A Vilã [Editando]

Epílogo

Victória cumpriu com sua palavra. Não entrou numa faculdade, passou boa parte do ano seguinte enviando suas histórias para algumas editoras. Acabou por se batizar na igreja de seus avós e teve toda sua forma de escrita modificada. Se antes, escrevia contos para despertar o medo nas pessoas, agora escrevia contos de terror que sempre acabavam com os demônios perdendo as forças todas as batalhas. Focou em escrever sobre libertação espiritual e Deus acabou por inspirá-la muito. Com isso, conseguiu contrato com uma editora pequena de ficção cristã, focada no gênero de terror. Em seu aniversário de dezoito anos, a menina ainda se sentia abalada por causa da morte do pai, mas recebeu um presente inusitado. Uma caixa mediana com um cartão. Assim que abriu a embalagem, seus olhos marejaram. Tratava-se de um globo de neve com uma estátua da liberdade e o nome "New York" grafado em dourado na base. O cartão dizia:

"Provavelmente, este ainda é um dia triste pra você, por isso não ouso te dar os parabéns. Espero que não se ofenda com o presente. Lembro de quando me contou sobre o sonho de Nova York. Como está se curando dos traumas, creio que o sonho será restaurado. Enfim, sem mais delongas. Aproveite o presente. Você ainda verá a neve pessoalmente, Vic. 

Ass. Eric".

O presente fez seu peito se aquecer. Desejou pegar o celular e ligar para o garoto, mas logo concluiu que era uma ideia ruim. Não podia se entregar a um sentimento do qual estava se libertando. Por isso, não fez nada a respeito. Mas ficou com o presente. Deixou-o na mesa de cabeceira, ao lado da cama. Olhava para ele quase todos os dias quando estava escrevendo. Percebeu que o rapaz estava certo. Ela ainda queria conhecer a neve. Por incrível que pareça, seu sonho veio a se realizar cinco anos depois, quando seus contos começaram a ficar conhecidos na comunidade leitora e começaram a impactar a vida das pessoas. Havia diversos relatos de pessoas que se sentiam libertas de opressões malignas depois de terem contato com as histórias da menina. Com o reconhecimento, também surgiram várias oportunidades e muito dinheiro. Então, Victória se viu numa espécie de viagem internacional para divulgar sua coletânea de contos. Numa dessas viagens, esteve em Nova York, conheceu a neve, tirou muitas fotos e fez questão de mandar diversas fotos para Emily e para Monique, que ficaram imensamente felizes por ela.

Por falar em Emily, ela realmente entrou na faculdade de pedagogia, onde fez muitas amizades novas. Saiu com alguns rapazes, mas não deu certo com nenhum. Quando se formou na faculdade, começou a dar aulas numa escola pequena, para crianças de cinco anos. Durante esse tempo, trocou algumas mensagens com Davi. Este, por sua vez, firmou seus passos em Jesus, envolveu-se com trabalhos comunitários em hospitais e descobriu que gostaria de ser enfermeiro. Entrou numa faculdade de enfermagem e se tornou muito dedicado nos estudos.

Enquanto isso, Eric se afundou cada vez mais na própria carne. É verdade que também começou a faculdade, mas também fez muitas amizades ruins por lá. Voltou a se envolver com a bebida, mas dessa vez sem esconder de ninguém. Devido a tantas brigas com a mãe, largou a igreja. Começou uma vida de libertinagem. Adotou o lema de que nunca mais amaria ninguém e ficaria com quem quisesse, apenas por mero prazer ocasional. De fato, o rapaz já havia ficado com várias meninas na própria formatura da escola. Deu continuidade a esse legado na faculdade. Ás vezes, chegava em casa de madrugada, totalmente embriagado e sem lembrar nem do próprio nome. Toda essa situação afligia muito Tereza, que vivia de orações pelo filho. No entanto, de nada adiantavam as palavras doces que falava para Deus, se as coisas que sempre dizia para Eric eram palavras duras, que mais geravam condenação do que salvação.

Em certa ocasião, Eric saiu para um barzinho com os amigos depois das aulas da faculdade e ficou vendo um programa de TV por lá, enquanto tomava uma dose de uísque. Quase se engasgou ao ver Victória ali, dentro daquela tela pequena, sentada numa poltrona confortável, dando entrevista. Nesse momento, ele sorriu e os olhos brilharam. Então, puxou um dos amigos pela blusa e apontou para a televisão.