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Nos dias que se seguiram, Alice se viu em um turbilhão de pensamentos. A cada vez que passava por Gabriel e Beatriz, havia uma sensação de desconforto crescente, como se estivesse invadindo um espaço que não era mais seu. Ela não sabia se estava sendo paranoica, mas o distanciamento de Gabriel estava claro. Ele não era mais o mesmo quando estava com ela. E, o mais doloroso, parecia estar tão confortável ao lado de Beatriz.

Alice tentava se distrair com seus próprios estudos, com a rotina da faculdade, mas o vazio que sentia sempre que cruzava os olhares de Gabriel e Beatriz a atingia de uma forma inexplicável. Ela sabia que algo estava diferente, mas não conseguia definir o quê. A ideia de perder a amizade de Gabriel, de vê-lo se afastar para dar espaço a outra pessoa, a consumia.

Foi em uma tarde comum, quando ela estava saindo da biblioteca, que encontrou Gabriel sozinho. Ele estava encostado na parede, mexendo no celular, com os fones de ouvido. Alice hesitou por um momento, mas algo a fez se aproximar.

"Gabriel", chamou ela, com um tom suave.

Ele tirou os fones e olhou para ela, um pouco surpreso. "Oi, Alice. Tudo bem?"

Alice tentou manter a calma, mas suas palavras saíram um pouco mais duras do que ela pretendia. "Eu estava pensando... você e a Beatriz estão cada vez mais juntos, né?"

Gabriel franziu a testa, confuso com a pergunta direta. "Sim... nós estamos trabalhando juntos em alguns projetos. Ela é uma boa amiga, por que pergunta?"

Alice mordeu o lábio, sentindo o peso das palavras que estava prestes a dizer. "Eu só... não entendo o que está acontecendo. Você tem se afastado de mim, Gabriel. E eu não sei por quê."

Gabriel parecia um pouco perdido, como se não soubesse o que responder de imediato. "Não é nada disso, Alice. Eu não estou me afastando. Só... não percebi que você estava se sentindo assim."

"Mas é óbvio! Você está o tempo todo com ela. Parece que eu não existo mais", Alice falou com mais intensidade, sentindo a frustração se acumular. "Eu só... não sei o que pensar."

Houve um silêncio entre eles, um momento pesado. Gabriel olhou para ela, mais sério agora, como se estivesse tentando entender o que realmente estava acontecendo.

"Eu não sabia que você se sentia assim. E eu também não quero que a gente se afaste, Alice", disse Gabriel, com a voz mais baixa, quase hesitante. "Você sabe que eu gosto muito de você, né? Mas, às vezes, as coisas acontecem e a gente acaba... se distanciando sem perceber."

Alice sentiu um nó na garganta, as palavras dele mexendo com ela de uma forma que ela não esperava. Ela queria acreditar nele, mas havia algo dentro de si que não conseguia ignorar. O medo de perder a amizade de Gabriel, ou talvez algo mais, a deixava paralisada.

"Eu só... não sei o que fazer, Gabriel. Está difícil", ela respondeu, baixando a cabeça. "Eu não quero que as coisas mudem, mas parece que estão mudando."

Gabriel deu um passo à frente, colocando uma mão no ombro de Alice, tentando transmitir uma sensação de conforto. "Acho que a gente precisa conversar mais sobre isso. Vou te explicar tudo, eu prometo."

Gabriel ainda estava ali, diante de Alice, com uma expressão desconcertada. Ele sabia que havia algo acontecendo, mas não esperava que Alice fosse colocar tudo em palavras tão abruptas. Ela parecia frágil, e isso o incomodava de uma maneira que ele não conseguia explicar.

"Eu não sei se você entende, mas... eu não sei o que está acontecendo entre a gente", Alice continuou, a voz trêmula. "Eu me sinto como se tivesse perdido você, Gabriel. Como se você fosse se afastando e eu... eu não soube lidar com isso."

Gabriel respirou fundo, tentando juntar as palavras. Ele sabia que a situação estava ficando séria, e a última coisa que queria era ferir Alice. Mas, no fundo, ele também sentia que as coisas estavam mudando e que ele não sabia como explicar isso a ela sem magoá-la.

