o Aleksei tem uma figura austera e felina, intimidadora, Sandu não consegue aparentar ser mau; mostra-se sério, intocável, responsável e tranquilo. Mas é necessário saber interpretá-los; com pouco tempo, os desvendei porque eles não conseguiram – não sei por quê – se manter escondidos sob a habitual máscara que usam para afastar a todos.

O gospodin Dmitri foi um pouco mais fácil de entender, talvez pelo fato de ter falado comigo mais do que os outros. É muito bonito também; uma beleza mais singela. Tem uma aura doce, apesar de se esforçar para parecer mau. Sem querer, flagrei-o sorrindo, iluminando todo o seu rosto e deixando surgir uma covinha próxima ao lado direito de sua boca.

Tirando o gospodin Aleksei, os outros se derem espaço para serem conhecidos; com certeza as pessoas verão o quanto são doces e amáveis. Como sei disso? O meu otets (pai) ensinou-me durante toda a vida que as pessoas muitas vezes não mostram quem são; simplesmente se escondem em véus de mentiras e segredos, protegendo seu direito de ser indecifrável. Ele sempre me dizia que eu precisava desvendar as pessoas: nossos vizinhos, os poucos amigos e os comerciantes da região. Falava-me sempre que precisava antever com quem estava lidando para nunca confiar nas aparências se quisesse sair ilesa das relações interpessoais.

Então, quando pude estar com os três durante o chá, descobri um pouco sobrer lidar com eles.

Hoje, o gospodin Aleksei não veio ao escritório. Não sentirei o seu perfume amadeirado, extremamente masculino, inebriar o meu olfato. Preciso parar de pensar nele; como posso fazer isso se o perfume faz sentir sua presença marcante? Sei que sou apenas uma mera funcionária que pode ser trocada com um estalar de dedos por qualquer um deles. Estou sem entender esse meu interesse em descobrir tudo sobre ele. O gospodin Aleksei atrai minha atenção e curiosidade. Nunca me apaixonei e não estou interessada em namoros ou relacionamentos.

Intriga-me a tristeza em seus olhos e a frieza de sua postura corporal. Ele parece bem mais velho do que eu; ainda não consegui descobrir as idades deles. Nada verdade, nada descobri, e o que acredito ter descoberto pode ser uma ilusão, dada a vontade que tenho de conhecê-los por serem reservados.

Contei ao meu otets sobre como eles receberam o samovar de presente. Ele ficou fascinado, dizendo que era isso que esperava e que eu podia ter certeza de que seria melhor vista por eles.

Aleksei  Amor e Mistério Onde histórias criam vida. Descubra agora