8 - Prenha

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ROBERTA CHANG

GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA

Ao tentar entrar, duas mãos enormes chegam por trás de mim e cobrem meus olhos. Uma voz familiar sussurra no meu ouvido:

– Adivinhe quem é?

Viro, no meio da multidão. Viver com alguém, especialmente durante a faculdade, cria um laço que nasceu de experiências compartilhadas e memórias preciosas.

– Daniel!

Daniel Walker é um homem do tamanho de um mamute. Ele e Arnold Schwarzenegger poderiam ser irmãos. Mas não se engane.
Ele é como uma daquelas balas de caramelo: são duras por fora, macias e grudentas por dentro. Parece um ursinho carinhoso.

Ele é carinhoso. Generoso. Compassivo.

No nosso primeiro ano da faculdade, um rato decidiu se mudar para nossa arruinada casa. Todos votamos para matá-lo, exceto o Daniel. Ele construiu uma armadilha com barbante, papelão e graveto, que teria deixado Os Batutinhas orgulhosos. Na verdade, ele conseguiu pegar o safadinho. Ficamos com ele.
Colocamos-o numa gaiola, como se fosse uma mascote. Nós o chamávamos de Bud por causa da nossa cerveja favorita.

Daniel me puxa para dar um abraço de urso, me levanta e me gira. Em seguida, me coloca no chão e beija minha bochecha.

– É tão bom te ver, Nini. Você está linda!

Estou sorrindo tanto que meu rosto começa a doer.

– Obrigada, Daniel. Você também. Não mudou nadinha. Como está indo tudo?

– Não posso reclamar de nada. As coisas andam bem, apesar de ocupadas. Ainda estou fazendo entrevistas em hospitais.

Daniel é anestesiologista. Quando é possível, ele e a Bob trabalham juntos. Como eu e a Lisa.

Ele continua.

– Mas a clínica da Bobbie está expandindo, então sou o entregador, por enquanto – ele levanta uma sacola de comida chinesa.

Quando o cheiro alcança meu estômago, ele se revira, me deixando ciente de que não está gostando. Engulo a saliva.

Ele coloca seu braço pesado nos meus ombros e conversamos durante alguns minutos. Sobre a mudança, sobre Deloris e sobre Billy. Conto sobre Lisa e como gostaria que nós quatro saíssemos para jantar.

E, então, escuto um chiado alto de pneus de borracha.

Nos viramos e observamos as lanternas traseiras de um carro em alta velocidade desaparecerem do estacionamento.

Franzi as sobrancelhas. Carro familiar.

Daniel mexe a cabeça.

– E eu pensava que os motoristas da Filadélfia é que eram ruins.

Rio.

– Ah, não, nova-iorquinos ganham na má direção. E são os fãs de beisebol mais loucos. Não use sua jaqueta do Phillies aqui, pode terminar em tragédia.

Daniel ri e seguimos até o prédio.

(...)

Bom, agora é oficial.

A vida como conhecia terminou.

Estou grávida. Prenha. O pão está no forno e o danado já está cozinhando. Não fiquei surpresa. Só esperava estar errada.

De acordo com Bobbie, meus antibióticos são os culpados. Eles reduziram a eficácia dos anticoncepcionais.

Então, entende agora o que disse sobre as bulas? Leia-as.

Atraída 2 (JenLisa)Onde histórias criam vida. Descubra agora