"Eu não quero que você pense isso. Você é importante pra mim, Alice", Gabriel respondeu, a voz mais suave. "Mas, eu... eu também sou humano. E às vezes, as coisas se confundem, as pessoas se aproximam e a gente acaba deixando a amizade escorregar entre os dedos sem perceber."

Alice não sabia o que dizer. As palavras de Gabriel não pareciam ser um simples consolo, mas uma explicação que a fazia querer entender mais. Ela sentia um nó no peito, uma mistura de dor e insegurança. A presença de Beatriz, a amizade que parecia mais forte entre eles, a falta de atenção de Gabriel... tudo isso a estava sufocando.

"Eu não quero ser só mais uma amiga, Gabriel", ela finalmente disse, a voz baixinha. "Eu não posso ser isso. Não depois de tudo o que a gente compartilhou. Não consigo ser só mais uma entre tantas."

Gabriel a olhou por um momento, em silêncio. Ele sabia o que aquilo significava, e, apesar de ter se afastado de Alice de certa forma, sentia algo diferente quando estava com ela. Algo que ele não sabia bem o que era, mas que era mais forte do que qualquer amizade superficial.

"Eu não sei se você percebe, mas eu também não sou mais o mesmo quando estou com você, Alice", Gabriel admitiu, os olhos fixos nos dela. "Eu sinto algo quando estou perto de você. Algo que não consigo ignorar."

Alice sentiu o coração acelerar. Havia algo de diferente na maneira como ele falava agora. Era como se ele finalmente estivesse abrindo uma janela para o que realmente sentia. Mas a insegurança ainda estava lá, como uma sombra pairando entre eles.

"Eu não estou com Beatriz porque você não seja importante para mim", Gabriel acrescentou, olhando para o chão e depois voltando os olhos para Alice. "Ela é uma amiga, sim, mas você... você é diferente. E, por mais que eu não saiba como explicar, eu não quero te perder."

Alice sentiu uma onda de emoções invadir seu corpo. Por um momento, tudo pareceu mais claro, mas o medo ainda estava lá. O medo de que, no final, tudo aquilo fosse apenas uma ilusão. Ela não sabia mais o que acreditar, nem o que sentir. E, no fundo, ela temia que fosse tarde demais.

"Você tem que entender que eu não sei o que fazer com isso tudo, Gabriel", ela disse, com a voz embargada. "Eu só sei que quando vejo você com Beatriz, eu sinto como se estivesse perdendo a única pessoa em quem confiei."

Gabriel se aproximou mais dela, uma expressão séria em seu rosto. "Eu não quero que você me perca, Alice. Eu não sei o que vai acontecer, mas eu quero tentar. Eu preciso de tempo para entender o que está acontecendo dentro de mim também, mas você merece saber que, de alguma forma, você sempre foi mais para mim."

O silêncio que se seguiu foi pesado. Alice não sabia se as palavras de Gabriel eram suficientes, ou se ele estava apenas tentando amenizar a situação. Ela olhou para ele, tentando ler suas intenções, mas havia uma incerteza no ar que a fazia hesitar. Ela ainda não sabia se poderia confiar completamente no que ele estava dizendo.

Gabriel respirou fundo, antes de falar novamente. "Eu sei que as coisas entre nós podem parecer complicadas agora, mas se você me der uma chance, eu quero provar para você que o que sentimos não é algo que eu queira deixar para trás."

Alice não respondeu imediatamente. Ela sentiu a dor do momento, a sensação de que as palavras ainda não eram suficientes para apagar as dúvidas que estavam em sua mente. Mas, no fundo, ela sabia que precisava dar um passo para frente, por mais difícil que fosse.

"Eu não sei, Gabriel. Eu só não quero que as coisas piorem mais", Alice finalmente disse, a voz cansada, mas sincera. "Eu... não quero perder você, mas também não posso ficar esperando algo que talvez nunca aconteça."

Gabriel a olhou nos olhos, o peso da situação visível em seu rosto. "Eu prometo que não vou te perder, Alice. E, se eu fizer algo errado, você me avisa. Mas, por enquanto, tudo o que eu posso te dar é a minha sinceridade."

Alice deu um último olhar a Gabriel antes de se virar para ir embora. Ela ainda tinha muitas perguntas, muitas dúvidas. Mas, ao menos, havia um pequeno fio de esperança no fundo do seu coração, e isso era tudo o que ela precisava por enquanto.

me ensina a amarOnde histórias criam vida. Descubra agora