Yoko (17)

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Desde pequena eu sempre acreditei na bondade das pessoas, eu sempre acreditei que tudo era possível no final das contas e que a bondade se manifestava diferente em cada um, as vezes poderia ser como uma estrela que brilha resplandecendo em tudo ou como uma simples flor que vai desabrochado aos poucos até se mostrar linda a todos.

Talvez a Faye fosse como a flor, talvez ela fosse uma flor tentando desabrochar no meio de espinhos que podem ser o seu passado, eu sei que no fundo bem lá no fundo pode ser diferente, e hoje ela provou isso, provou que talvez ela não seja quem ela quer que eu pense que ela é.

— Então filha, como você está? — Minha mãe estava um pouco mais magra e com algumas olheiras, seu rosto cansado não negava as noites em claro.

— Estou bem mãe, não esta sendo tão ruim quanto eu pensava.

— Não mesmo? — Meu pai arqueou a sobrancelha — E essas marcas? — Disse apontando para o meu braço.

— Não foi nada demais, foi a primeira vez que aconteceu.

— Você já tomou remédio? — Minha mãe disse analisando meu corpo.

— A Faye levou lá na escola pra mim – Disse lembrando da cena pela manhã.

— Deve ter pesado a consciência — Meu pai resmungou do lado.

— Pai lembra que todo mundo tem algo de bom?

— Sim, desculpa meu bebê.

— Ela já tentou algo com você? — Minha mãe disse desviando o olhar do meu pai para mim — Você sabe o que eu quero dizer.

Esse era o momento de atuar com a minha nova versão que eu odiava, mentir, mentir e mentir, isso nunca foi uma tarefa fácil quando se jura dizer somente a verdade e nada além da verdade, então fazer o que né, a vida nem sempre te dar as melhores escolhas, dizer a verdade era a escolha certa, mas não para aquele momento.

— Ela disse que quer esperar o momento certo.

Depois disso a conversa rolou normalmente para outros assuntos até que eles tiveram que ir embora e eu ficar novamente ali naquela mansão sozinha, lembrei de todos os meus sonhos de criança, sonhos de adolescência e de tudo o que andou acontecendo nos últimos dias, então tomei uma decisão que eu esperava não esta errada.

— Irina — Saí a procura da mulher dentro de casa até quando encontrei ela dentro da cozinha — Preciso da sua ajuda.

— Se não for pra matar, tudo bem — Ela disse séria — Estou brincando boba, diz ai.

......


Oito e meia da noite e eu estava no sofá da sala esperando por Faye, segundo os meus cálculos já era pra ela ter chego, eu até liguei para a empresa só que lá ninguém atendia, eu já estava começando a perder as esperanças então fui até a sala de música, sim, ali tinha uma sala de música com um piano lindo no meio.

Sentei e fiquei brincando com algumas teclas, eu sabia tocar só que fazia muito tempo que eu não tocava então resolvi arriscar algumas notas, até que saiu uma tímida melodia, fechei os olhos e continuei ali, senti um rosto se aproximar do meu ombro e repousar nele, nem precisei abrir os olhos para sabe que era ela.

— Não sabia que você tocava piano — Ela disse sentando ao meu lado.

Seu cheiro estava estranho, sua roupa um pouco amassada e eu até jurava que ela havia bebido, só que não estava com um cheiro muito forte de álcool, o blazer estava jogado no ombro esquerdo e o cabelo cobrindo o seu ombro direito, afastei todas as suposições possíveis.

— Jura? Achei que você tivesse pesquisado tudo sobre mim.


— Eu sei, só queria parecer normal — Ela sorriu me fazendo sorrir também.

— Tudo bem Faye, o que você acha que tomar banho e trocar de roupa? Eu fiz uma coisa pra você.

— Eita que hoje tem né? — Ela falou já me agarrando.

Levantei num pulo — Tem nada não, agora vá lá tomar seu banho .

— Sério? — Ela fez biquinho e uma carinha fofa que dava vontade de apertar.

— Sério — Dei um selinho no biquinho dela e saí para a cozinha.

Nem eu mesmo acreditei que fiz aquilo, e foi tão normal que eu nem lembrei que não temos uma relação normal, nós nem temos uma relação.

Depois de um tempo fui até o quarto ver se ela já havia terminado o banho e como de costume fui logo abrindo a porta, ela estava apenas de calça moletom e um top preto, na costa haviam algumas marcas de unhas e no pescoço dois chupão que eu não vi antes por causa do blazer, fingir não me importar no momento mas por dentro eu sentir algo diferente.

Eu estava querendo gritar, bater e perguntar por que raios ela estava desse jeito, porém eu sabia muito bem agora o motivo da sua demora, com certeza ela estava com alguma outra mulher por ai, apenas disse que estava esperando por ela perto da piscina e saí do quarto segurando o choro, eu não iria chorar afinal ela não era minha e eu não a amava, ela me odeia, e eu não a amo.


Não demorou muito para que ela chegasse e ficasse surpresa, eu havia preparado um jantar para nós duas à beira da piscina que estava com as luzes azuis ligadas, um bom vinho e algumas velas pra dar um ar mais aconchegante ao momento.

— Não estou entendendo? — Ela disse estranhando tudo aquilo, afinal nós não tínhamos uma relação.

—  Eu só queria agradecer por ter sido gentil comigo hoje, eu estava com dor e você levou os remédios e depois convidou meus pais para almoçar aqui — Falei tentando soar a mais calma possível porque na verdade eu queria enforcar aquela mulher na minha frente.

— Nossa — Ela falou puxando uma das cadeiras para mim totalmente surpresa — Não precisava tudo isso Yoko.

—  Está tudo bem, você deve ter tido um dia cheio hoje, não é mesmo?

Ela ficou sem jeito e sentou também falando das reuniões e tudo mais, só que eu sabia que não existia reunião alguma e que ela havia ido para a cama com outra, depois do jantar fui para a cama sem falar nada, ela percebeu minha mudança de humor e eu falei apenas que estava com dor de cabeça, eu sinceramente esperava que amanhã fosse um dia melhor, e assim dormi sentindo um pequeno carinho nos meus cabelos e um corpo se juntando ao meu.

Possessiva (FayeYoko)Onde histórias criam vida. Descubra agora