Sandu - "O Sonho Obscuro"

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Não consegui dormir direito essa noite. Fiquei revirando na cama; toda a vez que fechava os olhos, via a Anya sorrindo para mim. Acabei adormecendo de cansaço. Não dou atenção para sonhos, os acho produtos de nossa imaginação mais profunda, zombando de nós mesmos com situações abstratas, risíveis e até mesmo lamentosas, que nos obrigam a encarar a nossa deficiência em resolver certos assuntos.

Porém, esse sonho me assustou. Deixou-me angustiado e acordei suado e inquieto. Na verdade, agora não sei analisar se foi sonho ou pesadelo; a sensação de realismo foi grande, gerando dúvidas sobre minha sanidade mental.

Vi-me na casa de minha mãe; ela sorridente e com o olhar malicioso, estava conversando com duas mulheres. No início, não consegui identificá-las. Escutava o riso de minha mãe e da outra mulher, um pouco mais velha do que ela. A terceira mulher estava oculta nas sombras; eu sentia a sua intranquilidade, tinha aura doce e inocente.

De repente, minha mãe olhou para mim e fez sinal para que eu fosse ao encontro delas. Receoso, pé ante pé, sentindo-me um garotinho medroso em ter que socializar com desconhecidos. Perdendo a paciência, fui arrastado por mãos duras e determinadas de uma mãe nada indulgente, saboreando meu medo.

Consigo enxergar melhor; as sombras se afastaram um pouco, revelando a mulher mais velha, parecida com a minha genitora A cor dos olhos era diferente, mas o resto do semblante tinha a familiaridade de serem próximas. Riam e zombavam de mim, apontando o dedo e gracejando sobre a minha vulnerabilidade.

Entrei em desespero por não querer estar ali, zangado de ser atraído para uma emboscada sem precedentes, onde eu era o alvo de suas maldades. Escutei um choro baixinho; era um lamento triste em que não entendia o que era dito. Senti um misto de dó e curiosidade em saber quem se ocultava nos cantos sombrios.

Desvincilhei-me das duas mulheres más e caminhei lentamente até aquele canto, hipnotizado pela figura feminina que permitia apenas vislumbrar uma mecha de cabelo loiro pendendo de seu ombro. Trazia consigo um mistério e uma necessidade de tocá-la, de ver o seu rosto; isso se apoderou de mim, deixando-me bezumie ikaos(loucura e caos), gerando um desejo mortal de desvendá-la só para mim.

Quando acredito poder tocá-la, sou sugado para fora desse sonho pelo despertador. Chert vozmi (maldição)! Como resolverei essa angústia se o sonho ficou inacabado? Como posso fazer voltar a necessidade de descobrir quem era a mulher misteriosa que me fascinou sem mesmo vê-la?

Tenho que me resignar: Lada fará com que eu sonhe novamente com ela na hora certa. E que dessa vez possa descobrir o que me intriga.

Fiquei feliz em ver o Aleksei se juntando a nós no café da manhã. Espero que a sua noite tenha sido melhor, pelo menos melhor que a minha, tenho certeza. Ainda bem que estamos acostumados a dormir pouco quando necessário, então apenas uma noite assim não me causará estragos no meu dia.

Meu irmão mais velho tem um ótimo radar; sempre sabe quando não estamos bem. Tentamos ao máximo não levar as nossas preocupações para ele, mas por Perun, acaba por nos pegar desprevenidos e, no final, acaba sabendo de nossos problemas.

Desabafo sobre não querer outra secretária; não sei o que a Anya tem, sinto algo estranho por ela. Quero protegê-la e não contei para ninguém sobre essa vontade. Dmitri ficaria mais obcecado com sua teoria de conspiração. Com Nikolai longe, ele estaria me cercando de todos os lados possíveis que a distância permite para saber como estou em relação a nossa nova rusalka.

Pronto, agora o Aleksei sabe que não quero outra no lugar dela.

Suspirei ao saber que ele também não a quer longe. Mas sei que ele investigará em todos os detalhes a vida atual e, se conseguir, até a vida anterior. Quando ele quer, descobre o que até Marzanna não encontra.

Aleksei  Amor e Mistério Onde histórias criam vida. Descubra agora