Aleksei - "A Descoberta: A Anya é Russa"

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Nesses meses todos que estou no país, é a primeira noite que durmo com menos pesadelos, permitindo-me acordar no horário e participar da rotina do café da manhã com o Sandu e o Dmitri. Porém, a dor de cabeça era intensa, preocupando-me em ter novas crises.

Notei que meus irmãos estão estranhos; conheço-os bem e percebo que estão escondendo algo de mim. Virou uma mania não me contarem mais sobre as suas preocupações e problemas. Tenho que ser rígido para não me ocultarem as coisas.

-O que estão escondendo de mim agora? E não me venham dizer que é nada, porque sei que não é a verdade.

-Brat (Irmão), não o queremos aborrecer você com insignificâncias… - não o deixo terminar.

-Sandu, se começarem a querer me poupar sobre qualquer coisa, digo que os deixo sozinhos, voltando para a Rússia, onde será difícil em encontrarem.

-Blin(Puxa vida)! Aleksei, estamos preocupados com aquela secretária. É boa demais para ser verdade. Tem que haver algo de errado com ela. - Dmitri resmunga pensativo.

-Na verdade, não quero ter que encontrar uma nova secretária. Mas, ao mesmo tempo, preocupo-me com a nossa saúde mental. Olhar para ela nos faz lembrar da nossa Yeketerina. - Sandu abaixa o olhar para não me encarar.

-Pensei muito sobre isso e cheguei à conclusão que vamos dar uma oportunidade a ela.

-Não poderei mais torturá-la? Ficou sem graça, brat.

-Dmitri, desde quando torturamos pessoas? - Disse em tom de zombaria, com o olhar sério para os dois à minha frente.

-Desde sempre. Por que teríamos que ser piedosos se ela for uma espiã? - Sandu caiu na risada e jogou uma uva, acertando o nariz de Dmitri.

-Novamente com essa ideia? Não há como ser; você a viu conversando em português e parece falar perfeitamente.

-Fiquem tranquilos, porque hoje mesmo começo a investigá-la. Se houver alguma coisa errada, por menor que seja, eu descobrirei e acabarei com isso. Prometo que vocêstmabém poderão se vingar.

-Agora sim é o meu brat falando. Sandu, vamos atormentá-la um pouco hoje já que não temos nada importante para fazer.

-Quantos anos tem, Dmitri? - Sandu sorri; Dmitri anda entediado sem o Nikolai por perto.

-Somos praticamente da mesma idade; não venha me dizer que não gosta de mandar fazer coisas sem necessidade só para mandarmos refazer depois.

-Quanta maturidade meus malenkie kotyata(gatinhos pequenos) têm. - Reviro os olhos para eles.
Continuei o meu café em silêncio, observando como em três anos tiveram que amadurecer, deixando para trás o lado adolescente. Inclusive Dmitri e Nikolai com suas histórias de vida conturbadas roubaram suas infâncias. No fundo, nenhum dos três é mau; apenas ainda não cresceram o suficiente para brincarem de maneira travessa com as secretárias que não sabiam se portar. Talvez esse fosse o menor dos motivos; eu sou mais rude e exigente. Não aceito erros, gosto de disciplina e obediência.

A Anya estava me intrigando, passei a maior parte da noite pensando sobre deixá-la ou não na empresa. E toda a minha conclusão foi de querer ver todos os dias aqueles olhos inocentes, verdes como esmeraldas. Não consegui mentir para mim mesmo: ela é uma rusalka, me enfeitiçando.

Só que não deixarei que ocupe o meu coração. A verdadeira Lada, a quem amei, está no mundo de Nav, levada por Marzanna, tirando toda a minha capacidade de ser feliz novamente. A brutalidade feita a ela lateja nas lembranças mais profundas de minhas memórias. Vingarei sua morte e da minha malishka(pequenina).

Posso não estar apto a ser novamente o líder e exímio em tudo o que fazia, mas não perdi as minhas forças. Exercito-me todos os dias e estou reaprendendo a controlar todo o meu lado neurológico que causa os sintomas de convulsões repentinas – sequela da tortura do dia do ataque a mim e à minha família.

