12 - Febre

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Sabe quando está com febre? Aí você fica deitado na cama, e vira e remexe os lençóis em volta das suas pernas? Você não está
realmente dormindo, mas também não está acordado. Tem alguns momentos em que está consciente, quando abre os olhos e
percebe, meio desorientado, que está escuro lá fora. Mas, na maior parte do tempo, tudo é apenas um borrão nebuloso.
Foi assim que os próximos dois dias passaram para mim. Uma montagem de luz solar e luar, de lágrimas e vômitos e bandejas de comida sendo tiradas sem terem sido tocadas.

Os momentos naquele espaço entre insônia e letargia foram os piores. Quando comecei a acreditar que tudo aquilo eram apenas
alguns pesadelos horríveis, invocados por tanto assistir a reprises de Barrados no Baile. Sentia um travesseiro nas minhas costas e jurava que era a Lisa atrás de mim. Ela me acorda do melhor jeito, é nossa tradiçãozinha. Toda manhã, ela se aperta atrás de mim e sussurra em meu ouvido, me venerando com suas palavras e mãos.

No entanto, depois abria os olhos e via que o travesseiro era apenas um travesseiro. E parecia que, a cada nova casca formada
que era arrancada, eu sangrava um pouco mais. Não existem palavras para descrever o quanto sinto falta dela. Nenhuma que poderia chegar próximo.

Eu sofria ao me lembrar de seu sorriso, seu cheiro, sua voz. Imagine que um carro está andando a noventa quilômetros por hora em uma rodovia do interior e uma árvore cai e bate nele. Bum – parada instantânea. Mas, se a pessoa que está no carro não
estiver usando o cinto de segurança? Ela continua a noventa. E é assim que é o amor.
Não para. Não importa o quão machucado ou errado ou nervoso você esteja, o amor ainda está lá.

Te jogando pelo para-brisa.

Na noite do segundo dia, abro os olhos e olho pela janela. Está garoando. Isso se ajusta com a nuvem negra sobre a minha cabeça e tudo mais. Daí, escuto a porta do quarto se abrir. Viro para o lado.

– Mãe, você poderia…

Só que não é minha mãe quem está parada lá. Fico quieta, um pouco surpresa.

– Ah, oi, George.

Você se lembra de George Reinhart, né? O pai viúvo da Jisoo?

Ele e minha mãe estão juntos. Eles se conheceram no casamento do Matthew e da Deloris. Não se preocupe, também tentei esquecer essa parte. Mas eles têm ficado mais sérios de um ano pra cá. Apesar dos
grandes esforços do George, minha mãe não quer se mudar para Nova York. Ela fala que Greenville é seu lar, que gosta de sua
independência. Por isso, George vem pra cá frequentemente para visitá-la, às vezes durante semanas. E minha mãe faz o mesmo quando pode.

George é um bom homem. Ele é parecido com o James Stewart, em A felicidade não se compra, um pouco estúpido, claro, mas
decente. O tipo de homem que você gostaria que cuidasse da sua mãe.

Seus óculos estão um pouco tortos em seu rosto, enquanto segura a bandeja.

– Sua mãe está atolada lá embaixo, mas ela achou que você gostaria de um pouco de chá.

– Adoraria um pouco de chá. Obrigada.

Ele coloca a bandeja no meu criado-mudo e me dá uma xícara quente. Em seguida, seca as mãos na calça, um pouco nervoso.

– Posso me sentar?

Dou um gole e aceno. George cai no pufe ao lado da minha cama. Ele arruma os óculos e se mexe para se ajeitar. Quase sorrio. Ele me olha por alguns segundos, tentando encontrar um jeito de começar. Eu lhe poupo o trabalho.

– Minha mãe te contou, né?

Ele acena, sério.

– Não fique brava com ela. Ela está preocupada, Jen. Ela precisava desabafar. Nunca espalharia suas informações pessoais para outras pessoas – ele tamborila a cabeça com um dedo. – Está guardado a sete chaves.

Atraída 2 (JenLisa)Onde histórias criam vida. Descubra agora