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O dia seguinte passou mais lentamente do que o habitual. Alice estava confusa, mas ao mesmo tempo, sentia-se estranhamente leve. As palavras de Gabriel ainda ecoavam em sua mente: “Quando você estiver pronta, eu estarei aqui.” Mas, como se tivesse o poder de desfazer as inseguranças que carregava, ela ainda se via com medo do que viria a seguir.

Ela foi até a biblioteca, como sempre fazia quando queria encontrar um pouco de paz, mas dessa vez, algo estava diferente. Ela estava mais atenta aos seus sentimentos, à maneira como sua mente se movia para longe de Gabriel, se afastando antes mesmo que o deixasse entrar por completo.

"Eu sou um desastre," ela pensou, mexendo nas páginas de um livro que não conseguia ler. Sentia-se dividida entre o que queria e o que acreditava ser capaz de viver. O amor parecia tão simples para as outras pessoas, mas para ela, era uma luta constante.

Nesse momento, a porta da biblioteca se abriu suavemente, e Gabriel apareceu. Seu sorriso, usualmente seguro, parecia um pouco mais cauteloso hoje, como se soubesse que Alice estava num momento delicado.

"Oi," ele disse, a voz baixa, como se medisse suas palavras antes de pronunciá-las.

"Oi," Alice respondeu, tentando sorrir, mas sem muita certeza de como se sentir. "Você está bem?"

Gabriel deu um passo à frente, sem pressioná-la. "Sim, e você?"

"Eu... não sei," ela admitiu, deixando o livro de lado e olhando para ele. "Estou tentando entender as coisas dentro de mim. Tudo parece tão confuso, Gabriel."

Ele se aproximou, mas manteve uma distância respeitosa, talvez sentindo que ela ainda não estava completamente à vontade. "Eu entendo," ele respondeu, "mas você não precisa entender tudo de uma vez. Não tem pressa, Alice."

Alice olhou para ele, absorvendo suas palavras. Havia algo em sua calma, em seu jeito tranquilo de lidar com ela, que parecia fazer sentido. Ela estava começando a perceber que a confiança que ele oferecia não vinha com um prazo de validade, não havia ultimatos. Ele estava disposto a esperar, mas ao mesmo tempo, Alice sentia que estava se permitindo arriscar mais do que imaginava ser capaz.

"Eu não sei como fazer isso. Não sei como ir devagar sem acabar fugindo," Alice confessou, a voz baixa. "Às vezes, eu fico tão aterrorizada com a ideia de me entregar, que parece que estou deixando o medo governar."

Gabriel ficou em silêncio por um momento, refletindo sobre as palavras dela. Ele sabia que isso era algo que não poderia ser resolvido com uma simples conversa, mas ainda assim, queria mostrar que estava lá para ela, sem pressa, sem cobrança.

"Você está aqui," ele disse, "e isso já é um grande passo. Talvez o que você precise não seja entender tudo agora, mas apenas saber que eu estou aqui para caminhar com você."

Alice sentiu um calor no peito ao ouvir isso. Algo dentro dela parecia começar a se abrir, como se as palavras dele a estivessem libertando, mesmo que parcialmente. O medo ainda estava lá, mas não de uma forma que a paralisasse. Ela queria dar o próximo passo, por menor que fosse.

"Eu... acho que posso tentar," Alice disse, a voz um pouco mais firme. "Mas eu vou precisar de tempo."

"Sem pressa," Gabriel respondeu, sorrindo. "Eu estou aqui, de qualquer forma."

Eles ficaram em silêncio por um momento, apenas trocando olhares que diziam mais do que palavras poderiam expressar. A tensão entre eles não desapareceu completamente, mas Alice começou a sentir que poderia confiar na paciência dele.

Antes de se despedirem, Gabriel fez um gesto simples, mas significativo: ele colocou a mão sobre a mesa, perto da dela, como um pequeno sinal de que o respeito e a confiança estavam sendo construídos aos poucos. Alice não puxou a mão, mas não a tocou também. Era um pequeno passo, mas para ela, era muito mais significativo do que poderia parecer.

