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Alice voltou para casa com a mente a mil. O dia tinha sido intenso, e tudo o que ela queria era um pouco de paz, mas a imagem de Gabriel continuava a ocupar seus pensamentos. Ela tirou o suéter e se jogou no sofá, observando o teto como se as respostas estivessem ali, escondidas nas pequenas manchas de tinta descascada.

Por que ele aparecia justo nos momentos em que ela se sentia mais vulnerável? E como ele parecia saber o que se passava dentro dela, mesmo sem ela dizer nada?

Luísa chegou algum tempo depois, carregando um monte de papéis e falando sobre os compromissos da semana. Mas, ao olhar para o rosto de Alice, sua expressão mudou.

— O que aconteceu? — perguntou, sentando-se ao lado dela no sofá. — Você está com essa cara desde quando?

Alice suspirou, evitando o olhar de Luísa.

— Nada de especial... Só estou cansada, sabe? — respondeu, tentando disfarçar. Mas Luísa a conhecia bem demais para cair nessa.

— Cansada? Sei... Ou isso tem a ver com um certo aluno de Direito? — Luísa levantou uma sobrancelha, esperando que Alice admitisse.

Alice soltou um meio sorriso, como se fosse inútil continuar escondendo.

— Talvez... É só que... eu não sei o que ele vê em mim, sabe? E não tenho ideia do que eu estou fazendo — confessou, apertando o travesseiro em seu colo.

Luísa sorriu de leve e colocou a mão no ombro dela.

— Alice, talvez seja exatamente isso que ele vê em você. Ele vê quem você realmente é, sem as paredes que você ergue o tempo todo. Não precisa entender tudo agora. Só... permita-se sentir.

Depois da conversa com Luísa, Alice decidiu sair para uma caminhada. A noite estava fresca, e o silêncio das ruas a ajudava a organizar um pouco seus pensamentos. Ela precisava de uma pausa, de um momento só dela para tentar entender o que realmente sentia. Caminhou até uma praça próxima, onde poucos lampiões iluminavam as árvores e os bancos vazios.

Sentou-se em um dos bancos e observou o céu. As estrelas estavam tímidas, quase escondidas por detrás das nuvens, mas, de alguma forma, a vista lhe trouxe uma sensação de calma. Alice fechou os olhos por um instante, respirando fundo, tentando afastar toda a ansiedade que parecia crescer dentro dela.

— Também gosta de ficar olhando as estrelas?

Alice abriu os olhos, surpresa com a voz familiar. Gabriel estava ali, parado a alguns passos dela, com aquele sorriso sereno que a desarmava. Ele usava uma jaqueta leve, e a expressão no rosto dele era curiosa, como se não estivesse esperando encontrá-la ali, mas feliz pela coincidência.

— Eu... é, acho que sim. Gosto de como elas parecem distantes, mas ao mesmo tempo fazem tudo parecer mais… pequeno — respondeu, meio sem jeito.

Ele riu baixinho, se aproximando e sentando-se ao lado dela, respeitando um espaço entre eles, como se soubesse que Alice ainda guardava certa distância.

— Às vezes, eu venho aqui para pensar — ele disse. — A faculdade, os estudos, as expectativas… Às vezes parece que tudo está tão pesado que eu preciso de um pouco de silêncio. E acho que as estrelas ajudam nisso.

Alice o olhou de soslaio, surpresa com o quanto ele parecia entender o que ela sentia. Era quase como se ele pudesse ler sua mente, como se as incertezas e pressões que carregava fossem comuns para ele também.

— É estranho... você sempre parece tão tranquilo — confessou, sem conseguir evitar. — Como consegue lidar com tudo? Com a faculdade, as provas… comigo.

Gabriel sorriu e olhou para as mãos.

— Quem disse que eu lido bem? — ele falou, olhando para ela de novo, mas dessa vez com um olhar mais intenso, quase vulnerável. — Só aprendi a não me cobrar tanto. Eu também tenho meus medos e inseguranças. Acho que a diferença é que eu tento viver um dia de cada vez.

Alice sentiu o peso das palavras dele. Nunca imaginou que alguém como Gabriel, que parecia ter tudo sob controle, poderia se sentir tão humano, tão parecido com ela. O silêncio entre eles foi confortável, como se ambos estivessem digerindo aquelas palavras, aprendendo mais um sobre o outro.

Depois de um tempo, Gabriel quebrou o silêncio:

— Eu sei que às vezes é difícil confiar nos outros, mas... eu realmente gosto de estar perto de você, Alice. Gosto de como você é de verdade, mesmo que seja difícil de entender o que você pensa.

Alice ficou em silêncio, sem saber o que responder. Uma parte dela queria dizer que sentia o mesmo, mas o medo de se abrir ainda era grande demais.

— Eu não sou tão interessante quanto você acha — disse, desviando o olhar para as estrelas.

— Eu discordo — ele respondeu com um sorriso leve. — E acho que você também.

Ele olhou para ela com uma intensidade suave, e naquele momento Alice sentiu como se todas as suas dúvidas e medos tivessem desaparecido. Ela não sabia o que o futuro reservava, mas sabia que, talvez, permitir-se sentir seria o primeiro passo para entender quem ela realmente era.

E, pela primeira vez em muito tempo, Alice sentiu que talvez, apenas talvez, pudesse se abrir para alguém de verdade.

me ensina a amarOnde histórias criam vida. Descubra agora