Tenho um segredo horrível! A Anya nada sabe e espero que nunca saiba. A vida que ela conhece é uma mentira. Somos russos e imigrei para o Brasil quando ela era uma mladenets (bebê) de um ano e dois meses. O restante não é verdade.
Fui obrigado a reformular toda a nossa vida para que o destino reservasse um futuro melhor para ela. Se fosse só eu, enfrentaria tudo e todos; vingaria aqueles que deveriam ser vingados, derrubaria, pelo menos, umas dezenas de traidores.
Porém, a Anya estava sendo ameaçada, pequena e alvo de pessoas inescrupulosas; não deixaria nada acontecer com ela, nem em sonho tocariam em um fio de cabelo dela. Pelo amor que tenho pela minha malishka (pequenina), desprendi-me de tudo o que tinha, principalmente de quem eu era.
Hoje sou um homem pacato e fervoroso patriota russo. Não possuo fortuna como Leonid Ivanov. Há muitos anos, tenho planejado e remanejado uma pequena fortuna, aumentando a cada ano; herança que Anya tem direito do otets (pai) biológico, que era um afortunado em tudo na vida, apenas amou a mulher errada.
Sim, eu sei que deixo a minha malishka sem muito conforto; dou para ela o melhor que posso como um cidadão comum. Nunca a deixei passar necessidades. Bog (Deus)! Como gostaria de dar-lhe todo o conforto e luxo que lhe pertence e merece.
Após vinte e um anos em fuga, escondendo-nos para podermos viver, ainda tenho medo de ser encontrado e ela sofrer as consequências dos atos de quem participava de seu meio familiar.
Sem que ela tenha conhecimento, possuo contatos na Rússia; camaradas antigos, muitos torturados ou resgatados de prisões clandestinas ou de inimigos. Hoje são fantasmas, como eu e seu otets éramos, trabalhando ocultos, eliminando da face da terra a escória humana.
Só que há uma facção na Europa Oriental; vou chamá-los simplesmente de bandidos: uma corja desumana englobando toda a miséria da bandidagem: corruptos, manipuladores, ladrões, estelionatários, escravagistas sexuais e violadores de menores. Acima de tudo, assassinos frios e cruéis eram quem combatíamos; quem tentávamos eliminar todos os vestígios de suas maldades.
Sempre que conseguíamos extinguir uma unidade deles ou resgatar inocentes – crianças sendo feitas de escravos sexuais – encontrávamos mais antros de perdição sexual e drogas. Eles são como hidras: crescem mais cabeças toda vez que uma é cortada.
A Anya sempre perguntou sobre a família, se tínhamos algum parente – mesmo que fossem perdidos no mundo – para ter um contato e conhecer mais sobre os Ivanov. Como permitir isso? Não há uma família Ivanov dela nem por parte de pai nem por parte materna.
Desestimulei-a desde tenra idade sobre parentes; ela não precisa das pessoas sórdidas que compartilham infelizmente o mesmo sangue. Quem tinha o sangue bom – correto, digno – e sua família verdadeira, foi brutalmente assassinado sem dó nem piedade por quem ele confiava e amava.
Tenho esperanças de, em breve, restituir a sua fortuna, sem nunca saber a orgiem do dinheiro. Jamais, sequer, reconhecer quem realmente é. Se descobrir apenas o seu nome, nem precisa reconhecer o sobrenome verdadeiro; assinará o seu atestado de óbito.
Sofro todos esses anos por ocultar a verdade sobre a pessoa importante para Anya, para que sonhasse com o paraíso das crianças de família perfeita. Ele deu a sua vida para que ela hoje seja a mais pura, doce, gentil e amável garota. Graças a Bog, Anya não herdou nenhum vício de personalidade materna. Herdou tudo de quem a amou mais que tudo na vida, até as suas maneiras perfeccionistas.
Porque guardei o dinheiro? Se eu o usasse, chegariam até nós. Utilizei toda a tecnologia disponível para encobri-lo, nunca o deixando em um só lugar por mais de seis meses. Esse dinheiro é a garantia de um futuro melhor para minha Anya.
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Aleksei Amor e Mistério
RomantizmNum aparente oásis de perfeição, sua vida desmorona diante de uma tragédia avassaladora, despedaçando sua antiga visão de felicidade. O brilho outrora presente em seus olhos negros se desvanece, o sorriso some do seu belo rosto; a voz, outrora sensu...