"Nos vemos em breve," ele disse, levantando-se para sair.

"Sim," Alice respondeu, com um sorriso tímido. "Até mais."

Após Gabriel sair da biblioteca, Alice ficou ali, sozinha com seus pensamentos. O silêncio do ambiente parecia envolver tudo, como uma capa de conforto, mas também de desconforto. Ela tentou se concentrar novamente nos livros espalhados pela mesa, mas as palavras não faziam sentido, elas pareciam desfocadas, como um reflexo de sua mente.

O que ela sentia por Gabriel estava crescendo, isso era claro, mas o medo continuava a rondá-la. Havia algo em confiar totalmente em outra pessoa que parecia além das suas forças, algo que ela não sabia como lidar. Durante todos aqueles anos em que se fechou para o mundo, ela havia se acostumado a ser forte por conta própria. E agora, quando ele aparecia, com tanta paciência e compreensão, ela não sabia se estava preparada para deixar que ele entrasse de vez em sua vida.

Aquela conversa com Gabriel tinha sido reveladora, mas também a deixou com mais perguntas. Ela sabia que ele não estava pedindo nada, nem sequer pressionando, mas o que fazer com o próprio medo? Como confiar alguém quando a dor do passado ainda parecia fresca em sua memória?

Ela olhou para o celular, pensando em escrever para Luisa, mas hesitou. Talvez fosse melhor não envolver sua amiga nisso agora. Ela não queria soar indecisa demais, e Luisa, por mais que fosse uma grande amiga, poderia tentar apressar as coisas, querendo entender tudo muito rapidamente. Alice não tinha respostas prontas.

Naquele momento, uma mensagem apareceu na tela. Era Gabriel.

"Eu só queria te lembrar que você não precisa se apressar, Alice. Eu realmente entendo se você precisar de mais tempo. E quero que saiba que estarei por aqui, não importa o que aconteça."

Alice sorriu, e uma leve sensação de alívio tomou conta de seu peito. Ela se pegou relutante em aceitar tanto carinho, mas ao mesmo tempo, ele era exatamente o que ela precisava ouvir.

Ela respirou fundo e, após alguns segundos de indecisão, começou a digitar a resposta.

"Obrigada, Gabriel. Não sei o que o futuro nos reserva, mas você está me ajudando a enxergar um pouco mais além do que o medo."

Ela hesitou antes de apertar "enviar", mas o fez. Talvez fosse uma pequena abertura, mas para Alice, aquilo já representava um grande passo.

Poucos minutos depois, Gabriel respondeu.

"Isso já é mais do que suficiente para mim."

Alice não soube explicar por que essas palavras a tocaram tão profundamente. Talvez fosse porque, pela primeira vez, ela sentia que não precisava de respostas definitivas. Não precisava se apressar. Não precisava estar completamente pronta para dar o próximo passo, mas o simples fato de ter Gabriel ali, com tanto cuidado e respeito por seus sentimentos, parecia ser o suficiente.

Ela deitou-se na cama mais tarde, refletindo sobre o que sentira naquele dia. O medo ainda estava ali, mas agora ele não parecia tão assustador. Ela sabia que o amor não precisava ser perfeito, mas poderia ser construído aos poucos. E talvez isso fosse tudo o que ela pudesse fazer por enquanto: ir um dia de cada vez.

Ela fechou os olhos, sentindo um pouco mais de paz. Se ela permitisse que as coisas acontecessem naturalmente, talvez fosse possível encontrar um caminho onde o medo não fosse o único guia.

E com essa esperança renovada, Alice se entregou ao sono, o coração batendo mais calmo, mais confiante de que podia, sim, confiar em Gabriel, e mais importante ainda, em si mesma.

me ensina a amarOnde histórias criam vida. Descubra agora