Após o lanche da madrugada, aqueles meus moleques pegaram os seus colchões e os colocaram no meu quarto. Como dizer não, quando aparecem sorrindo, felizes, cada um com o seu colchão embaixo do braço? Ainda bem que os colchões são de solteiro; mesmo assim, ficaram amontoados perto da minha cama.
Conversaram o resto da madrugada e só pegaram no sono lá pelas seis horas da manhã. Eles já passaram dos vinte anos; são executivos implacáveis e de sucesso, e quando estão sozinhos entre nós, demonstram o seu lado criança, a fase que não puderem ter: com as suas brincadeiras, contos de fadas, aventuras e descobertas. Eles precisavam de pessoas que os orientassem para o bem, ensinassem tudo o que uma criança ou um adolescente necessita para ser um adulto integro e idôneo. Alguém que os protegesse das maldades que a vida lhes impôs.
Sandu é um pouco mais adulto, deixando-se embalar pelos outros. Preocupo-me com eles; procurei e forneci toda a ajuda profissional possível na esperança de que tornem adultos confiantes em si mesmos, com autoestima, sensatos e sensíveis consigo mesmos para que possam ser assim com outras pessoas. Cada um sofreu em graus e maneiras diferentes. Eu dou apoio, amparo e orientação; principalmente, que se deixem amar sem preconceitos, sem julgamentos e sem limites, para continuarem os rapazes maravilhosos que são.
Ninguém imaginaria que conhecendo-os como executivos de terno e gravata – sérios, austero, exigentes e poderosos – eles como os adolescentes carinhosos e amáveis, cuidando com amor e cuidado do brat (irmão) mais velho.
Ao perceber que dormiram profundamente, levanto-me sem fazer barulho, fazendo malabarismos para não pisar ou cair sobre eles. Tomo uma ducha rápida e me visto com terno e gravata, sem lembrar do café da manhã. Não estou me alimentando direito; não estou sentindo fome e sei que isso deve às minhas preocupações – sem falar em Anya; sim, ela está mexendo comigo como há muito não sou mexido.
Preciso ir ao escritório; a única coisa chata seria dirigir. O carro está na garagem pronto para ser usado, mas é muito cedo; o barulho do motor provavelmente acordaria a todos. Não tenho à disposição o motorista; não posso culpá-lo já que não havia agendado nada com ele e esperá-lo não estava em meus planos. Então fui obrigado a chamar um carro de aplicativo.
Precisava resolver alguns assuntos relevantes pertinentes ao meu lado secreto – problemas inadiáveis que dizem respeito ao meu lado oculto. Não compartilho isso com ninguém, somente com as pessoas envolvidas; mesmo assim preciso de todo o cuidado possível para confiar nelas. Não consigo nem posso confiar em mais ninguém, visto que o ataque sofrido em minha casa foi por traição: encontraram os dados sobre a minha vida como Aleksei. Com quem eu tenho contato são camaradas antigos que colocaram suas vidas em perigo por mim várias vezes – eu fiz o mesmo por eles; temos um laço construído com nosso sangue derramado pelo outro.
Sábado. O prédio está vazio, contando apenas com os funcionários plantonistas da portaria, que se mostraram surpresos ao verem o presidente trabalhando às sete horas da manhã. Também estavam presentes os empregados da limpeza e manutenção, assim como os plantonistas da área de tecnologia. A tranquilidade reinava, algo que não se vê durante os dias da semana, quando o burburinho das conversas e o vai e vem frenético dos funcionários agitados marcam o ritmo do trabalho.
Subi para o meu andar pelas escadas; gosto de andar e preciso voltar a me exercitar com mais afinco. O prédio tem um pouco mais de vinte andares, e fiz a subida de dois em dois degraus, sem forçar meu condicionamento físico. Ao abrir a porta do andar, sinti uma decepção ao ver a mesa vazia, sem a Anya sorrindo para mim.
Suspirei, sentindo meu coração clamar pela sua imagem e pelo perfume floral que ela usava, o mesmo da minha zhena (esposa). Meus olhos se nublaram diante da ausência dos verdes esmeraldas que tanto amava. Preciso parar com esses sentimentos; devo estar associando-a à minha Yeketerina da qual sinto tanta saudade.
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Aleksei Amor e Mistério
Roman d'amourNum aparente oásis de perfeição, sua vida desmorona diante de uma tragédia avassaladora, despedaçando sua antiga visão de felicidade. O brilho outrora presente em seus olhos negros se desvanece, o sorriso some do seu belo rosto; a voz, outrora sensu...