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O vento frio parecia ter ficado um pouco mais suave, e Alice, ainda com os olhos vermelhos pela intensa choradeira, sentiu um alívio sutil por estar ali, com Luisa ao seu lado. Elas ficaram em silêncio por um tempo, apenas observando o túmulo do pai de Alice, como se as palavras não fossem suficientes para dar forma a tudo o que se passava na mente dela.

Luisa foi a primeira a quebrar o silêncio. “Você não precisa resolver tudo de uma vez só, Alice. O que você está sentindo agora, o que passou... isso vai tomar tempo, mas você vai encontrar sua forma de lidar com tudo isso. E, quando estiver pronta, você vai conseguir deixar o passado, pelo menos um pouco, para trás.”

Alice suspirou, ainda sem saber se realmente estava pronta para isso. Às vezes, o passado parecia tão presente em sua vida que parecia impossível viver sem ele, como se fosse uma sombra que a seguia onde quer que fosse.

"Eu não sei o que fazer com tudo isso, Luisa," Alice murmurou, a voz cansada. "Sinto que estou sempre me perdendo. Uma parte de mim quer seguir em frente, mas outra parte, a parte que ainda sente a ausência deles, fica me puxando para trás, me fazendo querer voltar a um tempo que não existe mais."

"É normal sentir isso. A dor não desaparece de uma hora para outra. Mas, o que importa é o que você decide fazer agora. Não precisa esquecer o que passou, mas aprender a viver com isso," Luisa disse com suavidade, e Alice percebeu que, apesar de todos os seus próprios conflitos internos, sua amiga estava ali, oferecendo a ela a certeza de que não precisava carregar tudo sozinha.

Alice assentiu lentamente, sentindo um pequeno alívio no peito. Ela ainda não tinha respostas, mas talvez fosse hora de aceitar que não tinha que ter todas as respostas de uma vez. Talvez o primeiro passo fosse apenas continuar, um passo de cada vez.

A conversa ficou em silêncio novamente, até que Alice olhou para Luisa com um pensamento que, antes, tinha medo de admitir. "E Gabriel? O que eu faço com ele? Eu sinto que estou me afastando, mas não consigo ignorar o que sinto. Eu fico assustada, Luisa."

Luisa olhou para ela, com um olhar compreensivo. “Acho que você sabe que não pode fugir do que sente. Você pode tentar, mas isso só vai te machucar mais. Gabriel está aí, e ele te faz sentir, e isso é importante. Mas não se force a ser algo que você não está pronta para ser. Apenas seja honesta consigo mesma.”

"Eu não sei ser honesta com ele, Luisa. E eu nem sei se consigo ser honesta comigo mesma," Alice disse com um suspiro. Ela olhou para o túmulo de seu pai mais uma vez, como se as respostas estivessem ali, enterradas na terra fria. “Eu só não quero que ele seja mais uma perda, como tudo o que já perdi na vida.”

Luisa apertou a mão de Alice, um gesto silencioso de apoio. "Não é sobre perder, Alice. É sobre permitir-se viver o que você está sentindo, sem medo do que pode acontecer. Não se cobre tanto."

Alice sentiu as palavras da amiga se enraizarem em seu peito, mas uma parte dela ainda se sentia paralisada. Como ela poderia dar um passo à frente, quando a dor do passado ainda tinha tanto poder sobre ela?

Após alguns minutos de silêncio, Alice olhou para Luisa com uma decisão que ainda estava sendo formada, mas que já começava a crescer dentro dela. “Eu vou tentar, Luisa. Não prometo nada, mas vou tentar. Eu só preciso entender o que é real, o que eu realmente sinto.”

Luisa sorriu, um sorriso tranquilo, sem pressa de fazer Alice chegar a conclusões precipitadas. "Você vai chegar lá, Alice. Só continue caminhando."

Enquanto as duas se levantavam para ir embora, Alice sentiu uma leveza nos ombros. Talvez não fosse uma solução definitiva, mas pelo menos agora ela estava começando a aceitar que poderia começar a se permitir sentir sem medo de perder de novo.

me ensina a amarOnde histórias criam vida. Descubra agora