Dei um beijo em Svetlana, ela foi corajosa em largar tudo para nos acompanhar. Preciso fazê-la se divertir um pouco, está se acabando em cuidar de nós três e sei que sente falta do Nikolai. Nem por sonho ela conta que ele é o seu preferido, e entendo a sua predileção. Mas, se Sandu souber, o ciúme se fará presente.

Temos um motorista que fala inglês, por sorte nossa, é honesto e competente. Está nos servindo bem e compreendeu cedo que não gostamos de conversar e muito menos de enrolação para chegar ao destino. Assim, chegamos cedo à empresa.

Espanta-me a capacidade das pessoas de sentirem ameaçadas e temerosas com a nossa presença no elevador. Vejo os meus irmãos se divertindo com a situação; mesmo não demonstrando, sei que fazem de propósito ao entrar quando o elevador já está praticamente lotado.

Ao pararmos em nosso andar – sendo o último – e estando apenas nós três dentro dele, eles caem na gargalhada com a compostura dos outros usuários. Apenas reviro os olhos, eles são excelentes atores em drama coletivo.

Respiro fundo, talvez ela não tenha chegado ainda, livrando-nos de sua presença logo cedo.
Mera ilusão a minha! Lá estava ela saindo da salinha de refeição: linda de calça social chumbo, camisa de seda rosa e salto médio. Tudo parece ficar bem nela. Chert vozmi(maldição)!

Toda delicada, com um rubor no rosto, nos cumprimenta e pede para falar. A escuto sem irritação – o que é uma novidade; ultimamente, qualquer um que não fosse da minha família me irritava profundamente.

Ela nos conta que o pai nos oferece um samovar como presente de boas vindas? Uma bajulação? Mantivemos nossos semblantes sérios. Quando disse que era russa, não consegui me conter e pedi para confirmar. Sandu fica atônito ao saber do samovar; Dmitri pergunta se era medo de perder o emprego.

Anya fez o que toda filha russa faz: obedeceu ao seu otets(pai), mesmo contra a sua vontade de nos agradar, pois era visível a sua vergonha e a submissão ao mais velho.

Continuei com a minha maneira rude, querendo saber qual troca queriam, e Chert(Diabo)! Parecia sincera em tudo o que contou. Não tive outra opção além de aceitar e mandá-la preparar o chá para nós quatro. Vamos ver como se comporta tomando o chá conosco.

Sozinhos em minha sala – quer deveria ser só minha, se esses meus brta'ya(irmãos) ficassem mais tempos nas salas deles – nos entreolhamos, petrificados pela bondade dela e por ela se declarar russa.

-Depois não digam que estou errado. - Dmitri nos olha feio – Ela é russa, como havia dito antes, e os dois debocharam de mim.

-Brat (irmão), você acertou sobre ela ser russa, mas se for verdade o que contou, ela veio mladenets(bebê) para cá. - Sandu havia prestado atenção; percebi um alívio nele.

-Precisamos averiguar quem é o pai dela. Se realmente é alguém inocente. - Dmitri precisava encontrar algo para justificar sua paranoia sobre espiões.

-Essa informação não deixará que faça a investigação sobre ela. Fique despreocupado, agora mais do que nunca serei meticuloso em descobrir tudo sobre ela e o pai. - Tive que acalmar os dois, e principalmente a mim.

Escutamos a batida leve na porta, estou me acostumando e, o pior, gostando de saber que é ela do outro lado da porta.

O que está acontecendo comigo? Não tenho como sentir mais nada por ninguém; uma parte de mim morreu junto com Yeketerina. Meus sonhos se desfizeram com a perda de minha dochka(filhinha); nem pude ver o seu rostinho, a angelochka(anjinha) arrancada de nossas vidas.

Anya me assombra, Bog(Deus)! Só a conheço há um dia; como é possível estar me torturando dessa forma? Por Perun, me dê forças para me livrar da rusalka sem despedaçar novamente a minha vida.

	Anya me assombra, Bog(Deus)! Só a conheço há um dia; como é possível estar me torturando dessa forma? Por Perun, me dê forças para me livrar da rusalka sem despedaçar novamente a minha vida

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