Anya: "O Triunfo do Primeiro Dia"

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  Eles foram almoçar e eu estava morrendo de fome, então desci rapidinho e comprei um lanche na padaria próxima. Levei para o escritório e comi na salinha refeitório.

Não estava sendo fácil esse começo; os executivos não confiavam em mim, e os compreendo. Se não fossem assim, eu os estranharia, já que o perfil deles é bem específico sobre como lidam com desconhecidos. Para nenhuma secretária permanecer na vaga, com certeza deixaram a desejar no quesito patriotismo. Creio que deveriam ser muito melhores do que eu, mais experientes, mas se não entenderam que eles exaltam a Rússia com orgulho, torna-se complicado a convivência

Sinto-me pisando em terreno minado, a qualquer momento correndo o risco de detonar o humor deles e arriscando o emprego dos meus sonhos. Serei toda cuidadosa e me esforçarei para que se sintam um pouco da terra natal nesse escritório insípido de patriotismo.

Tivemos duas reuniões à tarde e pude admirar o controle que eles têm sobre suas emoções. Eu não sei se aguentaria ser tratada da mesma forma que foram. O pior é que tive que contar-lhes a verdade. Não queria ser rude, pois me senti também afetada; nunca esqueço que sou russa e tenho muito orgulho disso, mesmo não conhecendo pessoalmente a terra que o meu otets(pai) enaltece ao contar as grandezas maravilhosas da nossa Rússia.

Na segunda reunião, ainda que não precisasse contar nada sobre as inadequadas investidas de um dos americanos – o pior que era casado – deu para perceber que ele havia tirado a aliança quando me viu; a marca no dedo não mente sobre seu estado civil. E foi ousado demais em querer que eu os traísse, imagina que faria isso? Como poderia acreditar que eu fosse contra todos os meus princípios de moral e integridade? Nunca me permitiria trair quem está estendendo a mão para mim.

Sei que menti ao dizer que eles me tratam bem, mas o que podia fazer? Deveria contar-lhes que acredito que estão me testando? Quando me conhecerem melhor, talvez o tratamento deles poderá ser mais gentil?

Meu otets sempre contou que os russos são alegres e festivo; algo deve ter acontecido para esses três executivos serem tão carrancudos e inexpressivos. E sinto uma tristeza neles – não que mostrem isso; eles são muito bons em esconder as suas emoções – mas há algo que traz uma sensação de infelicidade.

Terminada a última reunião, acabei de transcrever tudo o que foi conversado. O que foi combinado? Nada foi acordado no momento; os gospoda(senhores) não fechavam nada ali mesmo, pediam para deixarem as propostas para serem analisadas e posteriormente entrariam em contato.

Estava sentada em minha mesa, concentrada nas papeladas quando ouvi passos. De início, me assustei; esqueci-me completamente dos gospoda.

-Devushka(senhorita), por que você ainda está aqui? - Dmitri me olhou com aqueles olhos cinzentos, derretidos como mercúrio liquido.

-Gospodin(senhor), estou terminando os rever os documentos. E também esperando que os gospoda não precisem mais de mim.

-Pode ir, não há necessidade de ficar mais hoje. - Ele simplesmente me comunicou e virou as costas para se juntar aos outros dois executivos que o esperavam em frente ao elevador.
O meu primeiro dia venci, com muita dificuldade e perseverança. Pego minhas coisas, depois de notar que já passou muito da minha hora de expediente, e vou para casa feliz para ver o meu otets.

Cheguei em casa e fui abraçada por um urso fofo; o meu otets estava tão orgulhoso e feliz pelo meu primeiro dia que só me permitiu tomar um banho antes de contar todos os detalhes sobre o trabalho, principalmente sobre os executivos russos. Ele não me poupou em nada e quis informações minuciosas sobre tudo o que fiz.

-Minha angelochka(anjinha), veja pelo lado bom: o presidente ajudou você a se levantar.

-Sim, para depois me humilhar, porque não foi nada agradável. Não consegui nem olhar para ele na hora. Depois, quando o vi novamente, pude ver o seu belo rosto e a cicatriz que deve ser horrível ter todos olhando com pena.

Aleksei  Amor e Mistério Onde histórias criam vida. Descubra agora