Gabriel
Eu me peguei olhando para o relógio mais uma vez. O ponteiro parecia se mover mais devagar quando estava com Alice. Não que eu tivesse pressa, mas havia algo de ansioso dentro de mim, como se o tempo estivesse sendo uma prisão, e eu, sem saber como agir, estava preso nela.
Estava decidido a tentar, mais uma vez. Tentei entender a cada encontro, a cada olhar, que tipo de barreira ela havia levantado ao redor de si mesma. Eu queria ser o que ela precisava, queria ser alguém que ela pudesse confiar. Mas a distância entre nós parecia aumentar, mesmo quando estávamos tão perto.
Na primeira vez que a vi, no evento da faculdade sobre literatura, a rejeição foi clara, mas não me deixei abalar. Alice não queria um café, não queria conversa. Ela se fechou em uma aura de distância que, ao contrário de me afastar, me fez querer ir mais fundo. Queria entender o que ela escondia por trás daquele olhar distante, como se houvesse uma dor tão profunda lá dentro que ela não queria tocar.
fui até a biblioteca. Vi Alice sentada sozinha, com aquele livro em mãos, concentrada. Ela sempre parecia tão alheia ao mundo ao seu redor, mas quando estava com um livro, parecia se perder de tudo, como se aquele fosse o único lugar onde ela pudesse existir sem as paredes que tinha construído ao redor de si. E foi ali, naquela biblioteca silenciosa, que algo dentro de mim se acendeu.
Me aproximei, devagar, sem fazer barulho. Talvez ela não me ouvisse, talvez ela me ignorasse de novo, mas eu não me importava mais. Algo dentro de mim estava decidido a não desistir.
“Posso te acompanhar, ou você está ocupada demais para uma conversa?” perguntei, meio sem saber o que esperar.
Alice levantou os olhos do livro, e, por um momento, vi algo diferente. Não era apenas o olhar de quem tenta se manter distante. Havia uma curiosidade, talvez uma pequena dúvida, algo que eu nunca tinha visto antes.
Ela fechou o livro lentamente e me olhou. “Você não desiste, né?”
Não sabia o que responder. Eu realmente não sabia, mas algo me dizia que não poderia parar agora. “Não, não desisto.”
Ela deu um suspiro baixo, mas não disse nada. Talvez estivesse tentando decidir se me deixaria entrar no seu mundo, ou se daria o mesmo passo atrás que eu já conhecia. Eu sabia que Alice tinha um peso enorme dentro dela, algo que não cabia em palavras, algo que não podia ser entendido facilmente.
“Por que você insiste?” perguntou ela, com a voz baixa, como se aquela fosse uma pergunta muito difícil de responder. “Eu... não sou alguém fácil de lidar. Não sou boa em... isso”, ela gesticulou entre nós dois, como se não conseguisse explicar o que queria dizer.
Eu me sentei na cadeira ao lado dela, respeitando o espaço, mas ainda perto o suficiente para que ela sentisse minha presença. “Porque eu acho que você merece acreditar no amor, Alice. Eu não sei o que aconteceu no seu passado, mas sei que as coisas boas podem acontecer novamente. Você não precisa se prender ao que já passou.”
Ela ficou em silêncio, e eu podia sentir a luta interna dela, o receio, o medo de se abrir novamente. Mas não havia mais espaço para hesitação dentro de mim. Eu sabia que tinha que tentar, porque, de alguma forma, ela já havia tomado um pedaço de mim. E eu não conseguia simplesmente deixar ir.
“Eu não sei se posso confiar em você”, ela disse finalmente, com um suspiro pesado. “É como se todas as pessoas que eu tentei confiar me decepcionassem...”
Aquelas palavras cortaram algo em mim. Eu queria ser diferente. Eu queria ser alguém que ela pudesse confiar, alguém que não a faria sofrer. E, talvez, eu precisasse aprender que, às vezes, a confiança não vem de promessas, mas de tempo, de compreensão e de respeito pelos limites dela.

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me ensina a amar
RomancePLÁGIO É CRIME? SIM. A violação dos direitos aurorais é CRIME previsto no artigo 184 do Código Penal3, com punição que vai desde o pagamento de multa até a reclusão de quatro anos, dependendo da extensão e da forma como o direito do autor foi violad...