16

1 0 0
                                    

Alice estava no banco do parque, perdida em seus pensamentos. O céu, nublado e cinza, refletia o peso de seus sentimentos. Ela ainda não conseguia entender como seguir em frente depois de tudo o que acontecera. Os dias pareciam mais curtos, e a dor, mais intensa. Ela sabia que, no fundo, ainda carregava dentro de si o peso do acidente que havia tirado seus pais, uma dor que jamais desaparecerá.

Ela olhou para a foto deles, que ainda guardava com carinho em sua bolsa. Às vezes, a lembrança dos dois a envolvia de uma forma calorosa, mas outras vezes, só aumentava a angústia.

"Eu nunca vou conseguir deixar isso para trás", pensou ela, sentindo uma pressão no peito. "Será que algum dia eu vou conseguir seguir em frente?"

Foi quando sentiu uma presença ao seu lado. Gabriel. Ele estava de pé, olhando para ela com uma expressão que ela não conseguia decifrar. A tristeza nos olhos dele parecia profunda, como se ele estivesse carregando um fardo que ninguém conhecia.

“Você está bem?”, ele perguntou suavemente, se sentando ao lado dela.

Alice olhou para ele, sem saber o que dizer. Gabriel sempre foi compreensivo, mas ela sentia que ele estava guardando algo. Algo que talvez tivesse a ver com sua própria dor.

“Estou... tentando", respondeu Alice, sem muita convicção.

Gabriel parecia hesitar por um momento, mas então, com um suspiro pesado, falou.

“Eu... também sei o que é perder alguém que amamos. Eu perdi meu pai em um acidente quando era criança.”

Alice olhou para ele, surpresa. Ela sabia da morte do pai dele, mas nunca imaginou que ele falaria sobre isso tão abertamente. Ela o olhou, curiosa, mas sem saber como reagir.

“Eu tinha só 8 anos quando isso aconteceu", continuou Gabriel, a voz um pouco mais baixa. "E, mesmo depois de tanto tempo, eu não consigo me livrar da culpa. Eu sei que não era minha culpa, mas... sempre sinto como se pudesse ter feito algo para evitar."

Alice o ouviu, o coração apertado. A dor que ele sentia transparecia em suas palavras, e ela se perguntou o que realmente estava por trás desse sentimento de culpa que ele carregava.

“Você não tinha controle sobre isso, Gabriel”, disse Alice, com a voz suave, tentando transmitir o consolo que ela sabia que ele precisava ouvir. “Às vezes, as coisas acontecem, e nada do que fazemos pode mudar isso. A culpa não vai nos salvar.”

Gabriel olhou para ela, seus olhos tristes, mas com uma leve expressão de alívio. “Eu sei que você está certa... mas o tempo não apaga essa sensação. Eu sempre me pergunto se poderia ter feito algo, mesmo que não soubesse o que. E, no fundo, acho que esse sentimento nunca vai embora.”

Alice sentiu uma empatia profunda por Gabriel naquele momento, mas também uma estranha sensação de que ele estava escondendo mais. Havia algo na forma como ele falava, como se a culpa que ele sentia fosse muito mais complexa do que ele estava deixando transparecer. Como se houvesse mais camadas naquela história que ele ainda não estava pronto para revelar.

Eles ficaram em silêncio por um tempo, ambos imersos em seus próprios pensamentos. A conexão entre eles parecia mais forte do que nunca, mas também mais tensa, como se o peso de seus passados fosse um segredo compartilhado, mas que ainda não podia ser totalmente entendido.

Finalmente, Alice quebrou o silêncio. “Eu sei como é difícil lidar com a dor, Gabriel. Mas, às vezes, não é sobre esquecer. É sobre aprender a viver com isso.”

Gabriel olhou para ela, o olhar carregado de uma dor que ele sabia que nunca seria completamente curada. “Eu estou tentando aprender, Alice. Mas é difícil.”

me ensina a amarOnde histórias criam vida. Descubra agora